TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 7 DE FEVEREIRO DE 2013:
A poucos dias do seu primeiro discurso sobre o Estado da União no segundo mandato, Barack Obama vai dando sinais de querer ser, nos próximos quatro anos, cada vez mais um «Presidente dos americanos» e menos um «Presidente americano para mudar o Mundo».
Se uma boa parte da promessa de «mudança dos EUA e do Mundo» de 2008 teve que ficar na gaveta, a reeleição mostrou que ele ainda vai a tempo de a fazer, pelo menos nalguns aspetos, no seu próprio país.
Os anunciados cortes na Defesa mostram que os próximos anos vão mostrar uma América mais recatada na cena mundial.
Não confundamos as coisas: os EUA vão continuar a ser maior superpotência do Mundo. A questão é que cada decisão sobre política externa que fizerem será cada vez mais pensada e ponderada, em função das possibilidades orçamentais.
Na verdade, isso já começou a acontecer na parte final dos anos Bush e nos primeiros anos da era Obama.
A intervenção na Líbia teve a originalidade de colocar os EUA empenhados, mas sem liderar. E a «contenção» na Síria prova que o conceito americano de «tolerância» para com os abusos de ditadores tenderá a aumentar.
Barack Obama acredita que a América continua destinada a liderar, mas tem uma interpretação restritiva da «excecionalidade americana».
Quer que os EUA continuem a ser inovadores no plano tecnológico e do conhecimento. Quer que as universidades americanas se mantenham uma referência nos «rankings» internacionais.
Mas o Presidente, agora reforçado politicamente com a reeleição, vai apontar o principal das suas baterias em temas que interessam, sobretudo, aos americanos.
Quer fazer dos EUA a maior potência energética do Mundo até 2020. Dito assim, parece um mero «slogan» de campanha, sem grande significado prático. Sucede que é bem mais do que isto.
Nos últimos anos, a Administração Obama deu passos importantes para colocar a América no caminho da independência energética.
A base da presença excessiva dos americanos em cenários de guerra nas última décadas tem a ver com os interesses estratégicos que os EUA quiseram preservar no Golfo Pérsico e no Médio Oriente.
Mas os dados mudaram nos últimos anos. Mesmo continuando a ser os principais produtores de petróleo, os países daquela região têm, hoje, novos concorrentes.
Perante o reerguer da Rússia como importante produtor de petróleo e gás natural, os EUA fizeram aposta forte no aumento da produção própria.
A percentagem de dependência do petróleo estrangeiro é cada vez menor. E aposta nas reservas de gás de xisto, aumentada com descobertas recentes, é cada vez maior.
A «independência energética» será um conceito cada vez mais defendido por Obama nos próximos quatro anos.
No tabuleiro mais político, Barack Obama sabe que tem pouco mais do que um ano para concretizar o que pretende.
Energizado pela vitória de 6 de novembro e pelo bom discurso de posse, terá que aproveitar o ambiente favorável de 2013 para apostar numa reforma de imigração ambiciosa (com aliados improváveis, como o senador John McCain e mesmo algumas figuras da direita cristã, como o senador Lindsay Graham) e na obtenção de um consenso social alargado, que ultrapasse barreiras políticas e ideológicas, em torno da questão do controlo de armas.
Um Obama mais «americano» e menos «internacional»? Só será surpresa para quem não o acompanha há vários anos.
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