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sexta-feira, 2 de julho de 2010
Histórias da Casa Branca: A incrível queda do general McChrystal
A incrível queda do general McChrystal
Por Germano Almeida
«Até há poucos dias, Stanley McChrystal era um dos generais mais respeitados do Exército americano. Mas isso era até há poucos dias: a queda do agora ex-comandante das tropas norte-americanas e das forças da NATO no Afeganistão é um dos casos mais inacreditáveis da história recente da política americana.
Stanley McChrystal, 55 anos, general de quatro estrelas formado em West Point, membro de uma distinta família de altas patentes do Exército americano, foi o escolhido pelo Presidente Obama para que os EUA recuperassem o controlo da situação no AfPak.
Há precisamente um ano, em Junho passado, McChrystal substituiu o general David McKiernan num dos postos mais delicados do complexo militar norte-americano, atendendo às dificuldades que, mês após mês, os EUA sentiam para travar os avanços dos taliban.
Mesmo sendo conotado com uma sensibilidade ideológica bem mais à direita de Barack Obama, McChrystal mereceu a confiança do Presidente para pôr um travão num cenário que começava a parecer de desastre para os EUA, no mais difícil teatro de operações entre os cenários de conflito em que as tropas americanas estão envolvidas.
Militar de topo, com um registo respeitado mesmo por quem se lhe opunha dentro do Exército americano, McChrystal estava a conseguir repor alguma dignidade na dificílima missão dos EUA em solo afegão.
A entrevista
Chegou a ser rotulado de «general indispensável», sobretudo depois da forma como conseguiu influenciar Obama a decretar um reforço de 30 mil homens no contingente norte-americano para o Afeganistão.
A sua insistência na tese de «contra-insurreição», táctica em relação à qual é um dos maiores especialistas norte-americanos, levou a melhor, no conflito de visões que Obama teve que gerir, antes dessa difícil decisão tomada em Dezembro passado (talvez a escolha mais dolorosa que Barack teve que fazer desde que é Presidente).
A «nova estratégia para o Afeganistão» encetada por Obama, há meio ano, teve um grande vencedor, Stanley McChrystal, e um enorme perdedor: o vice-presidente Joe Biden.
O número dois de Obama defendia a tese da «contraterrorismo», uma visão mais «política» e menos valorizada nos meios militares.
A dimensão desta fricção entre o «poder de Washington» (corporizada em Biden) e os métodos das altas patentes do Exército (simbolizados por McChrystal) só agora veio, verdadeiramente, à tona.
Na polémica reportagem publicada na revista «Rolling Stone», em que McChrystal é apresentado como o «runaway general», Joe Biden é desprezado, ao ser referido de forma pejorativa por McChrystal, em citação dirigida aos seus colaboradores: «Quem é esse?»
Nesse artigo de fundo, feito durante os dias de impasse provocados pela nuvem de cinzas do vulcão islandês, o jornalista Michael Hastings teve acesso privilegiado a Stanley McChrystal. Citou frases dele, contou conversas do general com os seus colaboradores. Nada do que foi publicado foi, sequer, posto em causa pelo então comandante das tropas da NATO no Afeganistão – nem mesmo depois de a polémica estalar.
Além de Biden, são visados Richard Holbrooke, o enviado-especial do Presidente Obama para o Afeganistão e Paquistão (experiente diplomata e político muito ligado aos anos Clinton), o general Jim Jones (conselheiro de Segurança Nacional da Administração Obama e que é rotulado, de forma inacreditável, como «esse palhaço») e, ainda, o embaixador dos EUA em Cabul, Karl Eikenberry, um antigo militar.
A demissão
Perante estes factos, que mesmo depois de tanto escândalo e espalhafato continuam a soar estranhos, atendendo às credenciais de McChrystal como general experimentado, Barack Obama não tinha outra alternativa: aceitou de imediato o pedido de demissão do general e exonerou McChrystal das elevadas funções que desempenhava em Cabul.
Nos EUA, a relação entre o poder político e o poder militar é muito importante. Independentemente da cor política de quem, momentaneamente, domina a Casa Branca, há um princípio quase sagrado, que se revela fundamental para que essa relação (tendencialmente delicada) possa funcionar: o Presidente mostra uma «enorme confiança e orgulho» naquilo que o Exército faz pela América nos diversos palcos de conflito no Mundo; em troca, as chefias militares demonstram uma «total dedicação em servir o Presidente».
Mesmo que, por vezes, estas intenções pareçam apenas retóricas, a verdade é que elas se mostram muito significativas no imaginário americano. Quando elas são postas em causa, como sucedeu neste «caso McChrystal», não há outra saída: o poder do Presidente tem que prevalecer.
Pode parecer estranho, se olharmos para as características do general McChrystal. Mas, nesta história, a todos os títulos imprevista, ele era, claramente, o elo mais fraco.
Tendo Biden sido tão directamente visado, Barack teria sempre que escolher o lado do seu número dois. Caso contrário, era a própria Presidência Obama que passaria a estar vulnerável.
O sucessor
Mais uma vez, Barack Obama conseguiu manter o sangue frio numa situação de risco – e acabou por sair com a sua autoridade reforçada, no meio deste episódio simplesmente lamentável.
De forma pronta, e sem hesitações, Obama nomeou David Petraeus, 57 anos, como sucessor de McChrystal e deixou claro que, apesar desta mudança de generais, a estratégia gizada em Dezembro para o AfPak é para manter.
Petraeus é o general mais respeitado do Exército americano. Comandava o CentCom (posto alargado que coordena as operações no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão), talvez a função mais elevada da elite militar norte-americana, nos dias que correm.
Apesar de conotado com os republicanos, David Petraeus tem mantido enorme sintonia e lealdade para com o Presidente Obama. Ao aceitar a chamada de Barack, em momento tão delicado como este, e mesmo que a mudança implique uma despromoção momentânea para o «terreno», David Petraeus volta a provar que é, ele sim, o general indispensável.»
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