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sábado, 28 de janeiro de 2012
Histórias da Casa Branca: State of The Union'2012 - Obama põe o pé no acelerador
Acreditar na América e numa economia «construída para durar»: Obama enunciou, no último discurso do Estado da União até às eleições, argumentos e trunfos que o podem levar à reeleição
State of The Union'2012: Obama põe o pé no acelerador
Por Germano Almeida
Foi uma das melhores intervenções de Barack Obama desde que é Presidente: claro nos objectivos, incisivo no diagnóstico, disposto a partir para o combate sempre que a linha da «conciliação» já tenha sido ultrapassada pelo «obstrucionismo» dos dogmas republicanos.
O discurso do Estado da União (terceiro da Presidência Obama e último antes das eleições presidenciais de Novembro) já mostrou uma boa parte do argumentário que Barack pretende usar para a reeleição: o caminho da recuperação económica já foi iniciado e traduz-se nos três milhões de empregos criados nos últimos 22 meses; as injustiças fiscais iniciadas nos anos Bush e agravadas pela maioria republicana no Congresso podem ser corrigidas, desde que a opinião pública perceba o que está em causa e legitime nas urnas a visão do Presidente; a América continua a ser a «nação indispensável», mesmo perante a ascensão da China e a crise europeia.
Há um ano, Obama tinha escolhido o State of The Union para mostrar que a América continua a ser o melhor país para se acreditar num discurso «Winning the future» e tinha falado no «momento Sputnik» desta geração.
Agora, o Presidente reforçou a necessidade de os EUA estarem à frente da China ou da Índia em áreas como a investigação, a inovação e o conhecimento – mas foi mais longe no discurso «proteccionista» e prometeu assinar de imediato projectos que prevejam investimentos fortes em solo americano para «fixar empregos nos EUA e impedir que eles se desloquem para outros países».
Barack, o combatente, já vestiu as luvas e promete não as descalçar até às eleições.
Jobs, jobs, jobs
“Estes são os factos: nos últimos 22 meses, foram criados mais de três milhões de postos de trabalho. As empresas americanas estão a contratar, acrescentando emprego à economia pela primeira vez desde o fim dos anos 90”
Será o principal barómetro para avaliar as hipóteses de Barack obter a reeleição: qual será a taxa de desemprego em Novembro de 2012? Os índices actuais continuam altos (8.5%, sendo que desde Franklin Roosevelt que nenhum Presidente se conseguiu reeleger com desemprego acima dos 7.5%).
Mas a tendência de descida progressiva é clara – e prolonga-se há dois anos seguidos. O Presidente sublinhou, neste discurso, que foram criados mais de três milhões de empregos nos últimos 22 meses. Obama sabe que essa tendência terá sempre mais a ver com dados da economia privada, mas este é, sem dúvida, um trunfo na argumentação do Presidente contra o mantra do corte na despesa dos seus adversários republicanos.
Os estímulos dados à economia nos pacotes aprovados em 2009 estão a ter algum efeito – e isso dá base de sustentação ao discurso de recuperação económica de Obama.
Recuperação Económica
“Pretendo combater o obstrucionismo com acção e opor-me-ei a todas as tentativas de voltar às mesmas políticas que provocaram a crise económica. Não voltaremos a uma economia fragilizada pela deslocalização de postos de trabalho, défice incontrolável e falsos lucros financeiros”
Este foi o discurso da definitiva demarcação de Obama em relação à chantagem política do Congresso de maioria republicana.
Barack sempre se comprometeu com uma pretensão «bipartidária». Mas a prática de quase ano e meio de «coabitação» com uma Câmara dos Representantes esmagadoramente republicana (e um Senado com escassa maioria democrata, longa da Super Maioria da primeira fase do mandato presidencial) mostrou que essa preocupação bipartidária levou, quase sempre, ao adiamento e à paralisação.
A forma como o Presidente não desistiu de aplicar o American Jobs Act, mesmo não tendo ele passado no Congresso, foi o primeiro sinal do que agora é confirmado. Obama combaterá «o obstrucionismo com acção».
O Presidente «da conciliação» mostra, agora, a sua face de «político de combate», que não abdicará da sua tese de reduzir desigualdades e incentivar a classe média com programas de estímulos, apesar da permanente oposição republicana, presas nos dogmas da «baixa de impostos e redução do défice».
