Na guerra, a primeira vítima é a verdade
Ésquilo, dramaturgo da Grécia Antiga
Putin diz que apoia as investigações, mas essas palavras devem ser correspondidas com atos
O fardo está agora do lado da Rússia: são eles que têm que travar os separatistas de esconderem provas
Ainda acredito numa solução negociada para o problema ucraniano, mas se a Rússia não mudar a sua estratégia, as sanções terão que continuar e podem ser aprofundadas
BARACK OBAMA, Presidente dos EUA
No mínimo, a tragédia do abate do voo MH17 da Malaysian Airlines vai mudar o tom da crise ucraniana. No máximo, a data de 17 de julho de 2014 será mais recordada do que, por esta altura, temos ideia.
Vamos por partes.
Quatro dias depois da queda do Boeing 777 da Malaysian Airlines em solo ucraniano, mantêm-se as dúvidas sobre o essencial: quem e porquê realizou tão inacreditável atentado?
Mas as suspeitas de que terá sido um erro (e que quem disparou foram forças separatistas russos) são tão grandes que as ondas de choque políticas, diplomáticas e militares já se fizeram sentir.
O desaparecimento dos corpos do local da queda (colocado nu «comboio da morte») está documentado em fotos e foi confirmado no terreno por observadores da OSCE.
A máxima de Ésquilo, acima citada, tem sido particularmente poderosa nesta crise. As «rasantes» à verdade têm sido tantas que, quatro dias depois da tragédia, começa a ser difícil acreditar que a «verdade toda» seja mesmo apurada, um dia.
Vladimir Putin tem tentado minimizar danos políticos e de imagem.
Numa altura em que a Austrália, fortemente afetada com a tragédia, até já equaciona tentar banir a presença do presidente russo na próxima cimeira do G20, Putin tem rejeitado sempre qualquer responsabilidade do Kremlin e, num vídeo libertado para os media internacionais, até fez questão de mostrar que iniciou reunião com os seus conselheiros com «um minuto de silêncio em memória das vítimas», precedido de declaração em que se solidariza com as famílias das vítimas e com os governos dos países afetados diretamente pela tragédia.
Mas o «contorno» russo não se fica por aqui. O ministro da Defesa de Moscovo lançou, nas últimas horas, nova «pista»: a de que um avião de guerra ucraniano esteve perto da rota do MH17, nessa fatídica tarde de 17 de julho, ao mesmo tempo que garantia que os radares russos não deteraram «qualquer míssil terra-ar».
A «contra-informação» parece clara, depois das autoridades norte-americanas terem já sido perentórias na acusação de que o avião foi mesmo abatido «por um míssil terra-ar».
Todo o argumentário usado pelos líderes políticos americanos nos últimos dias (Obama, Kerry, até a ex-secretátia de Estado e provável candidata presidencial, Hillary Clinton) assenta na firme convicção de que só os separatistas russos podem ter cometido aquele erro trágico, uma vez que o míssil que provavelmente abateu o avião, um «Buk» é fabrico russo.
Em declaração prestada na Casa Branca, esta segunda-feira, Obama foi mais longe e questionou: «O que esconderão os separatistas russos». O Presidente norte-americano coloca do lado russo o «fardo de travar a ocultação de provas», reforçando que «as famílias das vítimas merecem conhecer a verdade».
Perante posições tão diferentes, entre Washington e Moscovo, o mais provável é que, nos próximos dias, a crise ucraniana seja agravada depois depois da tragédia da queda do MH17.
Por coincidência, horas antes da queda do avião, a via das sanções económicas contra a Rússia havia sido agravada por Washington. Só a Gazprom tinha sido, por enquanto, poupada.
Mas a Administração Obama já lançou o «conselho» aos «amigos» europeus: convém começar a encontrar alternativas ao gás russo.
O sinal não poderia ser mais esclarecedor.
Ésquilo, dramaturgo da Grécia Antiga
Putin diz que apoia as investigações, mas essas palavras devem ser correspondidas com atos
O fardo está agora do lado da Rússia: são eles que têm que travar os separatistas de esconderem provas
Ainda acredito numa solução negociada para o problema ucraniano, mas se a Rússia não mudar a sua estratégia, as sanções terão que continuar e podem ser aprofundadas
BARACK OBAMA, Presidente dos EUA
No mínimo, a tragédia do abate do voo MH17 da Malaysian Airlines vai mudar o tom da crise ucraniana. No máximo, a data de 17 de julho de 2014 será mais recordada do que, por esta altura, temos ideia.
Vamos por partes.
Quatro dias depois da queda do Boeing 777 da Malaysian Airlines em solo ucraniano, mantêm-se as dúvidas sobre o essencial: quem e porquê realizou tão inacreditável atentado?
Mas as suspeitas de que terá sido um erro (e que quem disparou foram forças separatistas russos) são tão grandes que as ondas de choque políticas, diplomáticas e militares já se fizeram sentir.
O desaparecimento dos corpos do local da queda (colocado nu «comboio da morte») está documentado em fotos e foi confirmado no terreno por observadores da OSCE.
A máxima de Ésquilo, acima citada, tem sido particularmente poderosa nesta crise. As «rasantes» à verdade têm sido tantas que, quatro dias depois da tragédia, começa a ser difícil acreditar que a «verdade toda» seja mesmo apurada, um dia.
Vladimir Putin tem tentado minimizar danos políticos e de imagem.
Numa altura em que a Austrália, fortemente afetada com a tragédia, até já equaciona tentar banir a presença do presidente russo na próxima cimeira do G20, Putin tem rejeitado sempre qualquer responsabilidade do Kremlin e, num vídeo libertado para os media internacionais, até fez questão de mostrar que iniciou reunião com os seus conselheiros com «um minuto de silêncio em memória das vítimas», precedido de declaração em que se solidariza com as famílias das vítimas e com os governos dos países afetados diretamente pela tragédia.
Mas o «contorno» russo não se fica por aqui. O ministro da Defesa de Moscovo lançou, nas últimas horas, nova «pista»: a de que um avião de guerra ucraniano esteve perto da rota do MH17, nessa fatídica tarde de 17 de julho, ao mesmo tempo que garantia que os radares russos não deteraram «qualquer míssil terra-ar».
A «contra-informação» parece clara, depois das autoridades norte-americanas terem já sido perentórias na acusação de que o avião foi mesmo abatido «por um míssil terra-ar».
Todo o argumentário usado pelos líderes políticos americanos nos últimos dias (Obama, Kerry, até a ex-secretátia de Estado e provável candidata presidencial, Hillary Clinton) assenta na firme convicção de que só os separatistas russos podem ter cometido aquele erro trágico, uma vez que o míssil que provavelmente abateu o avião, um «Buk» é fabrico russo.
Em declaração prestada na Casa Branca, esta segunda-feira, Obama foi mais longe e questionou: «O que esconderão os separatistas russos». O Presidente norte-americano coloca do lado russo o «fardo de travar a ocultação de provas», reforçando que «as famílias das vítimas merecem conhecer a verdade».
Perante posições tão diferentes, entre Washington e Moscovo, o mais provável é que, nos próximos dias, a crise ucraniana seja agravada depois depois da tragédia da queda do MH17.
Por coincidência, horas antes da queda do avião, a via das sanções económicas contra a Rússia havia sido agravada por Washington. Só a Gazprom tinha sido, por enquanto, poupada.
Mas a Administração Obama já lançou o «conselho» aos «amigos» europeus: convém começar a encontrar alternativas ao gás russo.
O sinal não poderia ser mais esclarecedor.
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