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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Histórias da Casa Branca: O estreito caminho da recuperação
Texto publicado no site de A Bola/Outros Mundos, na rubrica «Histórias da Casa Branca»:
O estreito caminho da recuperação
Por Germano Almeida
Será possível voltarmos a ver Obama com níveis de popularidade equivalentes aos que tinha após a eleição? Possível é, mas o caminho, admitamos, é muito estreito.
O Presidente dos EUA completou o seu primeiro ano de administração com valores de aprovação preocupantes, muito por culpa da situação económica e, mais recentemente, da perda da supermaioria democrata no Senado, que inviabilizará a versão aprovada na véspera de Natal para a Reforma da Saúde.
O discurso do Estado da União apontou uma viragem ao centro, num claro gesto de Obama no sentido de refazer pontes políticas. Barack, o candidato da «reconciliação» na campanha presidencial de 2008, ainda não baixou os braços na sua luta pela suavização do ambiente político na América.
O problema é que o primeiro ano da era Obama pode ter provado que essa «reconciliação» é virtualmente impossível de se concretizar. O Partido Republicano costuma ser muito mais feroz do que o Partido Democrata quando está na oposição – e perante uma agenda transformadora como a que Obama se propôs realizar na conquista da Casa Branca, a tensão é inevitável.
Jimmy Carter e Bill Clinton, os dois Presidentes democratas que antecederam Obama, já o haviam sentido na pele: na hora de tocar a rebate, os conservadores mostram maior capacidade de união do que os democratas.
Clinton, que nunca obteve maioria absoluta nas duas eleições presidenciais que ganhou, foi um Presidente em constante luta contra um Congresso que lhe era hostil e que o via como um intruso num ambiente predominantemente conservador em Washington.
Em contraste, Ronald Reagan, apesar do seu discurso altamente crítico do «peso do Governo», contou com fortes apoios de sectores democratas (muitos se lembrarão dos «ReaganDemocrats»).
Quase três décadas depois dos anos Reagan, Obama chegou a acreditar que iria conseguir repetir esse «consenso alargado», mas desta vez com o eixo deslocado à esquerda, quando, durante a campanha presidencial, atraiu os Obamacans – republicanos desiludidos com a herança Bush que votaram em Barack, mas que em poucos meses o deixaram de apoiar.
Pontes curtas para margens tão largas
Num sistema bipartidário como o americano, seria natural que os dois pólos comportassem uma grande diversidade interna. De facto, tanto democratas como republicanos acolhem diferentes sensibilidades políticas e ideológicas. Mas, nas questões essenciais, o Partido Republicano é muito mais homogéneo.
O Partido Democrata acolhe minorias muito heterogéneas – e o perfil dos seus militantes tende a ser mais indisciplinado. O travão dos 'Blue Dogs' no conturbado processo legislativo do ObamaCare é a maior prova disso.
O que move um republicano costuma ser mais fácil de congregar: a aversão pelo Estado enquanto eventual intruso da liberdade de empreendimento; o orgulho por «ser americano»; a inclusão de «Deus» no ideário político ('in God we trust'); e família, família, família.
É daqui que parte uma boa parcela dos problemas com que Obama se tem confrontado. A agenda do Presidente implica grandes intervenções do poder federal – e nem a enorme vitória que obteve a 4 de Novembro de 2008 alterou esta realidade: cerca de metade dos americanos não querem que o Estado se intrometa na sua vida.
A «mudança» que Obama prometeu ser possível tem um caminho estreito – e pode demorar anos. Pouca gente quis ouvir essa parte, mas não é nada que Barack não tenha avisado.»
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