TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 2 DE FEVEREIRO DE 2015:
E a resposta de Mitt Romney foi..
«não!»
Uma das principais dúvidas deste arranque de corrida presidencial
norte-americana para 2016 tinha a ver com a decisão do nomeado
republicano de 2012: será que Romney tinha vontade, energia e dimensão
para uma terceira corrida à Casa Branca?
Ainda antes da nomeação de 2012, Mitt tinha tentado em 2008, mas
acabou por perder a nomeação republicana para John McCain, seu amigo
pessoal, que viria a apoiar.
Em novembro de 2012, o antigo governador do Massachussets (estado
tendencialmente liberal, que vota fortemente democrata nas eleições
presidenciais e no Congresso) teve boas hipóteses de chegar à Casa
Branca.
As eleições presidenciais foram feitas numa altura em que o
Presidente Obama tinha sérios problemas de popularidade. E até à véspera
da eleição, as sondagens nacionais ainda davam uma pequena vantagem ao
pretendente republicano. Só que, no original esquema de votação das
presidenciais na América, a soma estadual sempre favoreceu Obama, que se
manteve fortíssimo nos territórios decisivos (Iowa, Ohio, Florida,
Wisconsin, Michigan, Pensilvânia, Colorado).
Forte no eleitorado endinheirado, mas estranhamente fraco em
segmentos em 2012 até mostravam algum desgaste com a governação Obama
(classe média e latinos), Romney falhou a oportunidade de uma vida.
Logo a seguir a essa derrota, e à clara reeleição de Obama,
abriu-se discussão interna no Partido Republicano: o que fazer para
conquistar a Casa Branca em 2016? O que falhara em 2012?
Rapidamente se apontou a necessidade de renovar líderes, colocando a
urgência de dar protagonismo a figuras como Marco Rubio (filho de
cubanos) ou Ted Cruz.
Só que essa «renovação» no Partido Republicano não deu os frutos
desejados: nomes como Rubio, Paul Ryan ou Ted Cruz não passam, nas
sondagens, dos 8/10 pontos.
Perante a necessidade de se encontrar uma figura capaz de ter
algumas esperanças de bater Hillary Clinton na eleição geral, nos
últimos meses as correntes mais ligadas ao «establishment» da direita
americana (leia-se, republicanos que não simpatizem com o Tea Party...)
viraram atenções para dois nomes essencialmente: Jeb Bush, ex-governador
da Florida, que depois de recusar candidatura em 2012 tem feito tudo
para ser o favorito republicano em 2016, e Mitt Romney.
Também nesta corrente «tradicional» pode englobar-se o governador
da Nova Jérsia, Chris Christie, que tal como Jeb para já ter decidido
que vai avançar, mas não demonstra tanta capacidade para chegar à
nomeação.
Porquê Mitt outra vez? Porque, apesar de derrota em 2012 para
Obama, o antigo governador do Massachussets manteve uma boa base de
financiadores (aspeto fundamental para sobreviver à loucura de 20 meses
em campanha) e por ser apontado como um candidato capaz de chegar ao
centro e mesmo a algum eleitorado democrata.
Nos últimos dias, Mitt Romney parecia até já estar em campanha:
reagiu ao discurso de Obama no Estado da União, falou sobre propostas
para atacar o problema da pobreza na América, parecia querer piscar o
olho ao eleitorado «flutuante».
Só que, depois de muito refletir, Mitt acabaria por dizer «não» a
uma terceira corrida: Romney achou que «é tempo de dar espaço e
oportunidade a novos líderes do partido».
A ideia faz sentido, embora uma boa parte das hipóteses que Romney
teria se fundassem na tese de que esses tais «novos líderes» não
mostram, pelo menos para já, dimensão e capacidade para chegar à Casa
Branca em 2016 (tendo do outro lado uma super candidata como Hillary
Clinton).
A verdadeira razão para o «não» de Mitt terá tido a ver com a
leitura que o «possível-candidato-que-desta-vez-não foi» de que o seu
espaço político (o «establishment» do Partido Republicano e o setores
moderados) tem-se mostrado amplamente favorável a uma nomeação de Jeb
Bush.
Outro fator que pode ter pesado na decisão de Mitt foi... Ann: a
companheira de quatro décadas, que já terá estado contra a corrida do
marido em 2012 e que o terá feito prometer, depois da derrota para
Obama: «Honey, no more campaigns...» (
querido, não há mais campanhas...)
E agora, sem Romney? Parece haver ainda mais espaço para Jeb Bush
(que vai liderando as preferências republicanas com perto de dez pontos
de avanço sobre os rivais), mas pode haver também aqui uma segunda
oportunidade para que Chris Christie (uma espécie de Jeb mais rebelde e
carismático) possa sonhar com a nomeação.
Depois do anúncio de que não iria tentar uma terceira corrida
presidencial, Mitt Romney já reuniu com Chris Christie. Será
interessante ver alguém beneficiará, na época de primárias, do apoio do
nomeado republicano em 2012.
Este empresário de sucesso, nascido em Detroit há quase 68 anos,
filho de família política com forte tradição no Partido Republicano (o
pai, George, foi governador do Michigan e chegou a tentar a nomeação
republicana em 1968, que perdeu para Nixon; a mãe, Lenore, esteve muito
perto de ser uma das primeiras mulheres a ser eleitas para o Senado dos
EUA), deu o adeus definitivo ao sonho de ser Presidente dos EUA.
O que tem em credibilidade e apoios faltou-lhe em carisma e
capacidade de mobilização: dois predicados essenciais para chegar à Casa
Branca.
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