terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Histórias da Casa Branca: Alerta laranja para Mitt Romney


Rick Santorum e Mitt Romney: o antigo senador da Pensilvânia agarrou o "momentum" e já lidera as sondagens nacionais. Se vencer o duplo combate Arizona/Michigan, coloca o favoritismo de Romney em zona de risco total - e obriga Mitt a jogar tudo na Super Terça-Feira

Alerta laranja para Mitt Romney

Por Germano Almeida



Parece que a tese do ‘anyone but Romney’ tinha mais consistência do que muita gente pensou. A tripla vitória de Rick Santorum no Minnesota/Colorado/Missouri foi o primeiro grande sinal de alarme, mas podia ter sido apenas um voto de protesto da base conservadora, perante a falta de opções.

Só que os problemas da candidatura de Mitt Romney são mais profundos. A cartada económica já não é tão preponderante do que há uns meses, perante a recuperação da Administração Obama (taxa de desemprego a descer há vários meses, confiança dos agentes económicos a crescer).

Se é certo que Mitt tem as melhores credenciais na parte da gestão e no meio empresarial entre as quatro opções ainda no terreno, a verdade é que a base do eleitorado republicano e, sobretudo, os entusiastas da ala radical (Tea Party) continuam mais sensíveis às questões ideológicas e mais dispostos a discutir valores como «a liberdade», o «ser americano», o «respeito pela Constituição», as «questões morais» e, nesses planos, Rick Santorum oferece um argumentário mais atractivo aos segmentos mais radicalizados do Partido Republicano. Definitivamente, 2012 parece ser o ano da viragem à direita de um Grand Old Party (GOP) que, há apenas quatro anos, foi capaz de nomear o candidato mais moderado e com um perfil rebelde de ‘maverick’: John McCain.

Olhem para o Michigan
Nem o triunfo no Maine foi suficiente para travar a ideia de derrapagem de Romney.

Num estado com tudo para lhe ser favorável (moderado, Costa Leste, com pouca influência da Direita radical), Mitt venceu por curta diferença (39-36) em relação a Ron Paul, o candidato da sensibilidade libertária.

Os olhos estão, por isso, postos no duplo teste Arizona/Michigan, no próximo dia 28. As sondagens em ambos os estados parecem confirmar os sinais de alarme para Romney:

Mitt lidera no Arizona, mas por uma curta diferença; e no Michigan, Rick Santorum aparece à frente, sendo que nalgumas sondagens a vantagem do antigo senador da Pensilvânia sobre o ex-governador do Massachussets passa os dois dígitos.

Ainda que a mera soma de delegados em jogo não seja particularmente significativa, a verdade é que o duplo combate Arizona/Michigan ganha uma enorme importância para se definir o resto da corrida à nomeação presidencial republicana.

Ambos os estados vão a jogo a apenas uma semana da Super Terça-Feira, a 6 de Março.

Tudo indica que essa data vá ser decisiva para Newt Gingrich: se não vencer na Geórgia e no Ohio, dificilmente continuará na corrida. O ex-speaker do Congresso não foi capaz de capitalizar o triunfo na Carolina do Sul e, depois do desastre que têm sido os últimos resultados (sobretudo na noite da tripla vitória de Santorum), até já recebeu apelos de sectores republicanos para desistir da corrida.

Não há sinais que pretenda sair de cena até à Super Terça-Feira, mas a verdade é que poderá ser obrigado a fazê-lo nessa mesma noite (sem duas grandes vitórias, ficará sem dinheiro para continuar na batalha).

Mas não é só Gingrich que está em perigo nos próximos dias. O próprio Romney ficará em muito maus lençóis se perder, no mesmo dia, no Arizona (estado onde, há poucas semanas, liderava com mais de 20 pontos de avanço) e no Michigan, estado onde nasceu e viveu até à adolescência e do qual o seu pai, George Romney, foi governador.

E há outro factor que convém antecipar: se Gingrich desistir mesmo, Rick Santorum fica na posição de agarrar todo o campo conservador. E isso, pelo menos até agora, tem significado a maioria dos votos e dos delegados. O que tem salvo, até agora, Romney é a dispersão dos votos à sua direita em Santorum, Gingrich e Ron Paul.

Mais surpresas?
A menos que Mitt logre uma recuperação notável nos próximos dias e vença claramente este duplo combate (cenário que não será de excluir, dadas as armas que Romney ainda tem no plano da máquina, do dinheiro e dos apoios do 'establishment'), começa a ser claro que a tese da «inevitabilidade» dificilmente continuará a colar.

O entusiasmo e o ‘momentum’ estão, por estes dias, do lado de Rick Santorum, que até passou à frente nas sondagens nacionais (39-27 sobre Romney no Rasmussen Reports, 36-26 no Gallup).

É preciso explicar que as sondagens nacionais reflectem, na prática, os efeitos dos resultados nos estados – e são esses, por isso, que devem ser mais valorizados nesta altura.

Quem tenha acompanhado esta estranhíssima corrida republicana desde os seus primórdios, não pode deixar de abrir a boca de espanto: Rick Santorum foi, nos primeiros tempos, o ‘underdog’, o menos notado dos sete que iniciaram a peleja.

Nos primeiros debates, a sua irrelevância era tal que quase nem o deixavam usar da palavra. As atenções dos media e dos moderadores estavam em Michele Bachmann, Herman Cain, Rick Perry e Newt Gingrich: ironicamente, os três primeiros já caíram, o quarto pode desistir em breve.

Será que exemplos como este abrem caminho à entrada de um candidato surpresa, mesmo numa fase tão avançada como esta? É muito improvável, mas há quem defenda essa tese, apelando a nomes como o governador Chris Christie, da Nova Jérsia, o congressista Paul Ryan, jovem estrela em ascensão do Partido Republicano e líder do Comité de Orçamento do Congresso, o governador do Indiana, Mitch Daniels, ou, para a ala mais radical, Sarah Palin.

Já será muito tarde para acreditar numa surpresa destas, mas a realidade matemática mostra que ainda só estão atribuídos 15 por cento dos delegados. Nunca se esqueçam: é mesmo tudo possível numa corrida presidencial americana…

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