quarta-feira, 5 de março de 2014

Histórias da Casa Branca: Obama, a China e o novo orgulho americano

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 28 DE FEVEREIRO DE 2014:


«Aqui estão os resultados dos nosso esforços: o mais baixo desemprego dos últimos cinco anos. Um mercado imobiliário em recuperação. Um setor industrial com a maior criação de empregos desde os anos 1990. Maior produção de petróleo em casa e menor compra de petróleo estrangeiro (...) Pela primeira vez numa década, os líderes empresariais em todo o Mundo declaram que a China não é mais o lugar número um para investir. Esse lugar voltou a ser a América» 
Barack Obama, Estado da União 2014, 28 de janeiro


«O que é um poder em ascensão nos dias de hoje? Admitamos: qualquer coisa que Pequim faça parece-nos agressivo de alguma forma, aos nossos olhos americanos. E parece que tem uma importância cada vez maior. Será discutida, sobreanalisado graças aos «social media» e a novas formas de espalhar informação»
Harry Kazianis, excerto de artigo publicado no «The Diplomat»


«Temos que trabalhar juntos de modo a chegarmos a acordos bipartidários que promovam a proteção dos nosso trabalhadores, protejam o nosso clima económico e abram as empresas americanas a novos mercados, de modo a espalhar a marca «Made in USA». A China e a Europa não se ficam pelas suas fronteiras. Nós também não podemos ficar».
Barack Obama, Estado da União 2014, 28 de janeiro


Feita a recuperação económica, depois dos anos de pânico e de um crescimento lento mas sustentado, a reta final da era Obama será marcada por duas grandes ideias: garantir que as pessoas beneficiem da melhoria dos índices económicos (mais emprego, melhor proteção social, aumento do salário mínimo) e assegurar que a América se mantém como o «país indispensável», mesmo depois dos anos da crise e mesmo perante a ameaça da China.

A «revolução ucraniana» voltou a provar que o «fantasma russo» talvez seja mais mito que realidade. 

Putin pode ter travado à última hora o plano da Administração Obama para um «ataque cirúrgico» à Síria. Mas daí até se ter concluído que Washington tinha perdido para Moscovo o papel dominante no tabuleiro internacional foi um passo maior do que a perna. 

Seja na definição de impasses como o que se vive na Ucrânia, seja no modo como se reage a uma crise internacional de 2008, os Estados Unidos da América continuam a ser o «país indispensável».

Mesmo com os cortes militares anunciados nos últimos anos (e já cumpridos em boa parte no orçamento do Pentágono). Mesmo perante as retiradas no Iraque e no Afeganistão (ou sobretudo com elas, depende da perspetiva). 

A visão de Barack Obama, nos seus dois mandatos presidenciais, mostra um misto de realismo na política externa (uma década de guerra terminou, é tempo de retirar tropas e reduzir custos) com o reforço da tese do «domínio americano».

O Mundo de Obama não é pós-americano. E nem a anunciada «ascensão da China» fez abalar essa visão do Presidente.

Mais do que salvar os americanos de uma nova Grande Depressão, o legado de Obama pretende ser o de manter e reforçar o papel da América no Mundo. Esses dois conceitos, aparentemente distantes, entrecruzam-se nas prioridades do Presidente: Obama quer terminar o segundo mandato deixando uma América com «uma economia forte e durável», capaz de manter os EUA como «o país mais atrativo para os investidores de todo o Mundo». 

O Presidente deu conta desse caminho, no já citado discurso do Estado da União de 28 de janeiro passado, onde traçou as linhas fortes da reta final do seu segundo mandato: «Um dos grandes fatores que estão a ajudar na criação de emprego é a aposta na energia americana. A estratégia energética que anunciou há alguns anos está a resultar e coloca os EUA no caminho da independência». 

Voltarei, muito em breve, a este tema. O «regresso da América» e o «arrefecimento dos emergentes» vão marcar os próximos anos.

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