TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 13 DE FEVEREIRO DE 2013:
O discurso sobre o Estado da União confirmou um Obama com grande vontade de aproveitar os primeiros dois anos do seu segundo mandato para completar uma agenda mais liberal e combativa.
A tomada de posse marcara um tom mais agressivo do que o esperado em relação à oposição republicana. Já se esperava que o discurso de terça à noite reforçasse esta ideia. Mas talvez não se imaginasse que Obama avançasse com propostas como a de aumentar o salário mínimo.
«A América é a nação mais rica do Mundo. Não é aceitável que, neste país, um americano que trabalhe a tempo inteiro continua a correr o risco de cair na pobreza», exortou o Presidente. Os congressistas democratas da ala mais ficaram eufóricos. Vários membros republicanos da Câmara dos Representantes e do Senado engoliram em seco.
Barack Obama quer vestir a pele, no segundo mandato, de um Presidente próximo da base ideológica que o reelegeu.
Mas Obama optou por uma abordagem mais abrangente do que a que teve na tomada de posse. Retomou frases que usou várias vezes no espírito conciliatório do primeiro mandato, ao observar: «Nunca podemos ter a pretensão de que cem por cento daquilo que desejamos e acreditamos vai vencer. Os dois lados têm ser capazes do compromisso. Temos que avançar para leis que não são democratas, nem republicanas. São de bom senso».
Foi um Barack Obama com uma clara noção de que a mão, no eterno jogo de cartas da política americana, está do seu lado. Parte para o segundo mandato com 53 por cento de aprovação (mais oito pontos do que tinha no Estado da União de 2012) e vê um Partido Republicano ainda atordoado com a derrota clara nas presidenciais de novembro.
A escolha de Marco Rubio para fazer a reação oficial dos republicanos comprova a clara aposta do GOP em piscar o olho às minorias, sobretudo aos latinos. Não por acaso, o jovem senador da Florida, favorito republicano à nomeação presidencial para 2016, fez duas respostas seguidas: uma inglês, outra em espanhol.
O Presidente confirmou quatro grandes prioridades já enunciadas na sua segunda inauguração: Reforma de Imigração («é este o tempo para a fazer e espero receber, nos próximos meses, uma lei bipartidária proposta por este Congresso»); alterações climáticas («não é prudente continuarmos a achar que a supertempestade Sandy, os incêndios e as secas são meras coincidências»); independência energética («os EUA estão a produzir petróleo em níveis máximos nos últimos 15/20 anos») e Reforma Fiscal, com uma profunda insistência numa solução para a Fiscal Cliff que proteja a classe média.
Mas o momento mais alto da hora e pouco de discurso de Barack Obama no Capitólio foi a referência ao «gun control». «Passaram dois meses sobre Newtown. Não foi a primeira vez que uma tragédia destas nos afetou. Mas, desta vez, foi diferente».
O Presidente contou o caso de Haidya Pendleton, uma menina de Chicago que esteve em Washington na tomada de posse, a 21 de janeiro, e que uma semana depois foi morta a tiro num parque, perto da casa de Obama, no Illinois.
Com a presença dos pais da falecida Haidya, o momento foi marcado por uma grande emoção, vendo-se lágrimas nos olhos de muitos congressistas dos dois partidos. Para o Presidente, «este é o momento de a América encontrar um grande consenso sobre o controlo de armas».
Já sem o estigma de ter que salvar a América da Grande Depressão (que limitou os primeiros anos da sua presidência), e com uma década de guerra a terminar para os Estados Unidos (ontem mesmo foi anunciada a retirada de mais 34 mil efetivos americanos do Afeganistão),
Barack Obama mostrou vontade de seguir em frente, como prometia o slogane da sua reeleição.
O próximo ano e meio será decisivo para sabermos se Obama conseguirá mesmo deixar um legado.
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