sábado, 15 de outubro de 2011

Histórias da Casa Branca: Barack dá sinais de vida


Enfrentar um duplo combate (a crise económica e a paralisia política de Washington) é o 'mantra' do primeiro mandato de Barack Obama. Mas o Presidente ainda não se tornou num 'has been'. A reeleição está em aberto


Barack dá sinais de vida

Por Germano Almeida


Ainda não é a crónica de uma recuperação anunciada, mas é, certamente, a confirmação de que Barack Obama, afinal, ainda não passou à história.

A poucas semanas de se completar o terceiro aniversário da sua improvável eleição como 44º Presidente dos Estados Unidos da América, Obama mantém-se com o estigma de ser um Presidente marcado pela crise, pelo clima de paralisia política em Washington e por uma certa desilusão sentida em vários sectores que o apoiaram entusiasticamente na histórica caminhada para a Casa Branca.

No meio de tantos problemas, será interessante verificar dois dados recentes. O primeiro tem a ver com os níveis de aprovação. Comparado com outros governantes mundiais, Obama não tem números assim tão negativos.

Se olharmos para França, por exemplo, vemos que Sarkozy está em muito piores lençóis: não só não deverá conseguir a reeleição em 2012, como até corre o risco de não passar à segunda volta (neste momento, está atrás da filha de Le Pen).

O outro dado prende-se com a impressionante capacidade que Obama continua a revelar para angariar fundos de campanha: 70 milhões de dólares só no último trimestre, um valor que reforça a perspectiva da campanha Obama-2012 ser a primeira na história política dos EUA a passar a barreira dos mil milhões de dólares.

A grande questão para Obama, já toda a gente percebeu, tem a ver com a forma como a Economia americana se irá comportar nos próximos meses.

Os sinais não são nada animadores -- mas Barack coloca fortes trunfos no American Jobs Act, apresentado há um mês em sessão conjunta no Congresso.

No caso de o seu ambicioso plano de empregos não passar, por nova teimosia cega da maioria republicana, quem deve ficar mal politicamente é o campo conservador – e não o Presidente.

Enfrentar um duplo combate (a crise económica e a paralisia política de Washington) é o mantra de Obama. Mas o lado guerreiro do Presidente parece voltar a emergir. Barack já não será um ‘wannabe’ – mas ainda não é um ‘has been’.

Reeleição em aberto
No lado democrata, e apesar das tremendas dificuldades políticas por que passa a Administração Obama, ninguém contesta, de forma real, a nomeação do actual Presidente.

Mesmo com níveis de popularidade teimosamente a rondar os 40 por cento, Barack continua a dar sinais de pujança como candidato presidencial: lidera os duelos com os eventuais adversários republicanos nas mais recentes sondagens da NBC e da Time, revelando, de forma consistente, a capacidade de atrair um número de eventuais eleitores numa eleição presidencial superior à quantidade de americanos que aprovam a sua governação.

Pode parecer um contrasenso, mas a explicação residirá na base da contestação que, por estes dias, mancha a credibilidade de Washington: se é certo que Obama é um Presidente com um sério problema de popularidade, bem piores estão os níveis do Congresso (apenas 12 por cento de aprovação!), controlado pelos republicanos.

Os sinais de alerta gerados por movimentos como os Ocuppy Wall Street apontam, obviamente, para uma certa desilusão com Obama (uma boa parte daqueles manifestantes votaram, certamente, em Barack há três anos). Mas são, sobretudo, uma prova da falência do sistema de Wall Street, que, é bom recordar, dominou também o argumentário da campanha de Obama como candidato presidencial.

A Reforma Financeira patrocinada pela Presidente não conseguiu mudar o essencial, mas a DoddFrankBill, aprovada numa fase em que o Congresso ainda era controlado pelos democratas, foi, pelo menos, mais longe do que os candidatos republicanos que querem tomar o lugar de Obama defendem.

Sobre o que pensam os entusiastas do Tea Party, é melhor nem falar: quando os movimentos sociais de descontentamento apontam para uma maior regulação e reivindicam menos espaço dos poderosos da banca e finanças, percebemos que muito do que se andou a gritar na América nos últimos dois anos por quem se diz defender «a Constituição e os princípios dos EUA» está desfasado do que está, neste momento, verdadeiramente em jogo.

Talvez por isso, Obama se mantenha com fortes hipóteses de se reeleger daqui a um ano: mesmo sendo um Presidente com pouca margem, condenado a governar em tempos sombrios, uma boa fatia do eleitorado americano alterna entre o descontentamento ao Presidente com uma provável disposição de lhe dar uma segunda oportunidade.

A pouco mais de um ano de eleição presidencial na América, a história do duelo de 2012 ainda está por escrever. Desengane-se quem pensa o contrário.

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