«O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros»
Margaret Thatcher
O seu legado não será pacífico ou consensual. A esquerda nunca lhe perdoará a liderança «liberal» que ditou o início de uma era de cortes na dimensão do Estado nas democracias ocidentais.
Há, até, quem lhe aponte excessiva proximidade com o antigo ditador chileno, o general Pinochet.
Mas Margaret Hilda Thatcher, nascida a 13 de outubro de 1925 em Lincolnshire, e falecida esta manhã, em Londres, aos 87 anos, vítima de acidente vascular cerebral, ainda hoje a única mulher a liderar o governo britânico, entrará certamente para os livros de história como um dos líderes mundiais mais relevantes do final do século XX.
Porque merece uma crónica especial neste espaço dedicado à política americana e, em particular, à quem ocupa a Casa Branca?
Resposta simples: porque nenhum outro líder mundial teve tamanha influência junto de um Presidente americano, como Margaret Thatcher.
Primeira-ministra britânica entre 1979 e 1990, morreu com o título de baronesa, mas foi outro o epíteto pelo qual ficou eternamente conhecida.
«Dama de Ferro» foi um termo utilizado pela primeira vez numa revista soviética, numa feliz imagem que simboliza o perfil duro, determinado e, muitas vezes, inflexível da então chefe do governo inglês.
O seu legado governamental ficou associado ao êxito nas Malvinas, mas também às decisões duríssimas no processo irlandês. Aprovou intervenções militares contra o IRA, derrotou os argentinos nas Falkland, mas a sua maior herança será o caminho de desregulamentação e «small government», que fez doutrina na Velha Albion e atravessou o Atlântico, conquistando uma boa parte dos ideólogos do conservadorismo americanio.
Há quem veja em Margaret Thatcher o «lado cerebral do Reaganismo».
Os anos 80 foram dominados, do ponto de vista simbólico, por esse «tandem» improvável entre a gélida Margaret e o carismático Ronald.
Inicialmente, havia a perceção de que Reagan, antigo ator de Hollywood, seria um Presidente pouco ideológico.
Mas essa dupla Reagan-Thatcher viria a mostrar-se a mais influente aliança política dos últimos 30 anos, simbolizando a ideia de que «o problema não está no Governo, o problema É o Governo».
Impopular, chegou mesmo a ser odiada pelos sindicatos, pelos cortes decretados e a intolerância para greves.
Mas quando se estudar, nos manuais de história política, o conceito de «thatcherismo», vai falar-se, essencialmente, de baixa de impostos, governo pequeno, liberalismo e desregulamentação.
Terá sido ela a culpada para o caminho de derrocada do Estado Social, ideia que estará, por estes anos, a dar as últimas? Ainda é cedo para responder.
Mas a avaliar pelas reações, esta segunda-feira, à sua morte, são mais os aspetos positivos do que negativos do seu legado.
Barack Obama, um Presidente ideologicamente no campo oposto do «tandem» Thatcher-Reagan, disse de Margaret ter sido «a maior amiga do EUA».
Assim será lembrada.
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