domingo, 26 de fevereiro de 2012

Histórias da Casa Branca: Obama recupera o controlo do jogo


Barack Obama está com níveis de popularidade próximos dos 50 por cento e vantagens sólidas sobre os potenciais rivais republicanos: o Presidente está a voltar a ter a bola do seu lado, agora que os dados económicos estão a comprovar a tese dos estímulos federais para a criação de emprego


Obama recupera o controlo do jogo

Por Germano Almeida


Os últimos meses foram muito positivos para a Presidência Obama: o desemprego nos Estados Unidos está no valor mais baixo dos últimos três anos (8.3%, com a criação de três milhões de postos de trabalho desde Março de 2009) e o sentimento de confiança parece estar a regressar aos investidores – embora os dados sejam ainda relativamente tímidos.

Por consequência a esta tendência, lenta mas consistente, de recuperação da Economia americana desde meados de 2009, os índices políticos de Barack Obama têm vindo a conhecer uma progressiva melhoria: a aprovação do Presidente está agora próxima dos 50 por cento (entre os 46 e os 50, dependendo dos estudos) e o candidato à reeleição Barack Obama passou a ter vantagens confortáveis sobre os seus potenciais rivais republicanos em Novembro (cerca de seis pontos de avanço sobre Mitt Romney, oito sobre Rick Santorum, dez sobre Newt Gingrich e 12 sobre Ron Paul).

É certo que esta recuperação já não impedirá uma média relativamente modesta na Taxa de Popularidade do primeiro mandato de Obama: os primeiros três anos, com excepção do estado de graça dos primeiros meses, foram marcados por valores frustrantes na casa dos 40 e pouco por cento.

Mas esta ‘surge’ política de Obama comprova a tese de que Barack foi vítima do seu próprio tempo: foi eleito na ideia messiânica de que seria o salvador da crise, só que os primeiros anos da sua presidência foram comprometidos por essa mesma crise.

A insatisfação pela situação económica foi, rapidamente, canalizada para o Presidente e foi preciso algum tempo para que uma boa parte dos americanos percebessem que os estímulos federais à economia -- promovidos por Obama e só aprovados no Congresso (então ainda maioritariamente democrata) depois de duras negociações que desgastaram a imagem do Presidente – foram fundamentais para que esta recuperação apareça nesta altura.

No início, a tese republicana de que não se podem aumentar os impostos, mesmo às classes mais ricas, rendeu popularidade. Mas a realidade está a mostrar que a visão do Presidente é a mais correcta.

E os republicanos (que controlam a produção legislativa desde Novembro de 2010) começam a ser penalizados nas sondagens pelo seu dogmatismo em matéria fiscal e nas juras de se oporem a qualquer tipo de ‘bailout’ (Mitt Romney, nesse aspecto, está agora a sofrer o ricochete político nas primárias para o Michigan por não ter apoiado a salvação da indústria automóvel de Detroit...)

A manter-se este trend até Novembro, Obama terá todas as condições de ser reeleito.

De novo como favorito
No quadro em que, neste momento, assenta a corrida presidencial norte-americana, Barack Obama voltou a ser o ás de trunfo. Apesar de ter passado tanto tempo numa tempestade de impopularidade, a verdade é que os dados actuais lhe dão fortes hipóteses para a reeleição: tem muito mais dinheiro angariado que os seus rivais; dispõe da natural vantagem de já ser Presidente; as sondagens mostram que lidera nos itens fundamentais para a eleição de Novembro.

Um estudo recente do Gallup/USA Today refere que 58 por cento dos americanos consideram que «Obama tem a personalidade e a capacidade» necessárias para ser Presidente, aparecendo à frente de Santorum e Romney, ambos com 53.

Além da vantagem no plano nacional já mencionada sobre todos os rivais, as sondagens já feitas a nível estadual confirmam que Barack se mantém muito forte em estados cruciais, como a Florida, o Ohio ou a Pensilvânia – terrenos onde, aliás, já começou a fazer campanha.

Em função da fantástica vitória eleitoral que obteve em 2008 sobre John McCain, será difícil repetir triunfos em estados muito conservadores, onde os democratas raramente conseguem vencer nas eleições presidenciais, como a Virgínia ou a Carolina do Norte.

Mas os primeiros sinais dados por David Axelrod e David Plouffe (que vão voltar a ser os estrategas da campanha de Barack) apontam para que Obama não descure os estados mais difíceis, seguindo assim, novamente, a receita da “fifty state strategy”, que tão bons resultados deu há quatro anos.

Estimular a curto prazo, cortar a longo prazo
Pode parecer um contrasenso, mas é sob esse difícil equilíbrio que tem assentado a abordagem de Obama em relação ao que se deve fazer à economia americana, no actual panorama: por um lado, o monstro do défice americano é um problema incontornável e, como tal, não pode ser ignorado; mas, por outro, as dificuldades sociais que a crise está a gerar têm que ter uma resposta política por parte da Casa Branca.

Nessa medida, Obama não desiste das grandes linhas que defende desde Setembro passado, quando apresentou o American Jobs Act – um gigantesco plano de apoio à criação de emprego, inicialmente composto por 447 mil milhões de dólares.

O lema é, assim, estimular a curto prazo, de forma a prosseguir a criação de postos de trabalho e combater o desemprego jovem e a degradação do poder de compra da classe média. Mas é, simultaneamente, cortar a longo prazo: Obama sabe que é crucial reduzir o monstruoso défice americano e tem um plano a dez anos para o fazer.

A proposta de Orçamento da Administração Obama para 2013, apresentada em meados de Fevereiro, reflecte essa dupla realidade.

Obama pretende aumentar a receita em 1,5 biliões de dólares, através de um aumento da carga fiscal para quem ganhe mais de um milhão de dólares por ano (e que passa a ser taxado a 30 por cento, com o fim das Bush Tax Cuts e a implementação da Proposta Buffet) e quer apostar as obras públicas, a fim de renovar as infra-estruturas na América e dinamizar o emprego.

O Presidente prevê uma verba de 500 mil milhões de dólares na próxima década para investimento público, sendo que quase metade (231 mil milhões) virá dos cortes na Defesa, decorrentes do fim das missões militares americanas no Iraque e no Afeganistão, até ao fim do próximo ano.

A mudança demora, mas uma parte dela estará neste tabuleiro: Obama cumprirá a promessa de sair do Iraque e do Afeganistão no seu primeiro mandato e foca-se no essencial: a recuperação económica, baseada no apoio à classe média e ao americano comum, com verbas que voltam a ser colocadas na criação de emprego – e não em gastos brutais em guerras em que os EUA não poderiam estar eternamente.

‘Back to basics’? Esperemos que sim.

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