segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca: Que América depois de novembro?


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 16 DE AGOSTO DE 2012:


Que América depois de novembro?

Por Germano Almeida



«Os Estados Unidos da América são um país complexo e, muitas vezes, difícil de decifrar.



Na mesma semana, o mesmo país foi capaz de um feito extraordinário – o de colocar o robô “Curiosity” em solo marciano, abrindo fantásticas perspetivas de descoberta científica e dando-nos novas razões para acreditar no sucesso de missões noutros planetas – e mostrou-nos um ato horrendo: o massacre num templo sikh, no Wisconsin.



São estes EUA contraditórios, capazes do melhor mas também do pior, que albergam a diversidade e que, continuamente, ao longo de décadas, nos põem a sonhar e, por vezes, a chorar.



O sucesso do “Curiosity” provou que a América continua a ser o país dominante na inovação científica e tecnológica. Apesar dos avanços da China e da Índia nesses campos, os EUA permanecem muito à frente na capacidade de serem pioneiros no melhor que a humanidade consegue produzir.



Mesmo em tempos de profunda contenção orçamental, Barack Obama nunca descurou, no seu discurso político, essa dimensão tão importante para a autoestima americana. E reforçou especialmente esse vetor no discurso do Estado da União de Janeiro de 2011, por exemplo, quando definiu o «momento Sputnik desta geração».



Dias depois do episódio de Aurora, no Colorado, quando um tresloucado atirou indiscriminadamente num cinema, o tiroteio do Wisconsin recolocou a questão do controlo no acesso às armas na América.



E é aí que entra o lado sombrio daquele grande país: nem depois das tragédias do Colorado e do Wisconsin, o controlo no acesso às armas passou a ser um tema pacífico na América. O lobby da NRA (National Rifle Association) é poderosíssimo, sobretudo junto dos republicanos.



Mas a verdade é que Obama não tem tido a coragem de colocar o tema no topo da agenda político – com receio de ser penalizado eleitoralmente em estados conservadores onde tem ambições de bater Romney, a 6 de novembro.



A «nova América» ou o regresso ao passado?

O resultado do duelo Obama/Romney definirá, em grande parte, que imagem a América pretende no resto do Mundo, depois de 6 de novembro.



Um dos melhores desempenhos do primeiro mandato presidencial de Barack Obama está na política externa – e, para que tal tivesse sido possível, uma boa parte dos méritos deve ser atribuída à chefe da diplomacia, Hillary Clinton.



Se a crise económica impediu um melhor saldo na frente interna, a verdade é que a imagem dos Estados Unidos, que estava muito desgastada na parte final dos anos Bush, teve inegáveis melhorias durante a Administração Obama.



O Prémio Nobel da Paz atribuído ainda em fase precoce ao Presidente Obama foi o maior sinal da mudança ocorrida. O prestígio internacional de Hillary serviu para reforçar o posicionamento diplomático dos EUA em áreas chave para os interesses americanos, como o Médio Oriente, África e, sobretudo, a Ásia-Pacífico.



Perante o avanço da influência da China, a política externa americana tem dado cada vez mais atenção à Ásia. Não por acaso, a primeira viagem de Hillary como secretária de Estado foi ao continente asiático, onde tem voltado repetidamente nos últimos quatro anos.



O périplo de Mitt Romney à Europa e a Israel foi, neste domínio, preocupante. O aspirante republicano mostrou uma visão muito fechada e unilateral, a apontar para os piores tempos de Bush filho – e longe, até, do «realismo» de Bush pai, que nalguns aspetos foi recuperado por Barack Obama.



Ao escolherem entre Obama e Romney, os americanos vão, também, dizer que América pretendem mostrar ao Mundo, depois de novembro.



Faltam 81 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»

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