quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Histórias da Casa Branca: construir consenso para a intervenção

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 4 DE SETEMBRO DE 2013:


Os próximos dias serão decisivos para que Barack Obama consiga sair-se bem do argumento para a guerra na Síria.

Damasco, Moscovo e Teerão estão a tentar a inverter o ónus, de modo a aproveitar a hesitação da comunidade internacional em apoiar claramente a ação americana e isolar a pretensão de Obama.

Depois do chumbo do parlamento britânico, um eventual «não» do Congresso americano colocaria Obama e Cameron numa posição especialmente delicada. Mas a posição de vários destacados senadores e congressistas republicanos parece ajudar o intuito da Administração Obama.

«Um não do Congresso sobre uma intervenção na Síria seria desastroso», nota o senador John McCain, republicano do Arizona, um dos membros do Capitólio mais especializados no tema. 

McCain não só apoia a decisão do Presidente em querer avançar, como defende uma ação em maior escala.

Ari Fleischer, antigo porta-voz de George W. Bush, felicitou o Presidente: «Saúdo-o por estar a tomar uma atitude corajosa e certa nesta questão».

Até John Boehner, speaker da Câmara de Representantes de maioria republicana, que por tantas vezes cortou as vazas a Obama, apoia a visão do Presidente sobre uma intervenção miitar na Síria. 

A Casa Branca tem feito, nos últimos dias, uma operação de propaganda junto de Congresso, explicando os motivos e as 
balizas da intervenção.

O problema desta situação é que, apesar das evidências na Síria serem muito superiores às que havia há dez anos no Iraque, a noção de desastre continua muito presente. Bush não ouviu os apelos de quem o queria travar e quis decidir unilateralmente. 

Obama anunciou a sua visão e tem-se preocupado em defender o argumento na opinião pública e no Congresso. «Ao procurar autorização do Congresso para usar a força militar contra o regime de Assad, Obama não está a enfraquecer o poder presidencial, nem está a tentar evitar uma guerra que não deseja. Está a fazer o que é absolutamente necessário numa república democrática. Está a construir consenso em torno de um passo grave e muito delicado e para aquilo que será sempre uma decisão controversa», aponta ED Dionne, no «Washington Post». 

As parecenças, que muitos apontam e dizer assustar-se com elas, entre o Iraque-2003 e o que pode vir a ser a Síria-2013, são, por isso, mais aparentes do que reais. 
A questão não estará tanto nos motivos e na legitimidade (ambos existem), mas no propósito: se a Administração Obama não assume o objectivo claro de derrubar Assad, para quê fazer isto?

Primeiro, haverá o argumento da punição: havendo «provas irrefutáveis» de que foi Assad a cometer o ato criminoso de 21 de agosto, a Administração Obama propõe-se assumir as despesas do exemplo para evitar repetições. Depois, há a questão de diminuição de risco de novos ataques químicos. 
Mas falta, neste momento, explicar o que os americanos pretendem para o pós-intervenção. O receio de uma Síria sem Assam é fundado: quem viria a seguir? 

Por outro lado, um ataque militar em escala de grande destruição poderia colocar o Irão e mesmo a Rússia em posição de terem que se envolver diretamente numa ação militar. E aí as consequências de uma escalada na região ficariam mesmo fora de controlo.

Nem a Rússia nem o Irão têm o mínimo interesse nesse cenário. E também por isso têm mostrado que querem forçar os EUA a uma solução política e diplomática. Não estão presos ao argumento moral da «red line» que Obama impusera e que, agora, lhe está a empurrar para assumir uma guerra que não queria.

A França, que tem mostrado ainda mais vontade na intervenção, já assumiu que tem que esperar pelos americanos para admitir avançar. 

Tudo em política tem solução. E esta situação de «pré-guerra» também poderá ter?

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