quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Histórias da Casa Branca: Romney lançado, Santorum renascido


Mitt e Ann festejam a vitória no Iowa: o casal Romney parte para o New Hampshire em vantagem, mas os 25% do antigo governador do Massachussets mostram que ainda há reservas no Partido Republicano em relação à nomeação. Rick Santorum, ultraconservador, esteve a oito votos de provocar uma grande surpresa


Romney lançado, Santorum renascido

Por Germano Almeida


O Iowa confirmou o favoritismo de Mitt Romney na corrida à nomeação presidencial republicana, mas a questão está longe de estar fechada.

O antigo governador do Massachussets venceu o estado de arranque por apenas… oito votos (!!) sobre o segundo classificado, Rick Santorum. O antigo senador da Pensilvânia foi a surpresa da noite – e pode ter colocado em risco a estratégia de Newt Gingrich e do próprio Mitt Romney.

Em política, uma vitória é sempre uma vitória: mesmo que tenha sido só por oito votos num universo de 120 mil votantes. Romney marcou pontos e deverá, até, ser o primeiro republicano a vencer as duas primeiras batalhas (Iowa e New Hampshire), desde 1976.

Saiu fortalecida a ideia de que Mitt Romney tem tudo para obter a nomeação – e no ‘day after’ do triunfo no Iowa, Romney até recebeu mais um apoio de peso: John McCain, seu antigo rival em 2008.

Mas permanecem algumas incógnitas em torno da viabilidade do sucesso de Romney: para todos os efeitos, 75 por cento dos eleitores que ontem votaram não o escolheram e isso prova que as bases do GOP ainda não estão convencidas quanto ao «conservadorismo» de Mitt.

A excelente votação de Santorum é um sinal de alarme para Romney. Mitt teve, no Iowa, exactamente a mesma votação de há quatro anos – e isso não é, propriamente, um augúrio de que terá um passeio até à nomeação.

Santorum é o novo caso a seguir
Rick Santorum é o novo ‘case study’ desta tão impressível corrida. Passou meses e meses com valores residuais. Nos primeiros debates, os outros candidatos quase nem se lembravam que ele estava presente.

Foi trabalhando, discretamente, na ideia de que seria o candidato da ala mais à direita com melhores condições de sobreviver ao embate eleitoral. Enquanto Michele Bachmann e Rick Perry se desgastavam, Santorum foi apostando tudo no Iowa.

A sua tentativa de ser o Mike Huckabee do Iowa, quatro anos depois, quase foi premiada com a vitória. Falhou por oito votos o objectivo de terminar em primeiro no estado de arranque, mas saiu do ‘hawk eye state’ muito reforçado.

O antigo senador da Pensilvânia coloca Deus em todo o seu argumentário político. Conseguiu agarrar uma importante fatia do eleitorado evangélico do Iowa que torce o nariz ao facto de Romney ser mórmon e não gosta do passado pessoal de Newt Gingrich.

Com quase o dobro da votação de Newt, Rick Santorum sai do Iowa com fortes hipóteses de roubar a Gingrich o estatuto de principal opositor de Romney.

Newt joga tudo na Carolina do Sul
Um dos perdedores da noite foi, obviamente, Newt Gingrich. Até ao final de Novembro, logo após a queda livre de Herman Cain, o ex-speaker da Câmara dos Representantes assumiu-se como ‘frontrunner’ da corrida.

Inteligente, culto, profundo conhecedor da História da América, Newt era apontado por sectores ligados à zona mais tradicional do Partido Republicano como o melhor candidato entre os sete que chegaram ao ‘caucus’ do Iowa.

Só que Gingrich, um veterano da política americana, tem muitos telhados de vidro.

Com um passado pessoal e familiar atribulado (dois divórcios litigiosos e falhas de carácter dificilmente minimizáveis), Newt foi alvo de fortes ataques por parte dos seus adversários, quando se destacou nas sondagens.

Uma boa parte do seu eleitorado, conservador e muito propenso às questões do carácter e da vida pessoal, assustou-se. Newt passou, em poucas semanas, de líder destacado no Iowa para… o quarto lugar, com apenas 13,3%.

A nível nacional, ainda tem bons números, mas terá que resistir ao teste do New Hampshire de modo a chegar à Carolina do Sul, no dia 21 de Janeiro, em condições de vencer Romney. As próximas semanas serão, por isso, o «make or break» para Newt Gingrich.

Bachmann e Perry ‘out’
Rick Perry foi o grande perdedor da noite. O governador do Texas partiu para esta corrida na ‘pole position’, arrancando no Verão em primeiro lugar. Parecia ter argumentos para agarrar a tese de ser o candidato duro, que representa a ala mais conservadora do GOP. Mas revelou-se um desastre em campanha: mal preparado, mal aconselhado. Os dez por cento no Iowa, estado que tem características que supostamente beneficiariam Rick, atira o ‘cowboy’ para fora do rodeo presidencial.

Outra vítima do Iowa foi Michele Bachmann, ironicamente o seu estado natal. Tinha sido o ‘sabor do Verão’ antes de Perry avançar, energizada pela força do Tea Party e ocupando o espaço deixado vago pela abdicação de Sarah Palin (um dos mistérios desta corrida republicana, depois daquele Tour pela América que a ex-vice de John McCain fez durante dois anos…)

Radical, extremista, incoerente e, em muitos temas, ignorante, Michele Bachmann foi passando do ‘buzz’ mediático para uma progressiva insignificância. Um dia depois do péssimo resultado que teve no Iowa, a congressista do Minnesota anunciou a desistência. Não deixará saudades.

Ron Paul corre por fora
Ron Paul, congressista do Texas que representa a facção libertária do Partido Republicano, sai do Iowa com um sabor agridoce. Teve um grande resultado (21,4% dos votos para um candidato que foi sempre tratado pelo seu partido como estando à margem do sistema) é a prova de que as suas ideias anti-Estado e anti-instituições têm um valor eleitoral inegável.

Não será, certamente, o nomeado, mas passou, desde ontem, a ser um dos ‘wild cards’ desta corrida. A partir de agora, o ‘establishment’ do GOP já não pode desdenhar as visões desalinhadas e, em muitos casos, radicais deste médico de 76 anos que consegue ter forte apelo junto do eleitorado mais jovem.

Próxima paragem: New Hampshire
Cumprido o estado de arranque, a próxima paragem neste longa jornada é já na terça-feira, dia 10, no New Hampshire, naquela que será a primeira batalha desta corrida em sistema tradicional de «primárias», por voto secreto em urna. O ‘granite state’ é um estado bem maior que o Iowa, menos conservador e mais diverso.

As sondagens dão um enorme avanço a Mitt Romney, mas o ‘momentum’ ganho por Santorum no Iowa pode alterar os dados nos próximos dias.

Se não houver uma alteração dramática na corrida até dia 10, Romney vencerá o New Hampshire com uma diferença significativa sobre os adversários (talvez de 20 ou 25 pontos), estando a grande questão reservada para o segundo classificado neste segundo round: Gingrich, Santorum ou Huntsman?

Jon Huntsman, que não foi a jogo no Iowa, aposta tudo no New Hampshire, mas precisava que Mitt Romney se saísse pior na estreia para defender a tese de que é o candidato centrista ideal para os republicanos nesta fase. Se não conseguir, pelo menos, o segundo lugar no ‘granite state’, o antigo governador do Utah só tem uma alternativa: desistir da corrida.

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