Compromisso
“Não há nenhum desafio mais urgente nem nenhum debate mais importante. Podemos contentar-nos com um país em que um número reduzido de pessoas vive muito bem, enquanto um número cada vez maior de americanos sobrevive com dificuldade. Ou então podemos restaurar uma economia em que toda a gente dá a sua contribuição e toda a gente joga pelas mesmas regras. O que está em causa não são valores democratas ou republicanos, mas valores americanos – e temos de os ressuscitar. Os milhões de americanos que trabalham no duro e cumprem as regras merecem que o Governo e o sistema financeiro façam o mesmo. As regras têm de ser iguais para todos – sem resgates, nem dádivas, nem compromissos. Uma América de futuro tem de exigir responsabilidade a todos”
As primárias republicanas têm mostrado candidatos muito diferentes uns dos outros. Mas se há factor que une Romney, Gingrich, Ron Paul ou Rick Santorum é acusar Barack Obama de ser um Presidente que tem «contribuído para o declínio da América».
Essa acusação, tão falsa como simplista, apoia-se no crescimento da China, Índia e Brasil, e no reerguer da Rússia (dados verdadeiros) – e também na noção, essa sim errada, de que a influência dos Estados Unidos está em queda, por culpa, supostamente, de um Presidente que não defende os interesses da América na nova cena internacional.
Obama tem reagido a tudo isto com uma ideia forte: a identificação com os «valores americanos» não é monopólio da Direita americana, muito menos de um Tea Party que diz seguir cegamente os princípios fundadores da Constituição.
O modo como o Presidente transporta para a prática política a sua identificação com os «valores americanos» está muito mais nesta frase: “As regras têm de ser iguais para todos – sem resgates, nem dádivas, nem compromissos. Uma América de futuro tem de exigir responsabilidade a todos”.
A América de Obama tem mais a ver com «equidade», «responsabilidade» como formas de recuperar a ideia do país «das oportunidades», em que «todos cabem», desde que «as regras sejam iguais».
Depois de três anos de discurso demagógico da Direita radical, há sinais que uma boa parte do eleitorado americano saberá fazer a interpretação certa do que deve significar «ser americano».
A secretária de Warren Buffett
“Por causa de subterfúgios do código fiscal, um quarto dos milionários paga menos impostos do que milhões de famílias de classe média. Actualmente, o Warren Buffett paga uma taxa de imposto menor do que a sua secretária”
É um dos temas centrais da mensagem do primeiro mandato presidencial de Obama: enfrentar o poder dos republicanos no Congresso e conseguir aplicar medidas que alterem a realidade fiscal que o Presidente considera injusta.
Barack retomou a narrativa da «secretária de Warren Buffett, que paga mais impostos que o terceiro homem mais rico do Mundo».
Uma aberração fiscal criada pelo ‘mantra’ dos anos Bush (baixar os impostos aos mais ricos, supostamente para deixar dinheiro em quem investe para criar empregos, uma estratégia desmentida pela realidade americana dos últimos anos).
Essa ideia tem sido radicalizada pela Direita americana – e os resultados estão à vista. Obama defende uma profunda alteração a esta realidade fiscal, com benefícios à classe média e fortes penalizações aos extractos com rendimentos mais elevados.
O tema promete dominar a discussão nos próximos meses, até porque o favorito à nomeação republicana, Mitt Romney, viu-se obrigado a revelar os seus rendimentos multimilionários e percebeu-se que paga apenas 13,6% de impostos – menos que os 25 por cento da classe média americana.
Irão
“A América está determinada a impedir que o Irão obtenha uma arma nuclear e eu não excluirei nenhuma opção para conseguir esse objectivo”
Os maiores sucessos da Presidência Obama têm residido na frente externa – e neste discurso do Estado da União, Barack relembrou-os: a eliminação de Bin Laden e neutralização do perigo internacional da Al Qaeda; a luta contra o terrorismo islâmico; as retiradas do Iraque e do Afeganistão; a forma original como os EUA participaram na deposição de Khadafi na Líbia e contribuíram para a Primavera Árabe.
A questão chave da política internacional até às eleições é o Irão. A tensão é crescente, com as ameaças de Teerão em fechar o estreito de Ormuz e em avançar para o programa nuclear – que a comunidade internacional interpreta como ameaça real e o regime de Ahmadinejad garante ter efeitos não bélicos.
Depois de ter “estendido a mão” ao diálogo com Teerão, na primeira fase do seu mandato, Obama acaba agora por reconhecer que não há alternativa que não seja a de endurecer o discurso para travar Ahmadinejad.
O lado realista de Barack na política externa é um dos seus maiores trunfos para chegar a algum eleitorado centrista e republicano.
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