sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Tempestade perfeita


Texto publicado na rubrica «Histórias da Casa Branca», do site de A Bola, secção Outros Mundos:


«E, subitamente, parece ter-se gerado uma «tempestade perfeita» na Administração Obama. A perda da supermaioria no Senado, depois da incrível derrota de Martha Coakley no Massachussets, transformou os últimos dias numa espécie de pesadelo para o Presidente.

O que se passou no Massachussets foi mais uma prova de que, na política americana, nunca se deve festejar antes do tempo. Vicky Kennedy, viúva de Ted, tinha avisado, a poucos dias da votação: «Este não é o lugar dos Kennedy: é o lugar do povo. Teremos que o merecer.» A campanha eficaz do republicano Scott Brown fez o resto.

É certo que os democratas ainda têm uma enorme maioria na câmara de elite. Como lembrou Paul Begala, estratega democrata e antigo conselheiro de Bill Clinton, «convém não esquecer que o Partido Democrata passou da melhor situação de sempre para a segunda melhor situação de sempre no Senado».

O problema é que, na política americana, o lado simbólico tem muita importância. Sem a capacidade de travar um 'filibuster' (minoria de bloqueio) republicano, a bola deixou de estar do lado dos democratas – e temas mais fracturantes, como a Reforma da Saúde, correm o risco de ficar na gaveta.

Nancy Pelosi, ‘speaker’ do Congresso, passou os últimos dias a tentar refazer as condições políticas para que uma versão mais modesta da Reforma da Saúde ainda possa ser aprovada – mas há quem garanta que a derrota do Massachussets transformou esse sonho dos liberais num caminho sem saída.

Jobs, jobs, jobs
O tom e o conteúdo do primeiro discurso sobre o Estado da União foram um reflexo de que Obama procura encontrar uma nova estratégia para a sua Presidência.

A insistência na tecla da criação de emprego ('jobs, jobs, jobs') é reveladora: será essa a prioridade no segundo ano de mandato.

Barack acenou aos independentes, que depois de o terem apoiado na eleição presidencial estão a abandoná-lo mais rapidamente do que se esperava. O «spending freeze» é um piscar de olho aos centristas que se preocupam com os gastos excessivos, mas, ao mesmo tempo, Obama tenta recuperar o entusiasmo de sectores progressitas, ao falar da «melhoria das condições da classe média».

Horas antes do seu discurso no Capitólio, Obama reforçava, em entrevista à ABC, a sua visão crítica sobre a rapidez com que os estados de espírito mudam em Washington: «Quando estás em queda nas sondagens, és um idiota. Quando estás em alta, és um génio. É assim que os ‘media’ e os ‘pundits’ funcionam na América. Há uma tendência em Washington para achar que a função de um Presidente a cumprir um primeiro mandato é trabalhar para a reeleição. Mas eu não fui eleito para procurar a reeleição. Fui eleito para melhorar a vida dos americanos».

A Administração Obama passa, indiscutivelmente, por um mau bocado. Mas o percurso político do Presidente desaconselharia a que se fizessem já apostas sobre o seu falhanço.»

5 comentários:

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

Germano, quem disse - primeiro - que o lugar não era de Ted Kennedy mas sim do povo foi, não a sua viúva, mas o próprio Scott Brown!

http://theplumline.whorunsgov.com/senate-republicans/vicki-kennedy-yes-its-the-peoples-seat-but-coakley-would-carry-on-teddys-legacy

Germano Almeida disse...

Antes dele, Octávio, durante a campanha, disse Vicky Kennedy, nos anúncios de apoio a Martha Coakley.

Na noite da vitória, é verdade que Scott Bwown tb o disse -- e bem, porque o provou com essa triunfo.

Cumprimentos.

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

Você não leu a notícia que indiquei no comentário anterior, pois não? A afirmação/confirmação sobre a quem pertence o lugar, feita por Vicky Kennedy, surge depois de a mesma ter sido originalmente dita por Scott Brown num debate com Martha Coakley...

http://www.youtube.com/watch?v=OJEEQHOnI2Q

... e que ele, obviamente, repetiu após ter ganho a eleição.

Germano Almeida disse...

Muito bem, tem razão. Desconhecia essa primeira referência de Scott Brown.

Mas isso não altera o essencial que referi no texto: o aviso de Vicky aos democratas, dias antes da eleição, ao repetir essa ideia.

Obrigado pelo contributo. Volte sempre.

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

De nada. Sempre ao dispôr. E já sabe: consulte o Obamatório para obter as melhores, mais correctas informações e opiniões sobre o que realmente acontece nos EUA. ;-))