A Carolina do Sul deu
nova vitória a Donald Trump e começa a colocar o multimilionário como favorito
à nomeação republicana. Mas ainda não de forma inevitável: a desistência de Jeb
Bush pode dar de bandeja a Marco Rubio o estatuto de «candidato anti-Trump». E ainda há Ted Cruz pelo meio: os 22,3% do senador do Texas dão-lhe força
para prosseguir, pelo menos por mais algum tempo, a bater-se com Rubio na luta pelo
segundo posto
Do lado democrata, a
vitória de Hillary Clinton no Nevada foi curta (52.5/47.5), mas ainda assim um
pouco superior ao quase empate do Iowa. Sanders não foi capaz de aproveitar o
embalo da triunfo enorme no New Hampshire e, mesmo tendo obtido uma «surge»
final, falhou o primeiro lugar que necessitava de obter no Nevada para consumar
a reviravolta. Na Carolina do Sul, dia 27, Hillary tem tudo para esmagar (os
quase 60% de eleitores negros preferem-na numa escala de quatro para um em
relação a Bernie). Se vencer por 20 ou 30 pontos nesse estado sulista, Hillary
embalará definitivamente para a nomeação, que quase já pode selar nos 14
estados da Super Terça-Feira
Donald Trump
até pode nem conseguir ser o nomeado do Partido Republicano.
Mas uma
coisa já ninguém lhe tira: o polémico multimilionário nova-iorquino provocou um
autêntico terramoto político no GOP, com consequências que podem vir a ser
irreparáveis para os pilares da Direita e do conservadorismo americano.
O triunfo na
Carolina do Sul nem foi tão esmagador como as sondagens previam.
Donald teve
32,5%, mais 10% que Marco Rubio e Ted Cruz.
Mas o sistema «winner takes all» (o
mais votado arrecada todos os delegados) deverá permitir a Trump somar a
totalidade dos 50 delegados à convenção republicana que a Carolina do Sul,
importante estado no barómetro político dos republicanos, garante.
O terramoto
está aí: depois de Scott Walker, depois de Chris Christie, depois de Carly
Fiorina, depois de Mike Huckabee e Rick Santorum, agora foi mesmo Jeb Bush a
baixar os braços.
Os 7,8% do
ex-governador da Florida na Carolina do Sul (aliados a 3% no Iowa, sexto lugar,
e 11% no New Hampshire, quarto posto) foram frustração suficiente para Jeb
assumir o fracasso e atirar a toalha ao chão.
Um cenário como
este – Trump a somar vitórias; Ted Cruz a bater-se muito bem nos três primeiros
estados, incluindo um primeiro lugar no Iowa; Walker, Christie e Bush a
desistirem de forma precoce – era simplesmente impensável há um ano (ou até
mais recentemente).
E só podem
ser interpretados como um sintoma gravíssimo do estado do Partido Republicano.
O centro e uma certa noção de moderação foram postos de lado pelos eleitores
republicanos, desiludidos com a incapacidade do partido lidar com os anos
Obama.
Jeb Bush,
pouco carismático é certo, mas com uma base de financiadores que noutro quadro
político talvez lhe fosse suficiente para obter a nomeação, nem sequer chegou à
sua Florida para uma última tentativa de travar Trump.
O fracasso de
Jeb faz, em certa medida, lembrar Giuliani em 2008: Rudy também partiu como
favorito, mas apostou de tal modo na Florida que não resistiu aos resultados
péssimos nos estados de arranque (muito idênticos, curiosamente, aos de Jeb em
2016).
Mas o
contexto político é completamente diferente: Jeb até nem descurou o Iowa
(muitos acharam que passou tempo demais no estado de arranque, não tendo perfil
nem credenciais para poder sonhar com um bom resultado em local com tantos
evangélicos).
2016 não
pode, na verdade, ser comparado com nada, em matéria de corridas à nomeação presidencial
republicana.
