terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Histórias da Casa Branca: Obama na «pole position» para 2012



Obama na «pole position» para 2012

Por Germano Almeida


«A Reforma da Saúde é uma realização notável. O programa de revitalização económica foi absolutamente, desmesuradamente, incrivelmente bem sucedido. Mas não serve de nada estar super seguro do que deve ser feito se mais ninguém concordar com ele»

Ed Rendell, governador da Pensilvânia, antigo líder do Partido Democrata, apoiante de Hillary Clinton nas primárias de 2008, sobre a primeira metade da Presidência Obama


Talvez seja prematuro decretar que o pior já passou para a Administração Obama. Mas os analistas mais atentos já identificaram a tendência nas últimas duas/três semanas: o Presidente está a conseguir estancar a ferida e começa a ver sinais de recuperação nas sondagens.

A Taxa de Aprovação ainda apresenta números pouco confortáveis, mas o espectro dos 40 por cento começa a desaparecer. É certo que o 'trend' continua a ser ligeiramente negativo. Só que nos últimos dias surgiram barómetros onde Obama aparece com valores de aprovação superiores aos de reprovação – algo que já não acontecia há vários meses.

São disso exemplo o barómetro ABC/Washington Post, que nos dias 9 e 10 de Dezembro mostrou 49/47 a favor do Presidente, ou a sondagem CBS de 29 e 30 de Novembro, que apontou um saldo positivo de 48/42.

Não se pense que se tratam de casos isolados: as pesquisas de popularidade feitas no mês de Dezembro mostram uma tendência leve, mas consistente, de recuperação para o 44.º Presidente dos EUA.

E colocam Obama numa posição relativamente confortável para ir mais do que a tempo de atingir os «mínimos» de 50 por cento de aprovação no final do seu mandato para que, em 2012, possa partir como favorito natural para a reeleição.

Arranque promissor
Os primeiros dados sobre a corrida presidencial de 2012 confirmam as ideias fortes acima expostas. Mesmo com tantos fantasmas a persegui-lo nos últimos tempos largos (e nas mais diversas frentes políticas), Barack Obama aparece, destacado, na 'pole position' para a eleição presidencial marcada para daqui a 23 meses.

Uma sondagem NBC/Wall Street Journal confere um enorme avanço ao mais do que provável nomeado democrata no arranque da corrida presidencial, perante todos os opositores republicanos: 55/33 sobre a ex-governadora do Alasca (e favorita dos movimentos Tea Party), Sarah Palin, 47/27 sobre John Thune, senador júnior do Dakota do Sul, e 47/40 sobre o antigo governador do Massachussets, e terceiro classificado nas primárias republicanas de 2008, Mitt Romney.

Como é que isto é possível, se os democratas apanharam, há apenas mês e meio, uma das maiores derrotas eleitorais da sua história?

Antes do mais, os dados que estão em jogo nas eleições intercalares são completamente diferentes duma corrida presidencial. Depois, e talvez mais importante, estes números reforçam a ideia de que a radicalização do discurso da Direita americana é um tiro no pé nas aspirações assumidas dos líderes republicanos de «evitar, a todo o custo, a reeleição de Barack Obama» (as palavras são de Mitch McConnell, líder da minoria republicana no Senado).

Ao reforçar a tecla do bipartidarismo (já consumada no acordo fiscal com os republicanos que prolonga as 'Bush Tax Cuts', a troco de mais apoios sociais para os desempregados de longa duração), Obama vai recuperando, lentamente, várias fatias do centro político com que construiu, há dois anos, uma folgada maioria presidencial.

E sublinha as diferenças com os sectores mais radicais do Partido Republicano, que se mobilizaram de forma desmesurada nas intercalares, mas que revelam pouca consistência política.

Se esses sectores conseguirem impor a nomeação presidencial republicana de Sarah Palin ou de Mike Huckabee, facilmente se percebe que Obama tem a reeleição assegurada.

Mas as primárias republicanas ainda estão na fase de aquecimento e é normal que, à medida que o processo avançar, o candidato com mais probabilidade de se bater com Obama venha a ser premiado.

Isso aponta para Mitt Romney – um conservador mais moderado, que na governação do estado do Massachussets mostrou usar tácticas relativamente parecidas com as de Obama nas negociações bipartidárias (e fez aprovar um Plano de Saúde estadual com muitas parecenças com o ObamaCare que vingou no Congresso, faz agora um ano).

Mas mesmo no duelo com Romney, Obama parte com uma vantagem de sete pontos – nada mau para quem, supostamente, estaria politicamente moribundo até há poucas semanas...

Mais do mesmo

As notícias sobre a morte política de Barack Obama, insistentemente matraqueadas pelos «media» escola-Fox News, voltaram, por isso, a revelar-se manifestamente exageradas. E precipitadas.

Seis semanas depois da clara vitória republicana nas 'midterms' para o Congresso, é muito provável que isto queira dizer que o eleitorado já se sente relativamente satisfeito com o cartão amarelo que mostrou à Administração Obama – e que terá resultado, sobretudo, do descontentamento em relação ao rumo económico que o Presidente prometeu, entretanto, corrigir.

Do ponto de vista meramente político, a estratégia de suavização bipartidária que Obama escolheu para a segunda metade do seu mandato parece revelar-se a opção correcta.

E o facto é que o eleitorado base de Obama – que durante um ano se disse «zangado» ou «desiludido» com o Presidente (a esquerda moderada, os movimentos sociais minoritários, os trabalhadores sindicalizados, a classe média nos estados do Midwest) -- está a voltar a apoiar os esforços do Presidente.

Estudo recente do Opinion Research Center para a CNN identifica: 55 por cento do eleitorado democrata acha que Obama está a levar a América para o rumo certo. A reconciliação com a sua base natural de apoio parece estar, finalmente, a ser conseguida por Barack Obama, depois de um ano de inesperada separação.

«Back to basics»

Já há uns meses se tinha percebido que o tempo da poesia terminou para a Presidência Obama. O «back to basics» que Barack tão bem soube fazer há 11 meses, a partir do seu primeiro discurso sobre o Estado da União, valeu-lhe, na altura, a aprovação (ainda que muito negociada) da Reforma da Saúde – e pode vir a valer-lhe o caminho da reeleição, nesta segunda fase do mandato presidencial.

Os feitos obtidos na primeira metade da Presidência Obama, e que o governador Ed Rendell eloquentemente enuncia na citação com que começo esta crónica, ficaram abafados no ruído do bizarro Tea Party até há poucas semanas.

Mas, também na política, o tempo costuma ser bom conselheiro. Passo a passo, Barack está a criar condições para voltar a apanhar o comboio da História.

2 comentários:

MARIA disse...

Indubitavelmente, ele já fez história e fará...

Bom Natal, meu amigo, um beijinho
da

Maria

Germano Almeida disse...

Obrigado, Maria. Há uns tempinhos que não a via por este blog ;)

Um beijinho, Bom Natal.