terça-feira, 4 de setembro de 2012

Histórias da Casa Branca: Dois caminhos para a mesma ideia de América


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 4 DE SETEMBRO DE 2012:


Dois caminhos para a mesma ideia de América

Por Germano Almeida




«A essência da América é que não importa de onde se veio, mas para onde se vai», Condolleezza Rice, secretária de Estado norte-americana (2005-2009) e Conselheira de Segurança Nacional (2001-2005).



O duelo presidencial Barack Obama/Mitt Romney de 6 de novembro promete ser dos mais agressivos e fraturados das últimas décadas na América.



As diferenças de estilo, ideias e propostas dos dois nomeados são tão grandes que não há plataforma de entendimento possível em matérias essenciais. A agravar tudo isto, o ambiente nas hostes democratas e republicanos é especialmente crispado, depois de quatro anos de mandato presidencial de Obama muito marcado pelas divisões entre os dois campos – sobretudo depois do controlo do Congresso por parte do Partido Republicano.



A Convenção Republicana que se realizou, na semana passada, em Tampa, na Florida, foi um bom indicador dos níveis de hostilidade e, nalguns casos, mesmo de raiva que as principais figuras do conservadorismo têm pelo atual Presidente.



A lamentável cena da cadeira vazia onde supostamente estaria um invisível, protagonizada por Clint Eastwood, foi um belo exemplo do sentimento que invade o Partido Republicano.



A política americana sempre teve um lado ‘silly’, mas o número preparado por Eastwood terá sido um dos momentos mais ridículos já vistos numa convenção partidária.



Com ele, o protagonista de ‘Dirty Harry’ terá querido simbolizar o que muitos conservadores americanos consideram ter sido o esvaziamento do poder presidencial (dentro dos moldes que eles consideram que este deve ser corporizado), desde que Obama chegou à Casa Branca.



A mentalidade subjacente à crítica encenada de Eastwood tem como principal ideia a de que Obama diminuiu a carga que a figura de Presidente dos EUA deve ter – e vai ao encontro da tese republicana de que Barack foi demasiado permissivo com o Irão ou com os países árabes do Médio Oriente, que podem ameaçar Israel.



Para muitos republicanos, Obama teve uma política de demasia-a abertura para com países que possam constituir uma ameaça ao poder americano. Daí se percebem, por exemplo, as referências de Mitt Romney à China e à Rússia (o nomeado presidencial republicano prometeu ser mais duro com Putin e acusou Obama de ter permitido que os chineses aumentassem a sua influência junto da economia americana).



Esta visão republicana de um Obama «demasiado macio» para com o exterior foi especialmente referida no discurso de Condoleeza Rice.



A secretária de Estado do segundo mandato de George W. Bush (primeira mulher a chefiar o Conselho de Segurança Nacional, no primeiro mandato de Bush filho e assessora diplomática de Bush pai) foi particularmente dura com o estilo de Obama nas relações externas, ao referir: «Uma América que não lidera pode ter duas consequências: o caos, se ninguém ocupar o seu lugar; ou uma séria ameaça, se outros países que não defendem os nossos valores assumiram o espaço que estamos a deixar vazio».



A América como «país excecional»



Este fogo cruzado dos republicanos sobre Obama remetem para uma das ideias fortes que Mitt Romney tentará lançar nos próximos dois meses: a de que esta administração democrata enfraqueceu a liderança dos EUA no Mundo e que, com uma vitória republicana em novembro, a Casa Branca voltará a lançar a América como «um país excecional e indispensável» na ordem internacional.



Quem tenha ouvido as principais intervenções políticas da Convenção Republicana (Mitt Romney, Paul Ryan, Chris Christie, Mike Huckabee, Marco Rubio, Condoleeza Rice, Jeb Bush, Bob McDonnell...), pode ter ficado com a noção de que democratas e republicanos têm, por estes dias, visões radicalmente opostas sobre a América.



Mas uma análise mais atenta às ideias fortes que foram passadas em Tampa faz-nos perceber que o que move e, sobretudo, comove um democrata e um republicano não difere muito: uma boa história americana, de alguém que, como muito bem definiu Condoleezza Rice, «não tenha sido marcada pelo seu passado, mas pelo seu futuro; não pelo que está para trás, mas por aquilo que está por vir».



Essa ideia, que basicamente explica o sucesso retumbante de Barack Obama há quatro anos, é a que continua a dominar o discurso político americano.



Momentos depois da cena lamentável da cadeira vazia, Clint Eastwood fez aquela que foi talvez a melhor declaração da Convenção Republicana, definindo muito do espírito americana, ao virar-se para a assistência em Tampa: «Quem manda na América são vocês. Os políticos são apenas funcionários. Se fizerem um mau trabalho, devem ser despedidos».



Romney tem tentado contar a sua história de empresário de sucesso. Falta saber se conseguirá convencer a maioria dos americanos que poderá ser mais do que isso.



Faltam 63 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos»

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