Se, há
apenas quatro anos, Donald Trump nem sequer conseguiu grande atenção e por isso
se demoveu a ir a votos, desta vez o discurso desbragado, sem grande consistência
programática e puxando pelos sentimentos mais primários dos eleitores está a
valer – e até força a desistência de supostos favoritos.
Em 2012,
Mitt Romney era um candidato globalmente idêntico a Jeb Bush: pouco
carismático, pouco colado às tendências Tea Party, a flutuar entre as correntes
moderadas e com aspetos conservadores, ex-governador de estado respeitado e boa
base de financiamento.
Há quatro
anos, isso chegou e sobrou a Mitt para obter a nomeação republicana. Ora, Jeb
nem à Super Terça-Feira chegou.
Com tanta originalidade a marcar a corrida de 2016, pode até ser que, desta vez, não se repita a tradição nas nomeações presidenciais republicanas: é que, geralmente, quem ganha na Carolina do Sul obtém mesmo a investidura. Valerá para Donald?
Com tanta originalidade a marcar a corrida de 2016, pode até ser que, desta vez, não se repita a tradição nas nomeações presidenciais republicanas: é que, geralmente, quem ganha na Carolina do Sul obtém mesmo a investidura. Valerá para Donald?
Rubio esfrega as mãos
A dinâmica
da corrida republicana começa a ser difícil de prever, mas tudo indica que
Marco Rubio venha a ser o principal beneficiado da desistência de Jeb.
Sem Bush,
sem Christie, sem Fiorina e sem Walker na corrida (e embora ainda haja John
Kasich, talvez o mais centrista de todos os candidatos republicanos nestas
primárias), Marco Rubio tem tudo para angariar em seu torno os apoios que
estavam destinados a Jeb (nem 80 milhões de dólares gastos na campanha valeram
a Bush; Trump gastou seis vezes menos até agora e vai à frente…)
Marco foi
segundo na Carolina do Sul, graças a uma boa reta final nesse estado sulista,
onde beneficiou do apoio da popular governadora Nikki Haley
(indiana-americana), também ela uma descendente de imigrantes com 44 anos.
O segundo posto de Rubio foi um quase
empate com Cruz, é certo, e a dez por cento de Trump. Mas com o triplo dos
votos de Jeb Bush, do mesmo modo que já tinha tido o sêxtuplo dos votos de Jeb
no Iowa.
Rubio é um
candidato ambíguo: posiciona-se claramente à direita em temas como Cuba (é
contra a abertura promovida pelo Presidente Obama, por considerar que não se
deve negociar e dar concessões a «governos de ditadores»), mas consegue ter uma
narrativa para a classe média e sabe «vender» a sua história americana, de
filho de imigrantes de origem muito modesta e que conseguiram vencer subindo a
pulso – e à custa de muito trabalho na «terra da oportunidade».
Até agora, o
capital político de Rubio nestas primárias é ter sobrevivido a Trump (Jeb,
Christie e Walker não podem dizer o mesmo…) e é ter conseguido percentagens um
pouco acima do que as sondagens indicavam no Iowa e na Carolina do Sul.
Com a queda
de Jeb, essas percentagens podem subir ainda mais, talvez para valores iguais
ou superiores a Trump.
Mas restam
dúvidas fundamentais em relação à viabilidade de Rubio: afinal de contas, quando
é que o jovem senador da Florida vai conseguir ganhar um estado (os
especialistas apontavam a Carolina do Sul como terreno propício a que Marco
vencesse)?
A Super
Terça-Feira será, por isso, crucial para Rubio: ou consegue bater Trump em
alguns dos territórios chave ou fica difícil acreditar que vá a tempo de
recuperar a contabilidade de delegados em relação a Donald.
E ainda há
Ted Cruz. Poucos acreditam que o polémico (e também ele desalinhado) senador do
Texas tenha condições de sonhar com a nomeação.
