TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 27 DE NOVEMBRO DE 2014:
Depois da derrota pesada dos democratas nas intercalares do passado dia
4, os olhos dos apoiantes de Barack Obama viraram-se para Hillary
Clinton.
A mais que provável nomeada do Partido Democrata para 2016 continua
com números muito bons nas sondagens (50 a 60 pontos de avanço na
corrida para a nomeação, entre 5 a 15 pontos de vantagem na luta final
contra qualquer pretendente republicano), mas há quem receie que possa
vir a sofrer de um certo «contágio negativo», nos próximos dois anos,
caso a impopularidade da Administração Obama se agrave nos últimos dois
anos de governação.
Hillary Clinton, que embora só deva anunciar a sua segunda
candidatura à Casa Branca algures em 2015, já se comporta no terreno
como se fosse a super favorita: seja em conferências, em declarações
reagindo a momento de relevo da política americana (como quando Obama
anunciou medidas executivas unilaterais para avançar com a Reforma da
Imigração) ou em entrevistas como a que deu, no verão passado, a Jon
Stewart, no «Daily Show».
Nessa conversa, vista por vários milhões de americanos, Hillary
elaborou uma visão que é crítica da disfuncionalidade do Congresso, mas
globalmente apoiante das prioridades do Presidente.
«Estou preocupada com o facto dos mais jovens não terem as mesmas
oportunidades que eu, ou Bill, ou o Jon tivemos. A ideia de que quem
estuda e trabalha muito terá sorte na vida. Infelizmente, vejo que
milhões de jovens não têm essa ideia, essa garantia. E isso para nós,
enquanto país, é grave», comentou Hillary.
«Acreditávamos que havia uma escada social. Essa escada foi cortada», reforçou.
Mas será isso culpa deste Presidente e desta Administração? Ora, é
aí que Hillary se define, mostrando que vê Obama como «um Presidente que
tem feito o melhor pela América, mas que tem sofrido, em muitos pontos,
a paralisação de um Congresso que, simplesmente, não funciona».
O grau de confiança dos americanos nos políticos é cada vez mais
baixo. O Presidente tem apenas 40% de aprovação, e isso é um problema,
mas o Congresso, com forte pendor republicano, tem quase quatro vezes
menos, somando pouco mais de 10% de aprovação.
O que tem falhado, então? Hillary arriscou uma tese: «É uma
combinação de um Congresso que não funciona e que não permite que o ramo
executivo faça o seu trabalho. O sistema político americano, com a sua
teia de procedimentos e garantias, não se atualizou devidamente aos
tempos modernos. Tem tempos diferentes e perde com isso. A burocracia
política não ajuda».
Hillary pretende mostrar como a América ainda pode fazer a
diferença: desde que saiba explicá-la. «Este sistema tem funcionado nos
últimos 200 e tal anos e vai continuar a funcionar. Mas tem que se
atualizar.»
A mais que provável nomeada presidencial democrata para 2016 coloca
as coisas em perspetiva: «O mundo de hoje já não funciona de líderes
para líderes. No meu tempo de estudante era assim, hoje já não é. Quando
o Mundo era dividido entre dois blocos, e em que se apoiava uma
superpotência ou outra, as coisas eram mais simples de compreender. Hoje
as variáveis são muito maiores. O poder já não é só entre líderes.
Acontece de baixo para cima. Nas redes sociais, noutrs foruns. Para os
mais jovens, os EUA a libertarem a Europa, a derrotarem os nazis... isso
é pré-história para eles! Temos que voltar a conseguir explicar que os
EUA têm uma grande História. Não somos perfeitos, de forma alguma. Mas
temos uma História que nos deve orgulhar. Temos é que saber contá-la
melhor... a nós próprios, antes de tudo, e depois aos outros».
Hillary assume, com esta visão, um certo «declínio do poder
americano», ideia que nos anos Obama começou a vigorar, mas insistiu
numa visão otimista: «Lembro-me que Vaclav Havel, uma grande figura da
cultura e da política europeia, primeiro presidente da República Checa
libertada do comunismo, tinha como grande ídolo Lou Reed. A América
sempre marcou gerações e culturas. Isso tem que continuar a acontecer».
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