TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 6 DE SETEMBRO DE 2013:
O Senado dos EUA já aprovou o plano da Casa Branca para atacar a Síria.
Com uma
ligeira maioria democrata na câmara alta do Congresso, esse «sim» era triunfo
obrigatório para a rota de Obama no espinhoso plano de ter apoios para avançar
para Damasco.
Na próxima segunda-feira, a Câmara dos
Representantes, com forte maioria republicana, votará a proposta e aí as coisas
mostram-se bem mais difíceis para o Presidente.
Obama tem
tido alguns aliados republicanos de peso nesta questão. O principal deles é John
McCain, profundo conhecedor da realidade política e militar da Síria, que até
tem defendido uma ação em escala mais alargada. Outro senador sénior republicano
que tem tentado convencer o seu partido a apoiar o Presidente democrata é
Lindsay Graham, da Carolina do Sul.
Nos últimos dias, Obama tem feito um «final
push» junto dos aliados dos EUA, para que possa ter uma coligação forte.
O «não» do Parlamento britânico e a posição
clara de Merkel referindo que não tem o mínimo interesse em envolver
militarmente a Alemanha nesta operação mostraram que a América de Obama está
longe de ter a Europa na mão.
A França de Hollande é o principal interessado
europeu nesta operação, mas mesmo em Paris há quem, na oposição, exija um
mandato da ONU para avançar.
Uma análise pelos principais «players» deste
tabuleiro mostra-nos que esse mandato não é realista. Com a Rússia e a China com
poder de veto no Conselho de Segurança, a Administração Obama nunca terá uma
resolução das Nações Unidas a legitimar o seu plano.
A verdade
é que todos os estudos apontam para que a opinião pública americana está, em
larga maioria, contra esta intervenção. Sondagem da Reuters-Ipsos aponta apenas
20% de americanos favoráveis ao plano de Obama, enquanto pesquisa idêntica do
Pew identifica apenas 29%.
Peggy Noonan, antiga «speechwriter» de Ronald
Reagan e importante analista conservadora, vê razões de sobre para os EUA
intervirem, em função do que já se passou na Síria. Mas expõe a sua visão sobre
porque é «a América está a dizer não»: «Poderá o Presidente mudar esta perceção?
Sim e vai tentar. Mas até agora não resultou. O que é que os americanos estão
neste momento a pensar? Provavelmente algo como: tempo errado, local errado,
plano errado, homem errado. Doze anos de guerra. Uma ideia de que o que fizemos
no Médio Oriente, no Afeganistão, no Iraque, não correu bem. Que a Líbia está
sem lei. Que no Egito deitámos fora um amigo de 30 anos e que agora temos que
lidar com a Irmandade Muçulmana, com perturbação e com um golpe militar. Os
americanos estão agora mais exigentes e mais realistas», escreve Peggy, em
artigo no «Wall Street Journal».
Outra importante voz conservadora, esta bem
mais crítica de Obama, é o analista Charles Krauthammer. Em artigo na National
Review Online, acusa Obama de estar a sério «pouco sério» nesta questão:
«Estamos com um problema. O Presidente propõe atacar a Síria e o seu principal
conselheiro militar não consegue dizer-nos qual é o objetivo».
A
definição clara da operação (da sua dimensão, dos seus alvos e objetivos) é, de
facto, a prioridade das prioridades nos próximos dias para a Administração
Obama.
O plano de ataque para a Síria não é, para o
conceito de Obama, uma nova guerra com contornos comparáveis com o Iraque e o
Afeganistão. Os dados objetivos dão razão ao Presidente. Mas antes da
intervenção militar, Obama tem uma missão a vencer: convencer os americanos e os
seus principais aliados que esta é mesmo a jogada certa.
Missão quase impossível?
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