TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 22 DE SETEMBRO DE 2014:
Há um cartoon de Nick Anderson, publicado no passado dia 18 no «Real Clear Politics» que mostra Obama a exortar o seu «mantra» de não colocar tropas no terreno («No boots on the ground!»), em equilíbrio instável, evitando a todo o custo pisar os pés no chão.
A analogia faz cada vez mais sentido, analisando os últimos dias da luta pela «degradação, eliminação e destruição» do Estado Islâmico.
A coligação internacional que os Estados Unidos se dispuseram a liderar tem cada vez mais apoios e o mais enérgico de todos eles foi o da França, que ensaiou ataques aéreos a zonas controladas pelo EI.
Mas à medida que as ações no terreno aumentam de intensidade, parece também ganhar força a ideia de que haverá um ponto em que será mesmo necessário abdicar do tal princípio de Obama de «no boots on the ground».
O general Martin Dempsey, «joint chiefs of staff» do exército americano, é da opinião que só se conseguirá vencer a batalha contra os radicais sunitas com o envio de tropas americanas para o terreno.
O próprio David Cameron, PM britânico, deu sinais de equacionar uma solução que exija a colocação de homens no terreno.
Mas esta primeira fase tem, para já, um plano de agravamento dos bombardeamentos aéreos que travem e degradem o território dominado pelo Estado Islâmico (que entre zonas do Iraque e da Síria, terá já uma área equivalente à do Reino Unido), enquanto a tal «coligação internacional» vai ganhando consistência e alargando aliados na região.
Bombardeamentos americanos (e pontualmente franceses e britânicos), com a ajuda de combates no terreno dos iraquianos, dos curdos e dos sunitas moderados sírios anti-Assad?
Samantha Power, embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, explica, em entrevista a Chuck Todd no «Meet the Press» na NBC: «Não temos tido problemas em envolver outros países nesta coligação. A nossa estratégia assenta no esforço dos combatentes curdos e iraquianos no terreno, com os iraquianos a liderar. São eles que saberão como recuperar o território perdido para o Estado Islâmico. E o mesmo sucederá na Síria. Como é sabido, a nossa posição é a de apoiar a oposição moderada, profissionalizando essas forças. É essa a estratégia: usarmos as nossas capacidades únicas, aliadas às capacidades específicas de quem está no terreno».
Para o terreno, por enquanto, a América de Obama só permite o envio de «especialistas militares» que instruam os combatentes locais. A embaixadora Power, que destacou o «apoio maciço» que o plano do Presidente teve nas duas câmaras do Congresso, desenvolve: «É do interesse da segurança americana travar e destruir o EI. No caso da oposição moderada síria, é preciso ver que estamos a instruir quem tem estado a combater o regime de Assad. E é preciso dizer que o Free Syrian Army e outras forças rebeldes moderadas sírias têm estado a combater o Estado Islâmico desde dezembro passado».
Mas chegará esta junção para «destruir o Estado Islâmico», mesmo que num período de tempo de dois ou três anos? James Carville, estratega democrata, é mais pragmático: «Alguém acredita que daqui a 13 anos já não estaremos a combater fundamentalistas islâmicos»?
A ambiguidade da Turquia (que apesar de ser interessada direta no travar do Estado Islâmico, que domina zonas próximas das suas fronteiras), é outra prova da dificuldade desta empreitada. Mesmo tendo enorme base militar americana no seu território, os turcos recusam-se a aderir à coligação, temendo represálias diretas do EI em zonas fronteiriças.
George Will, na Fox News, acusa: «Há um toque de irrealismo na forma como se fala dos rebeles sírios. Creio que o general Dempsey quis dizer que, se for preciso, enviamos tropas para o terreno. O que não faremos é a Doutrina Powell. Colin Powell defendia que se vamos para algum lado, devemos usar a força toda».
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