«Os Estados Unidos subestimaram o crescimento do Estado Islâmico na Síria e no Iraque»
BARACK OBAMA, Presidente dos Estados Unidos
BARACK OBAMA, Presidente dos Estados Unidos
Como é que foi possível que o Estado Islâmico tenha galopado, em poucas semanas, de forma tão ameaçadora em zonas cruciais do Iraque e na Síria?
Sendo zonas com que os Estados Unidos, nos últimos anos, tanto se familiarizaram (seja a nível militar ou no plano político), o que os levou a deixarem campo aberto a uma organização tão perigosa e agressiva?
Obama, em entrevista ao «60 Minutes», elaborou sobre esses temas e deixou duas ideias fortes, ambas com um certo lado confessional: os Estados Unidos subestimaram a ameaça do EI na Síria e no Iraque; por outro lado, contavam com maior capacidade de resistência das forças iraquianas no terreno.
Ou seja, o Presidente explica o descontrolo da situação, que levou à necessidade do início dos bombardeamentos aéreos no Iraque (a 7 de agosto) e ao anunciar de um plano de grande escala de «combate e destruição do Estado Islâmico», com alargamento das ações aéreas à Síria (onde o EI tem o quartel-general, na cidade de Raqqa), com os EUA a liderarem «coligação internacional», composta já por 50 países (e que já contou com raides aéreos também da França e, nos últimos dias, do Reino Unido).
Em entrevista a Steve Kroft, Obama caucionou a opinião do diretor da National Intelligente, James Clapper, que tinha apontado esses dois pecados por parte dos EUA: a sub-avaliação da ameaça extremista e uma expetativa de maior eficácia das forças iraquianas no terreno. «Isso é verdade. Absolutamente verdade», admitiu o Presidente.
Obama traçou assim o resumo do contexto na região, para explicar o avanço do EI: «Essencialmente o que que se passou com o Estado Islâmico foi que havia a Al Qaeda no Iraque, que era um grupo perigoso, mas os nossos Marines estavam para os defrontar, com a ajuda das tribos sunitas. Eles recuaram, perderam terreno, ficaram na sombra, mas nos últimos anos, durante o caos da guerra civil na Síria, foi essencialmente que passou a haver enormes zonas do país que ficaram sem governo, sem controlo. O Estado Islâmico foi capaz de reconstituir essas zonas, tirando vantagem do caos».
Enquanto isso, a avaliação de culpas sobre o tempo que Washington demorou a identificar o grau de ameaça prossegue na arena política e comunicacional nos Estados Unidos.
John Karl, da ABC News, confrontou o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest: «Foram os serviços de inteligência a sub-avaliar o EI, ou foi o Presidente que caiu nesse erro?». Earnest enquadrou: «Diria que toda a gente o fez. Toda a gente ficou surpreendida ao ver o rápido avanço deles, tanto na Síria como na fronteira com o Iraque e como conseguiram controlar zonas fundamentais do Iraque. Foi surpreendente. E foi algo que o Presidente referiu várias vezes e de que membros dos serviços de informação tinham conhecimento».
Perante a resposta circular, John Karl voltou à carga: «Como pode Obama dizer que subestimar o Estado Islâmico foi um erro de avaliação dos serviços de inteligência quando foi avisado para o perigo?»
A questão é que a Casa Branca tem mantido a ideia de que o erro foi mais generalizado, não se limitou à visão do Presidente. «Quem mandava nos serviços de inteligência disse que o que não fizemos foi prever a vontade de lugar, esse é sempre o maior problema¿», apontou Josh Earnest.
Mas, mais à frente, o porta-voz da Administração Obama garantia: «O Presidente tem completa confiança nos serviços de inteligência para lidar com estas muito dinâmica mas significativa ameaças ao nosso largo interesse nacional. Ele tem completa confiança na capacidade da nossa comunidade de informações para recolher os dados essenciais que nos ajudem a combater e diminuir esta ameaça».
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