Trump tem
mais capacidade de mobilização, Rubio mostra-se mais credível e com mais apoios
influentes. Mas as credenciais evangélicas de Cruz não devem ser
subvalorizadas.
Ted voltou a
ter resultado significativo (22,3%) na Carolina do Sul, depois do triunfo no
Iowa (28%) e do terceiro lugar no New Hampshire (12%).
Tudo indica
que Cruz não vai resistir ao choque dos grandes estados (e do cosmopolitismo da
Costa Leste), mas os bons resultados do senador texano nos três primeiros
estados podem baralhar as contas mais algum tempo.
Por um lado,
Ted vai querer lutar com Marco (curiosamente, dois senadores de ascendência
cubana, de 44 anos) pelo estatuto de segundo classificado da corrida; por
outro, disputa com Trump o eleitorado mais «zangado» com o sistema.
Nesta
corrida absolutamente atípica do lado republicano, os três primeiros estão, de
algum modo, invertidos: Trump e Cruz assumiam-se, no início, como os candidatos
mal-amados pelo sistema e pelo «core republicano»; Rubio mostrava condições de
sonhar pela nomeação, mas teria que ultrapassar o favoritismo natural do seu
«mentor» na Florida, Jeb Bush.
A corrida
ainda vai no início e os «underdogs» lideram. Os supostos favoritos, esses,
caíram todos. Ou quase: será que Marco Rubio ainda vai a tempo de evitar terramoto
de impacto ainda maior?
Hillary trava Bernie e lança-se para
a Carolina do Sul
Quem estará
a torcer por Trump é… Hillary Clinton.
A mais do
que provável nomeada do Partido Democrata sabe que Donald é o seu maior garante
de eleição em novembro. Se o adversário for Rubio, a coisa ficará bem mais
difícil para Clinton, nos estados decisivos.
Mas antes há
que selar a nomeação democrata.
O fenómeno
Sanders, a todos os títulos notável, pode sinalizar alguns problemas
estruturais nesta segunda tentativa de Hillary para chegar à Casa Branca.
A
ex-senadora Clinton é vista pelo eleitorado mais jovem e urbano como uma
personagem do passado, comprometida com «Wall Street e as grandes corporações».
E isso está a custar-lhe a perda do eleitorado abaixo dos 35 anos, sobretudo nos
brancos.
Mas o
capital de Hillary nas minorias (sobretudo negros e latinos) e ainda nas
classes trabalhadoras e sindicalizadas é muito sólido – e acabou por garantir-lhe
a vitória no Nevada. Os sindicatos ligados ao jogo em Las Vegas foram fiéis a
Clinton e cobriram, de forma não avultada mas suficiente, a vantagem de Hillary
em relação a Sanders, que se saiu melhor na zona norte do Nevada.
Hillary
voltou, assim, conseguir o essencial: travar um arranque ainda mais forte de
Sanders, somando segunda vitória (curta, mas ainda assim um pouco maior que a
do Iowa) em três estados.
Na Carolina
do Sul, há caminho aberto para Hillary esmagar pela primeira vez (os eleitores
negros devem dar-lhe folgado avanço sobre Sanders).
Deve, por
isso, ser mesmo Hillary a ser coroada na convenção de Filadélfia. Depois do
verão, tudo dependerá do adversário que calhará em sorte a Clinton.
Correndo bem para Hillary, a provável nomeada democrata acabará por obter, na eleição geral, o grosso dos votos que está a perder para Sanders nas primárias: jovens contestários do sistema talvez a prefiram a um republicano. Ou será que... se for Trump isso pode não ser assim?
Correndo bem para Hillary, a provável nomeada democrata acabará por obter, na eleição geral, o grosso dos votos que está a perder para Sanders nas primárias: jovens contestários do sistema talvez a prefiram a um republicano. Ou será que... se for Trump isso pode não ser assim?
Até lá, a
mais louca corrida do Mundo dará voltas surpreendentes. Isso é garantido.
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