O blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Histórias da Casa Branca: Mitt Romney ou uma surpresa?
Os dados para a nomeação republicana parecem estar destinados a favorecer Mitt Romney: está à frente nas sondagens, tem dinheiro para a campanha e posicionou-se nas primárias de 2008. Mas há vários sectores do Partido Republicano que não se entusiasmam particularmente com esta solução para defrontar Obama. Haverá uma carta escondida na manga para tramar Mitt?
Mitt Romney ou uma surpresa?
Por Germano Almeida
Será Mitt Romney a maior ameaça à reeleição de Obama? Os dados mais racionais parecem mostrar isso, mas na política americana, nunca se sabe.
As últimas semanas revelaram, finalmente, alguma clarificação no campo republicano. Com Donald Trump fora da arena, e Sarah Palin estranhamente a adiar a sua declaração de candidatura (aparece cada vez mais como ‘pop star’ da Direita americana, mas… por que raio não entra oficialmente na corrida?), a batalha pela nomeação poderá vir a ser disputada por estes quatro nomes (seguindo a ordem de probabilidades): Mitt Romney, Tim Pawlenty, Jon Huntsman e, espantem-se, Michelle Bachmann.
Dentro deste quadro (um pouco bizarro, diga-se), o nome da congressista do Minnesotta só aparece porque as hipóteses mais fortes que poderiam aparecer do campo radical ou não avançaram ou se encontram irremediavelmente feridas: Sarah Palin, Mike Huckabee, Donald Trump e Newt Gingrich.
É certo que há mais pretendentes no terreno, mas nenhum deles tem hipóteses reais de obter a nomeação: Gary Johnson (pela despenalização das drogas) e Ron Paul (contra qualquer tipo de imposto ou instituição) apenas discutem a facção minoritária dos libertários; Rick Santorum é um antigo senador da Pensilvânia com boas credenciais conservadoras mas, simplesmente, não tem dimensão nacional para poder sonhar com a nomeação; Herman Cain tem feito uma campanha incisiva na sua esfera muito colada à direita, mas nunca conseguirá atingir os dois dígitos nas sondagens, porque se trata de um candidato fora do mainstream do Partido Republicano.
A meio ano do Iowa e do New Hampshire, começa a ser tempo de pôr as cartas na mesa. E há um dado cada vez mais claro: a máquina que domina o establishment do Partido Republicano não se sente à vontade com Mitt Romney como provável nomeado – caso contrário já lhe teria dado um apoio mais visível.
A questão é que quem poderia agarrar esse apoio também não avançou: Mitch Daniels, antigo governador do Indiana, Haley Barbour, ex-governador do Mississipi, ou mesmo Jeb Bush, irmão e filho de antigos Presidentes e um ex-governador da Florida ainda muito popular.
Pode Tim Pawlenty merecer a confiança do aparelho republicano? Pode – mas ainda terá que provar muito, durante os próximos meses. Por enquanto, o ex-governador do Minnesotta continua a acusar uma grande falta de notoriedade nas sondagens. E não se prevê que seja ele a ultrapassar Romney.
Então e essa surpresa?
Um olhar pela história recente dos nomeados presidenciais republicanos mostra-nos uma tendência relativamente consistente: quem tenta uma e outra vez, e fica em segundo ou terceiro lugar, tem fortes hipóteses de alcançar a nomeação mais tarde. Foi assim com Nixon. Foi assim com Reagan. Foi assim com Bush pai. E foi assim com John McCain.
Este trend histórico parecia favorecer a narrativa de Romney (que foi terceiro nas primárias republicanas de 2008) como nomeado mais natural dos republicanos para 2012 – sobretudo depois de se saber que Mike Huckabee (segundo em 2008) não irá a jogo.
Se a isso juntarmos o lado moderado de Mitt (um dos dois candidatos, a par de Tim Pawlenty, com mais hipóteses de disputar o centro a Obama na eleição geral) e a máquina eleitoral que ele já conseguiu montar (herdada da campanha de 2008 e aumentada nas últimas semanas com a liderança nas sondagens do campo republicano), tudo indicava no sentido de Romney ser o claro favorito à nomeação.
Só que Mitt não entusiasma por aí além as hostes republicanas. Ann Coulter, escritora e ‘opinion maker’ conservadora, resume assim esse sentimento: «Mitt Romney é o nomeado provável para este ano. E tem motivos para o ser. Agora: se acho que ele vai bater Obama na eleição geral? Acho que não. E eu quero nomear alguém que me dê esperanças de derrotar este Presidente…»
Ainda que uma análise fria dos dados não dê grande razão a Ann Coulter (Romney poderá ter algumas hipóteses de derrotar Obama, de acordo com as últimas sondagens, sobretudo se a situação económica se agravar no próximo ano), esta ideia não é isolada no ‘core’ republicano.
Algumas vozes tentam desafiar uma candidatura surpresa, de nomes que são apontados como futuros trunfos do GOP para 2016, ano mais apetecível dado que não implicará uma disputa com um Presidente em funções: Marco Rubio, 40 anos, senador pela Florida; Chris Christie, 48anos, governador da Nova Jérsia; ou Paul Ryan, 41 anos, congressista do Wisconsin – a tal ‘candidatura-surpresa’ sairia de um destes três nomes.
Nada provável, mas suficientemente mobilizador para quem acha pobre o leque de actuais candidatos.
O desastre Gingrich
Fora da luta real pela nomeação está, definitivamente, Newt Gingrich. Newt é um daqueles casos de puro desperdício político: pode não simpatizar-se com as ideias dele (eu não simpatizo mesmo nada…), mas é indiscutível que se trata de um tipo brilhante. Muito culto e com uma grande noção do que «é ser americano» -- algo fundamental para um candidato que pretenda ter hipóteses reais de nomeação presidencial por um dos partidos do sistema.
Mas Gingrich foi mostrando quase sempre, no seu já longo percurso político, uma estranha tendência para estragar tudo na hora da verdade.
Isso voltou a acontecer desta vez. Newt avançou numa altura em que o cenário republicano parecia ser favorável às suas aspirações: sem um claro ‘frontrunner’ a destacar-se na corrida, e com uma noção generalizada de que faltava «peso político» aos candidatos que já estavam no terreno, Gingrich bem tentou ser a solução para um «back to basics» ao conservadorismo que se reivindicou como «maioria moral» da América na década de 90 – mesmo quando na Casa Branca estava um Presidente como Bill Clinton.
Só que a vocação de Newt para o desastre voltou a sobrepor-se. Gingrich ignorou os conselhos dos seus principais estrategas e seguiu num cruzeiro de duas semanas com a mulher, numa altura em que a corrida republicana entra numa fase importante.
Resultado: viu todos os seus conselheiros e assessores demitirem-se, sendo que alguns deles trabalhavam com o antigo speaker do Congresso há vários anos.
Parece que estava escrito nas estrelas: Gingrich não será mesmo candidato presidencial pelo Partido Republicano. Não o foi em 2000, nem sequer tentou em 2008 – e não o será em 2012.
Ao contrário do que muitos conservadores gritavam há quatro anos, para tentar travar a Obamania (‘Run, Newt, run!’), parece que desta vez o que se canta é… ‘No, Newt, don’t do it!’
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