sábado, 26 de dezembro de 2009

Nancy Pelosy, 'madam speaker'


Texto publicado no passado dia 21 de Dezembro, no «Histórias da Casa Branca», site de A Bola, secção Outros Mundos, sobre a speaker da Câmara dos Representantes:

Nancy Pelosi, "madam speaker"

Por Germano Almeida

Há um elo fundamental para que a corrente entre a Casa Branca de Barack Obama e o Congresso possa funcionar – e batalhas como a da Saúde mostram que nem sempre tem funcionado da melhor forma. Esse elo chama-se Nancy Pelosi, a poderosa 'speaker' da Câmara dos Representantes.

Nancy Patricia D'Alesandro Pelosi, 69 anos, é a primeira mulher a liderar a House (a câmara baixa), um marco histórico que até George W. Bush (que ainda era Presidente quando Nancy atingiu o posto) destacou durante largos minutos em discurso no Congresso. É, também, a primeira italo-americana e a primeira congressista eleita pelo estado da Califórnia a assumir o posto de speaker.

Filha de um antigo congressista do Maryland, Thomas D'Alesandro, Nancy cresceu numa família com fortes ligações ao Partido Democrata. Além de ter servido no Congresso, o pai de Nancy foi também mayor de Baltimore, tal como o filho, Thomas D'Alesandro III, irmão da actual 'speaker'.

É católica (religião minoritária no meio predominantemente protestante da política americana) e está casada, há 46 anos, com Paul Pelosi. Têm cinco filhos: Nancy Corrine, Christine, Jacqueline, Paul e Alexandra.

A vocação política, que está nos genes de Nancy, levou-a a entrar no Congresso há mais de duas décadas, em 1987. Quinze anos depois, tomou a liderança da bancada democrata, sucedendo a Dick Gephardt, que abandonou o cargo para preparar a sua (mal sucedida...) candidatura presidencial nas primárias de 2004.

Depois de ter liderado a então minoria democrata durante quatro anos, na primeira parte dos anos Bush, a vitória do Partido Democrata nas intercalares de 2006 levou Pelosi a ser escolhida para comandar a Câmara dos Representantes.

Jogo de equilíbrios
Dois anos depois, quando Barack Obama conquistou a Casa Branca, os democratas passaram a beneficiar de um «pleno» de que há muito não dispunham: controlam, desde aí, a Presidência, o Senado e a Câmara dos Representantes.

A somar a este cenário aparentemente tão favorável para o Partido Democrata, falta dizer que, poucos meses depois da eleição de Obama, foi atingido o mítico número de 60 senadores – o limiar que impede um 'filibuster' (minoria de bloqueio) republicano.

É que apesar de terem perdido o influente senador Joe Lieberman, do Connecticut (que passou para a coluna dos independentes), os democratas conquistaram o apoio do senador Arlen Spector, da Pensilvânia, que trocou de partido, abandonando os republicanos, na sequência do apoio que deu ao 'stimulus package' preparado pela Administração Obama para responder à crise económica, aprovado no Senado.

À primeira vista, parecia o cenário político ideal para que a Administração Obama pudesse jogar os seus trunfos com relativa tranquilidade. Mas é sabido que as coisas estão longe de ser assim: o Presidente ainda não sabe se vai conseguir passar no Senado um dos pilares do seu primeiro mandato, a Reforma da Saúde, apesar de esta já ter passado na Câmara dos Representantes. Foi uma aprovação histórica, mas tangencial – e a intervenção de Nancy Pelosi nas negociações de bastidores revelou-se decisiva.

Com um Partido Republicano cada vez mais disposto a subir o tom da oposição a Obama (e ansioso por aproveitar as intercalares de 2010 para alterar fortemente os dados do jogo), e com uma fatia minoritária -- mas significativa para formar maiorias -- de 'Blue Dogs' democratas que vota frequentemente em direcção oposta à do Presidente, não tem sido fácil gerir este jogo de equilíbrios.

Obama sabe que corre o risco de perder estas maiorias alargadas no Congresso dentro de poucos meses – e conta com a habilidade negocial de Nancy para ir passando as medidas essenciais. Já foi assim com a recuperação económica, está a ser assim com a Reforma da Saúde e há-de ser assim com a Climate Bill e, sobretudo, quando chegar o momento do Congresso apreciar a decisão do Presidente para o AfPak.

Refazer pontes políticas
Forte opositora da guerra do Iraque, Nancy também tem sido contra a escalada militar adoptada pelos EUA no Afeganistão, nos últimos anos, e não escondeu as suas enormes reservas sobre a recente decisão de Barack Obama de enviar mais 30 mil efectivos para o terreno.

Também na Reforma da Saúde, Pelosi tem-se situado na ala esquerda das sensibilidades democratas, mostrando-se acérrima defensora de uma via tendencialmente universal – e a favor da polémica 'public option', que está a emperrar uma solução de consenso.

Mas, como 'speaker' do Congresso, Nancy tem sabido interpretar a máxima que nos diz que a política está longe de ser um mundo ideal e deve ser «a arte do possível»: há poucos meses, garantia a pés juntos que «a Reforma da Saúde terá a 'public option' ou então não será uma verdadeira reforma». Perante as ameaças dos 'Blue Dogs' de travarem o diploma, Nancy já diz agora que «vale a pena encontrar vias para encontrar pontes políticas que permitam aprovar o essencial».

Mesmo ocupando uma franja mais liberal do que o Presidente, Nancy Pelosi tem sido decisiva para que Obama possa ver no Congresso um aliado e não um adversário.»

3 comentários:

Anónimo disse...

uma grande senhora, sem duvida!!

um beijinho, entre bem no ano.
Teresa Castro

MARIA disse...

Sem dúvida nenhuma este blogue constituirá no futuro um acervo histórico muito interessante.
Continuo a acompanhá-lo regularmente, ainda que não comentando.
É na matéria sobre que versa, imprescindível.
Meu amigo, hoje, contudo, passei para deixar votos de um ano novo muito feliz e muito próspero.

Um beijinho amigo

da

Maria

Germano Almeida disse...

Obrigado, um grande ano tb para si.