O blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Histórias da Casa Branca: As palavras mágicas para a nomeação
Michelle Bachmann marca pontos à Direita (enquanto Sarah Palin não se decide), mas Mitt Romney é, cada vez mais, o favorito à nomeação republicana
As palavras mágicas para a nomeação
Por Germano Almeida
Não é por acaso que se costuma dizer que a disputa presidencial na América é a mais louca (e mais longa…) corrida do Mundo.
Mesmo em ciclo de recandidatura de um Presidente em funções, a eleição de 2012 volta a prometer ser uma daquelas maratonas bem ao estilo americano.
Agora que a corrida pela nomeação republicana está a aquecer, depois de meses de inesperado impasse (agravado pela falta de qualidade dos candidatos que se apresentaram a concurso), os focos dos dois principais campos políticos do sistema americano estão, finalmente, virados para o que poderá acontecer até Novembro de 2012.
Mais do que analisar as potencialidades dos candidatos com hipóteses reais de obter a nomeação republicana, importa perceber quais serão as palavras mágicas para se definir a escolha.
E isso dependerá muito das condições do momento – ou não fosse a política um jogo entre «o homem e as suas circunstâncias».
Em 2008, por exemplo, as palavras mágicas para a nomeação democrata foram todas agarradas por Obama: ‘change’, ‘reconciliation’ e, claro, aquelas três palavrinhas que, juntas, se transformaram num slogan imbatível: ‘yes we can’.
Para a corrida de 2012, só agora estão a lançar-se os primeiros ensaios – e, por enquanto, há mais dúvidas do que certezas.
Como escrevi em textos anteriores nesta rubrica, se os dados que prevalecerem forem os mais previsíveis, Mitt Romney é o claro favorito a obter a nomeação republicana. As sondagens pós-debate no New Hampshire comprovam essa tendência, com Mitt a atingir já a casa dos 30 por cento, sendo que nenhum dos seus rivais se aproxima, sequer, dos 20 por cento.
Mitt tem a experiência de uma campanha anterior (e isso, na política americana, tem o seu peso). Tem uma máquina bem montada e «oleada» por muito dinheiro angariado da jornada de 2008 e dos anos que se seguiram -- é, de longe, o candidato republicano com mais dinheiro averbado, facto que, não sendo decisivo (basta recordar o exemplo de John McCain, que chegou a estar perto da desistência em 2008, por falta de financiamento, e acabou por obter a nomeação), poderá ter mais relevância desta vez, se nos lembrarmos que, do lado democrata, Barack Obama espera atingir a soma astronómica de mil milhões de dólares em fundos angariados para a sua reeleição.
Romney consegue uma conjugação ideológica que o coloca na zona moderada do Partido Republicano, mas sem hostilizar a ala mais religiosa. Governou um dos estados mais liberais da América (o Massachussets) e tem um sólido currículo no mundo empresarial -- dados que podem ter o seu peso se as palavras mágicas na eleição geral forem (como é provável que venham a ser) «economia» e «recuperação».
Tem, no entanto, duas questões que lhe podem causar desconforto: é mórmon, religião vista com alguma desconfiança por uma fatia importante do eleitorado americano (estudos feitos nas primárias de 2008 revelaram esse problema para Mitt) e aprovou, enquanto governador do Massachussets, uma reforma da Saúde muito semelhante ao ObamaCare, que agora critica.
Serão contrariedades a mais para que Romney se consiga assumir como a escolha inevitável dos republicanos? Ainda é cedo para responder.
Por muito que os dados do momento o possam apontar como claro favorito, nunca nos podemos esquecer que as corridas presidenciais na América são férteis em surpresas – e assumem uma dinâmica imprevisível, à medida que se vão sucedendo as votações nos diferentes estados.
As cartas escondidas
Quem viu o debate no New Hampshire pode ter achado que já seria certo que o adversário de Obama em 2012 sairá de um daqueles sete candidatos (Romney, Pawlenty, Bachmann, Cain, Gingrich, Santorum e Paul).
Já poderá parecer um leque suficientemente alargado para os delegados republicanos escolherem, mas há cartas escondidas que ainda podem surgir deste estranho baralho.
Nos textos anteriores apontei algumas dessas cartas que podem surgir de surpresa: Sarah Palin, Rudy Giuliani, Jon Huntsman, Marco Rubio, Chris Christie ou Paul Ryan.
Huntsman deixará, em breve, de ser uma «carta escondida»: o ex-governador do Utah, e embaixador dos EUA na China até Abril passado, anunciará oficialmente, na próxima terça-feira que pretende concorrer contra Obama, o Presidente que o nomeou para Pequim.
Jon Huntsman anuncia terça-feira a sua candidatura e vai tentar posicionar-se como a alternativa a Romney na luta pela nomeação
Será que Sarah Palin se prepara para tirar o protagonismo da ala radical a Michelle Bachmann, apesar da boa prestação da congressista do Minnesota no debate do New Hampshire?
A dúvida ocupa os espaços de discussão da Direita americana mas não me parece que seja decisiva para a nomeação: o vencedor da corrida republicana não virá da ala apoiada pelo Tea Party.
A questão é que candidatas com as características de Sarah Palin ou Michelle Bachmann vão permitir uma grande mobilização (outra palavra mágica desta corrida) do eleitorado conservador, compensando assim uma certa ideia, que vigorou até há poucas semanas, de que «o próximo candidato republicano será para perder», um dado que estará a fazer adiar a decisão de nomes apontados como futuras estrelas do GOP, como Chris Christie, Marco Rubio, Paul Ryan ou mesmo Bobby Jindal.
Christie já garantiu que não vai mesmo avançar. Rubio, Ryan e, eventualmente, Jindal também devem guardar-se para 2016.
E ainda há Rick Perry: o governador do Texas nunca afastou completamente uma candidatura e estará a apalpar terreno. Já foi líder dos governadores republicanos, estrutura importante para dominar o establishment do partido. E a verdade é que há muitos sectores do GOP que não se sentem mobilizados com as duas candidaturas «do sistema» que estão no terreno: Mitt Romney e Tim Pawlenty.
Rick Perry, governador do Texas, pode ser a «carta escondida» das primárias republicanas para 2012: quase ninguém está a contar com ele, mas se avançar altera, por completo, os dados da corrida
Se Rick Perry, um «conservador fiscal» de créditos firmados, decidir avançar, a narrativa destas primárias pode mudar completamente. De todas as possíveis «cartas escondidas», Rick é, sem dúvida, o trunfo mais poderoso.
Outra vez o Iowa
Pode parecer uma banalidade dizer-se que os estados de arranque são muito importantes, mas desta vez vão mesmo ser cruciais para se perceber a dinâmica destas primárias.
E o Iowa, estado chave para a nomeação de Obama nas primárias democratas de 2008, pode vir a ser a maior de todas as «palavras mágicas» desta corrida.
Romney tem aí a sua prova de fogo: se se sair bem no caucus do Iowa terá caminho aberto para fazer sempre na liderança o seu percurso até à nomeação, uma vez que terá nas etapas seguintes vitórias quase garantidas: New Hampshire, Michigan (seu estado natal e onde o seu pai, George Romney, foi governador muitos anos), Nevada e, possivelmente, também Carolina do Sul.
Michelle Bachmann nasceu no Iowa e, apesar de representar o Minnesota, estado onde vive desde pequena, tem usado o local de nascimento como trunfo para fazer campanha naquele estado do Midwest.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário