domingo, 17 de maio de 2009

Notável, convencional ou, no fim de tudo, uma... desilusão em potência?



Depende do ponto de vista e, claro, do que vier a acontecer no futuro. As ideias, sobre o que é e o que pode vir a ser Barack Obama, são de David Held, professor na London School of Economics, em entrevista ao P2:

«Há três coisas em relação a Obama. Em primeiro lugar, Obama é um ser humano notável. Depois, olhando para a sua história de votos como senador, vejo que era um democrata convencional. E, por fim, olhemos para 1997. Nesse ano, em Inglaterra, um jovem cheio de promessa chegou a primeiro-ministro. Dez anos depois, já só queríamos ver-nos livres dele. Mas claro que Obama é uma grande promessa. Agora, o grande teste para ele não é o de saber se irá ser um grande líder, mas sim se é capaz de fortalecer as instituições, especialmente a um nível global. Fazer com que os EUA sejam um parceiro credível na reforma da governação ambiental, financeira e de segurança. Se conseguir isso, será um dos melhores presidentes de todos os tempos.»

4 comentários:

MARIA disse...

Obama é um ser humano notável.
Concordo.
Será o Presidente que se esperava ?
Como interpretas a sua posição sobre Guantanamo recentemente ?

Um beijinho amigo

M.

Anónimo disse...

Um humano notavel? Nao creio
pessoalmente eu penso que ele e um Fato Vazio (empty suite)

Muitos beijinhos

Germano Almeida disse...

Olá Maria. Para tentar responder às tuas (difíceis) perguntas:

como em tudo na política, há que saber lidar com «a arte do possível». Depois de dois anos inesquecíveis de uma campanha quase perfeita, é evidente que o choque da realidade vai diminuindo o lado mágico de Obama. Era inevitável.

Mesmo assim, e passado já meio ano da sua eleição, devo dizer que continua a haver fortes razões para acharmos que Obama será um dos melhores Presidentes de sempre. A equipa que formou é excelente; as decisões que tomou são, até agora, coerentes com o que prometeu. Como é óbvio, teve já falhas: creio que a maior é a de uma excessiva mediatização da sua mensagem, falando quase todos os dias, desta ou daquela forma, aos americanos. Isso para quem é Presidente, e vai governar talvez por oito anos, é um pouco perigoso.

Obama tem vindo a fazer a sua interpetação da mudança. A «change» já aconteceu em muitos sectores -- e vai acontecer em muitos mais. É claro que teve, até agora, dois grandes travões a uma mudança maior: por causa da gigantesca crise económica que apanhou e por causa de uma frente externa cheia de explosões em potência -- Afeganistão, Iraque, Irão e, sobretudo, Paquistão. Além de Israel, claro, que tem um novo governo que é, simplesmente, uma incógnita, com uma desaconselhável dupla Netanyiahu-Lieberman.

No meio disto tudo, já fez coisas muito corajosas e importantes. Fechar Guantánamo foi certamente uma delas. A questão dos tribunais é delicada. Há que encontrar o melhor enquadramento jurídico para resolver situações que a Administração Bush criou e q estão fora do ordenamento jurídico internacional.

Sobre os «memos» da tortura, houve, primeiro, a preocupação de não abrir um julgamento político da administração anterior, que criaria tensões de desfecho imprevisível no sistema americano, que vai vivendo de «frágeis consensos» entre democratas e republicanos.

Mas as coisas têm vindo a saber-se e isso já é importante. O sistema americano, feito de pesos e contrapesos, não depende apenas da vontade política do Presidente. No que tem dependido de Obama, o balanço destes 100 e tal dias é, creio, muitíssimo positivo.

A forma como Obama tem sabido gerar boas vontades no Mundo (Chavez, os iranianos que não Ahmadinejad, questão israelo-árabe, mesmo Cuba) é simplesmente notável. Veremos como isto vai evoluir.

Da minha parte, e agora farei um pouco de professor Marcelo, daria um... 17 a esta fase inicial de Obama. Mas também sei que o mais importante ainda está para vir: primeiros resultados práticos dos 'stimulus packages' e início do processo de paz no Médio Oriente, já com o novo governo israelita.

Aguardemos... Um beijinho.

Germano Almeida disse...

Cara anónima,

obrigado pela mensagem. Como reparará pelo que escrevi na resposta anterior, estou em desacordo consigo. Uma das coisas que mais me impressiona na qualidade política de Obama é a forma como alia o carisma (o Fato, para usar a sua imagem) com a consistência e profundidade de pensamento (não sendo, por isso, vazios).

Só um pequeno exemplo para ilustrar o que estou a dizer: se ler (ou reler, se já leu) os textos e discursos de Obama em 2002, como senador estadual, ou em 2005, no US Senate, ou ainda antes, nos seus livros (mesmo no que escreveu quando tinha apenas 33 anos), verá que o que o jovem político Barack pensava e formulava é, no global, aquilo que o Presidente Obama continua a dizer, já na Casa Branca.

Essa qualidade, nos tempos que correm, é rara e, acredite, muito, muito preciosa.

Obrigado pela mensagem, continue a aparecer por cá.