TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 14 DE JUNHO DE 2013:
O Mundo está perigoso e cada vez mais imprevisível: Síria, Istambul, Grécia, São Paulo.
Estamos a caminhar para a era da incerteza global e seria, por isso, de esperar que uma ordem internacional clara e pronta a atuar pudesse responder nos momentos de perturbação.
Sucede que o caminho é precisamente o contrário.
Apesar de ainda serem, de longe, a maior superpotência militar, os Estados Unidos estão cada vez menos interessados em intervir, com forças operacionais no terreno, em território estrangeiro.
No primeiro mandato, Barack Obama apontou as decisões políticas para a retirada militar do Iraque e do Afeganistão. E nem hesitou em inaugurar posições novas na influência americana, ao colaborar sem liderar («leading from behind») na intervenção na Líbia e ao deixar as despesas de combate no Mali para os franceses.
O tempo em Washington é de regressar a casa («nation building at home») e a vontade política da Administração Obama em avançar para aventuras militares que pudessem implicar perdas humanas e gastos de guerra elevados é quase nula.
É neste contexto que se compreende a passividade dos EUA em relação ao que está a acontecer na Síria.
Ontem, a Administração Obama confirmou que tem indicações de que o regime de Assad utilizou armas químicas contra os rebeldes.
Não há muito tempo, essa seria a «red line» que, a ser atravessada, justificaria uma intervenção da comunidade internacional, no quadro da ONU e com a participação operacional da NATO.
Em Bruxelas, o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, não podia ser mais perentório: «A comunidade internacional já deixou claro que qualquer uso de armas químicas é completamente inaceitável e uma clara violação da lei internacional».
Mas nos dias estranhos que correm, o interesse de EUA e aliados em avançar para a Síria é muito reduzido.
A retórica da Administração Obama em relação a este tema subiu de tom consideravelmente nos últimos dias.
A visita do senador John McCain, um dos mais experimentados políticos de Washington neste tipo de terrenos, à Síria acelerou uma mudança na avaliação americana em relação a este problema. A noção de que não dava para continuar a assobiar para o lado foi muito maior.
A confirmação de que Assad utilizou mesmo gás sarin contra os rebeldes foi a gota de água que fez transbordar o copo.
Nas últimas duas semanas, Barack Obama fez questão de ouvir os seus mais importantes conselheiros de Segurança Nacional e Defesa. Chuck Hagel, chefe do Pentágono, não queria um endurecimento, mas as opiniões de John Kerry, secretário de Estado, e Susan Rice, a recém-nomeada Conselheira de Segurança Nacional, terão sido decisivas para que Obama evoluísse a sua posição para um apoio mais direto dos EUA ao armamento dos rebeldes e à imposição de uma «no fly zone».
Mas que ninguém pense que veremos soldados americanos a morrer em Damasco daqui a uns meses.
A nova liderança americana terá, na crise síria, mais uma demonstração da visão Obama sobre estas questões: os EUA vão patrocinar um reforço de armamento dos rebeldes. Mas as questões sírias devem ser resolvidas entre os sírios.
O discurso que o Presidente Obama se prepara para proferir sobre a situação na Síria deverá confirmar estes sinais.
Bem-vindos aos anos do realismo levado ao limite.
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