domingo, 18 de setembro de 2011

Histórias da Casa Branca: Perry derrapa no teste presidencial


O discurso anti-Washington valeu a Rick Perry um arranque muito forte, mas o governador do Texas começa a dar mostras de não estar preparado para aguentar o embate de uma campanha presidencial


Perry derrapa no teste presidencial

Por Germano Almeida


Rick Perry ainda pode exibir o estatuto de ‘frontrunner’ das primárias republicanas, mas começam a surgir dúvidas sobre a capacidade do governador do Texas poder passar no teste presidencial.

O salto da política texana para a exigentíssima corrida à presidência dos Estados Unidos não é coisa pouca. E mesmo sendo Rick o governador há mais tempo em funções na América, a verdade é que as suas credenciais como governador popular no Texas podem não ser suficientes para que consiga aguentar o embate nacional.

O Texas é o segundo maior estado da América, em área geográfica (só atrás do Alasca). E é o segundo estado mais relevante na corrida presidencial (só atrás da Califórnia).

Neste início de campanha, Rick tem feito valer as suas credenciais na criação de emprego e os indicadores económicos no seu estado. Mas estará Perry preparado para se adaptar às regras do jogo presidencial?

«Esquema de Ponzi», Rick?
Os últimos dias mostraram que os temas económicos podem não ser assim tão favoráveis ao campo republicano na eleição de 2012.

O terceiro debate das primárias republicanas, que marcou a estreia de Rick Perry, pôs a nu algumas das fragilidades do governador do Texas. De forma inteligente, Mitt Romney até recordou que os bons indicadores económicos da governação de Perry têm muito mais a ver com o petróleo que o Texas tem -- e não tanto por eventuais méritos de Rick como governador.

Com um discurso perigosamente excessivo, Perry não conseguiu demarcar-se da comparação disparatada que havia feito sobre Segurança Social americanas ser equiparável a um «esquema de Ponzi» (algo que Mitt Romney habilmente recordou) e mostrou-se pouco interessado em apresentar soluções para viabilizar um sistema que, ao contrário do que acontece com o programa de Saúde de Obama, é muito popular na América -- 87 por cento dos eleitores defendem que a Segurança Social deve ser protegida, sendo que muitos deles são eleitores-tipo do Partido Republicano, representando as faixas etárias mais velhas.

Mais moderado, com melhor preparação do que Perry em todos os temas essenciais para uma corrida presidencial e definindo cada vez mais o seu posicionamento como o candidato mais capaz de disputar o centro com Obama, Mitt Romney (que apresentou o seu próprio plano económico, numa antecipação ao American Jobs Act de Obama) pode ter tido neste debate a oportunidade de recuperar terreno, depois do entusiasmo que Perry conseguiu arrancar junto da base conservadora, nas semanas que se seguiram ao anúncio da sua candidatura.


Mitt Romney: mesmo depois de perder a liderança da corrida para Rick Perry, o ex-governador do Massachussets continua a parecer o republinano mais bem preparado para defrontar Barack Obama na eleição geral

Por enquanto, as sondagens ainda dão Perry à frente da corrida republicana, mas Romney vai reduzindo a distância – e, sobretudo, o que dá para perceber é que, entre o leque dos candidatos que estão no terreno, a questão será mesmo entre Rick e Mitt.

Sondagem publicada pela CBS News e pelo New York Times, realizada entre 10 e 15 de Setembro (apanhando já os eventuais efeitos do terceiro debate republicano) dá Rick Perry com 23 pontos, com Mitt Romney nos 16. Michele Bachmann cai para os sete por cento, os mesmos de Newt Gingrich, tendo Ron Paul apenas cinco. Rick Santorum e Jon Huntsman, definitivamente fora do círculo de eventuais nomeados, quebram nos dois e um por cento, respectivamente.

Mas o governador do Texas ainda não passou pelas principais provas de fogo: o eleitorado que, por enquanto, lhe está a dar apoio, ainda não se apercebeu que Perry já foi democrata (até ao início dos anos 90) e que até apoiava Al Gore, nas primárias de 1988; ainda não avaliou o facto do Texas ser dos estados da América com piores indicadores em questões como a Educação ou o combate à pobreza; ainda não pensou bem na questão de que um combate presidencial não é uma mera eleição no Texas e exige um tipo de linguagem mais abrangente e menos primária.

O apagamento de Bachmann
Enquanto isso, Michele Bachmann, a estrela da primeira fase da corrida, vai-se afundando no seu radicalismo, e aparece a mais de dez pontos dos dois primeiros – algo que poderá inspirar Sarah Palin a avançar mesmo lá para Outubro, assumindo-se como a única esperança do Tea Party.

É a vantagem deste longo e estranho sistema de escolha de candidatos presidenciais na América: os fenómenos de moda, com o passar do tempo, desvanecem-se e a dureza da batalha faz com que prevaleça uma espécie de selecção natural, o que aumenta a probabilidade de a escolha final se revelar a mais adequada.

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