sexta-feira, 10 de maio de 2013

Histórias da Casa Branca: dois anos depois de Bin Laden

TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 2 DE MAIO DE 2013:

«Foi o momento de maior euforia do primeiro mandato de Barack Obama. 

A América estava a poucos meses de assinalar uma década dos trágicos atentados de 11 de setembro de 2001. E reagiu, em êxtase, à notícia de que Osama Bin Laden, o principal mentor do maior ataque em solo americano, tinha sido morto. 

Do ponto de vista simbólico, foi a estocada final no fantasma do terrorismo islâmico ¿ que depois dessa data infame, não viria a ter novas concretizações em território norte-americano (mas que nos anos seguintes à queda das Torres Gémeas teria réplicas significativas em Madrid, Londres, alguns países árabes e na Indonésia, em Bali). 

Uma operação muito bem-sucedida, consumada no terreno por um pequeno grupo de operacionais altamente especializado da Joint Special Operations Command, em conjunto com a CIA, redundou na morte do inimigo número 1 da América: faz hoje dois anos. 

Barack Obama ficaria, assim, com os louros de um momento mediático que o seu antecessor George W. Bush bem quereria ter tido: o de anunciar aos EUA e ao Mundo que Osama Bin Laden estava morto.

A «Operação Geronimo» era de risco máximo para o Presidente. «Se ele estivesse errado na decisão de mandar avançar, a sua Presidência estava acabada», observa Joe Biden, seu vice-presidente.

Se nos lembrarmos do momento político que se vivia há dois anos na América, é bem capaz de ser verdade. 

Meio ano antes, Obama tinha sofrido a maior derrota eleitoral da sua vida: os democratas foram arrasados nas eleições intercalares de novembro de 2010 e o roteiro legislativo que o Presidente tinha preparado para o primeiro mandato estava em sério risco. 

Um eventual fracasso nesta operação colocaria a legitimidade presidencial de Obama em sério risco.

O sucesso da operação em Abbotabad, nos arredores da capital paquistanesa, conferiu ao Presidente um novo impulso (atingiu, nas semanas seguintes, o pico de popularidade desde que chegou à Casa Branca) e reforçou a sua tese de que havia chegado o tempo de retirar o combate ao terrorismo das prioridades políticas dos EUA.

Dois anos depois, o quadro de referências em torno desta questão é bem diferente. Barack Obama foi reeleito para um segundo mandato. As retiradas do Iraque e do Afeganistão já estão em curso e são irreversíveis. Os casos da Líbia e da Síria mostram que os EUA estão, pelo menos durante a era Obama, numa fase de influenciar sem intervir. 

Parecia ter chegado o tempo do realismo puro e duro. E parecia que o terrorismo tinha saído por completo da agenda política na América.

Mas entretanto aconteceu Boston. Aparentemente, não se trata de algo sequer comparável ao 11 de Setembro de 2001. Mas as investigações sobre quem esteve por trás dos inesperados acontecimentos na Maratona de Boston prosseguem e ainda está por esclarecer se os ataques foram apenas preparados pelos dois irmão chechenos. 

Dois anos depois da morte de Bin Laden, a América parece mais segura. Mas nunca fiando.»

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