Na corrida presidencial americana, o «timing» é fundamental.
Marco Rubio avisou demasiado cedo que iria lançar a candidatura a 13 de abril: sim, hoje mesmo.
Hillary Clinton antecipou-se e teve o fim de semana de total cobertura mediática, entrando na corrida com o vídeo («Getting started») tremendamente eficaz.
O senador republicano da Florida vai tentar, ainda assim, ter o seu momento, quando anunciar, esta tarde, um «novo século americano», na Miami Freedom Tower
Marco Antonio Rubio, 44 anos, senador júnior da Florida desde janeiro de 2011, nascido em Miami a 28 de maio de 1971, formado em Direito, casado e pai de quatro filhos, é um dos produtos da direita americana da «era Obama».
Depois da derrota de McCain em 2008, e sobretudo depois da derrota de Romney em 2012, o Partido Republicano olhou para jovens valores que pudessem estar a despontar.
Os seus pais, cubanos, emigraram para os EUA nos anos 50, tendo adquirido a nacionalidade norte-americana só duas décadas depois. Marco personifica, assim, o «sonho americano», agarrado à custa de sofrimento dos pais, mas também de muitas oportunidades.
A história repete-se em muitas narrativas políticas na América: o resto depende da interpretação. Ora, se para a visão de Barack Obama, por exemplo, o sonho americano depende também dum poder federal que o torne possível, para Marco Rubio esse sonho funda-se na ideia de Liberdade em todos os níveis, o que implica um estado que não se meta muito nos negócios e nos impostos.
O «novo século americano»
Latino e conservador, Marco Rubio funda o seu discurso no livre negócio, em gerar emprego pela via dos incentivos por baixos impostos, mas consegue ter a «nuance» (e aí é um pouco mais moderado que outros «tea party darlings») de falar de soluções fiscais para a classe média e de não rejeitar os programas sociais.
Rubio foi-se destacando como o elemento mais promissor da «nova geração republicana», desde que, em novembro de 2010, obteve quase 50% dos votos na eleição para o Senado, para a vaga de Mel Martinez, como nomeado republicano (ganhou a nomeação a Charlie Christ, então governador, e que acabaria por concorrer como independente).
Pela juventude (chegou a senador antes dos 40 anos), pelo «background» familiar (é filho de cubanos, sendo uma espécie de campeão da comunidade hispânica da Florida, conservadora e católica), por ser ao mesmo tempo um «Tea Party darling» e alguém com propostas na área económica que se enquadram num republicanismo mais clássico.
Nas sondagens, aparece bem atrás de Jeb Bush e Scott Walker (neste momento os dois pré-candidatos mais viáveis), mas mostra credenciais mais sólidas do que Ted Cruz, Rand Paul ou Mike Huckabee (e muito acima de outros possíveis candidatos de direita, como Rick Santorum, Rick Perry ou Ben Carson). E está também à frente de Chris Christie, o governador da Nova Jérsia (que parece estar com problemas para arrancar).
O fator Romney e a luta com Jeb na Florida
Marco Rubio não é o favorito à nomeação, mas tem legitimidade para sonhar com ela.
Tem «media appeal» (muito mais que os dois republicanos já oficialmente declarados, Paul e Cruz), tem uma base de financiadores apetrechada e pode ser o principal, beneficiários da não comparência de Mitt Romney, o nomeado republicano de 2012.
A relação pessoal de Rubio com Romney foi intensificada nos últimos anos. Marco pode vir a herdar boa parte da equipa de assessores, conselheiros e (mais importante ainda...) financiadores de Romney 2012.
Não é coisa pouca: perante a máquina Jeb Bush, e perante um Scott Walker que começou a correr por fora mas está forte nos estados de arranque, Marco Rubio precisa de uma estrutura forte para se lançar, a sério, na discussão da nomeação.
A Florida pode, assim, ser o terreno decisivo da batalha republicana: Marco ou Jeb, quem dominará o «sunshine state»?
Até lá, os «early states» (Iowa, New Hampshire, Carolina do Sul), mostram um Scott Walker promissor, mas Rubio, mesmo não vencendo qualquer dos três, poderá ter três «vitórias» se ficar claramente à frente dos restantes candidatos mais à direita (Paul, Cruz, Huckabee, Santorum, Perry).
Marco Rubio quer personificar o «novo século americano». Quando o enunciar, ainda esta segunda, na Miami Freedom Tower, estará ainda bem atrás das possibilidades de Hillary Clinton ou Jeb Bush. Mas não é de excluir que seja ele a suceder a Obama, a 20 de janeiro de 2017.
Afinal de contas, há já quem garanta que «o primeiro Presidente latino» já nasceu.
Germano Almeida é jornalista do Maisfutebol, autor dos livros «Histórias da Casa Branca» e «Por Dentro da Reeleição» e do blogue «Casa Branca»
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