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sábado, 13 de agosto de 2011
Histórias da Casa Branca: O paradoxo republicano
Mitt Romney e Michelle Bachmann no debate do Iowa: o ex-governador do Massachussets foi o vencedor «por exclusão» de um despique demasiado centrado nos ataques da congressista do Minnesota a Tim Pawlenty
O paradoxo republicano
Por Germano Almeida
Quando a popularidade de Barack Obama começou a descer para níveis inferiores a 50 por cento, mesmo depois de sucessos como a conquista do Nobel da Paz ou a aprovação da Reforma da Saúde, começou a falar-se no «paradoxo Obama».
Mas a um ano e três meses das eleições presidenciais de Novembro de 2012, forma-se, agora, um fenómeno em sentido inverso: uma espécie de «paradoxo republicano», que se poderá definir pela falta de capacidade que o GOP está a revelar para conseguir lançar um candidato presidencial que consiga aproveitar a falta de popularidade do actual Presidente.
O debate de sexta à noite no Iowa, o segundo da corrida à nomeação republicana, voltou a demonstrar essa estranha realidade.
Mitt Romney, ex-governador do Massachussets, voltou a afirmar-se como o candidato menos colado ao discurso radical do Tea Party. À frente nas sondagens, optou por uma estratégia de contenção e parece ter-se saído bem com isso: «Foi uma noite boa para nós», admitiu Stuart Stevens, conselheiro da campanha de Romney.
O maior despique foi entre os dois candidatos que vêm do Minnesota: a congressista Michelle Bachmann atacou o ex-governador Tim Pawlenty, acusando-o de «se parecer com Barack Obama» nas opções que fez quando liderou o maior estado do Midwest.
Uma comparação com o Presidente, em pleno debate de um Partido Republicano cada vez mais hostil a Obama, era, como se imagina, o ataque mais feroz que Bachmann poderia fazer a Pawlenty.
Enquanto os rivais do Minnesota se digladiavam, Romney assistia de forma ponderada e Jon Huntsman, que definitivamente não consegue descolar nas sondagens, perdia mais uma oportunidade para se assumir como a alternativa mais sólida para uma escolha menos comprometida com a Direita radical.
Perry salta para segundo
Especialmente atento ao debate do Iowa esteve, certamente, Rick Perry. O governador do Texas confirmou este sábado, na Carolina do Sul, o que há algumas semanas parecia um dado praticamente adquirido: vai mesmo avançar com a sua candidatura presidencial.
Ainda antes do anúncio oficial, Perry já saltava directamente para o segundo lugar nas sondagens pela corrida republicana. Um pouco atrás de Romney, mas já claramente à frente de Michelle Bachmann, Sarah Palin, Herman Cain, Jon Huntsman, Ron Paul, Tim Pawlenty, Newt Gingrich e Rick Santorum.
Rick Perry: o governador do Texas confirmou, na Carolina do Sul, que é candidato à nomeação republicana. Saltou, de imediato, para o segundo lugar da corrida, assumindo-se como principal ameaça ao favoritismo de Mitt Romney
Um estudo CNN/ORC dava mesmo Rick Perry a apenas dois pontos de Romney (17/15), embora na sondagem da FOX News a distância fosse bem maior: 21 por cento para o antigo governador do Massachussets, 13 para o ainda governador do Texas.
«Falcão fiscal», acérrimo defensor do porte de armas e da pena de morte, veste a pele do «republicano clássico». Muito do que tem defendido na última década, como governador do Texas, tem forte acolhimento eleitoral em tempos de corte na depesa. Não tem as ligações de Bachmann ou Palin ao Tea Party: a sua base de apoio provém do ‘establishment’ do Partido Republicano.
Mas não deixa de ser curioso que, num cenário demasiado virado à direita no actual quadro de candidatos do GOP, esta ‘carta escondida’ apareça de alguém com as credenciais de Rick Perry.
Parece ser, pois, a prova definitiva de que não há mais espaço, no campo republicano, para candidaturas moderadas. «Os republicanos cederam a sua base ideológica à direita radical. O Tea Party tem o total controlo do jogo político do GOP», acusa o senador John Kerry, nomeado presidencial democrata em 2004 e forte apoiante da recandidatura de Barack Obama.
Sarah ainda na jogada
Com Romney a aguentar a liderança e Rick Perry a assumir-se como a principal ameaça ao favoritismo de Mitt, falta saber se haverá condições reais para que uma candidatura promovida pelo Tea Party entre a sério na disputa pela investidura republicana.
Seria, aí sim, o sinal definitivo de uma grave crise do sistema bipartidário em que se tem baseado o jogo político de Washington.
O protagonismo de Michelle Bachmann tem valido à congressista do Minnesota números inesperados nas sondagens. Mas não chega para que se equacione, com realismo, a nomeação de uma candidata tão mal preparada para as funções presidenciais.
Mas o caso pode mudar de figura se Sarah Palin avançar. A vice de John McCain no ‘ticket’ presidencial republicano de 2008 continua a assistir a tudo isto de forma muito próxima: tem continuado a angariar fundos no Iowa e confessou, na sexta-feira passada, a Sean Hannity, da Fox:‘I’m still considering a run’.
Aparentemente, Michelle Bachmann e Sarah Palin disputam o mesmo eleitorado: a «América profunda», que não se revê nas características de Barack Obama como Presidente e que pretendem uma agenda presidencial mais virada para o «small government» e para os valores morais.
Sarah Palin tem adiado a entrada na corrida, mas deve mesmo avançar lá para Outubro. Disputa o mesmo espaço de Michelle Bachmann e uma possível junção das duas candidaturas poderá tornar o Tea Party um caso sério na corrida republicana para 2012
Mesmo com Palin fora dos debates, os números de ambas nas sondagens chegam, somados, aos 20 e poucos por cento. Não será de excluir que, quando Sarah estiver oficialmente na corrida, se coloque, daqui a uns meses, o cenário duma fusão das duas vias – resultando, dessa junção, uma candidatura com dinheiro e apoios políticos muito consideráveis.
Colagem ao Tea Party
O aquecer da corrida republicana não parece assustar excessivamente o campo democrata.
David Axelrod, chefe da equipa de estratégia da campanha de reeleição de Obama, foi ao Iowa assistir ao debate e declarou, em entrevista à MSNBC: «Continuo a achar que Mitt Romney é o favorito natural à nomeação republicana. Mas é um ‘frontrunner’ fraco. Rick Perry pode ser um candidato formidável, mas cai no mesmo erro dos seus rivais de partido: todos os candidatos republicanos desta eleição se renderam ao dogma do Tea Party».
O argumento da colagem à direita tem fundamento e talvez explique esta aparente contradição que as sondagens insistem em mostrar: mesmo com uma Taxa de Aprovação a roçar os 40 por cento (entre 41 e 44 nos diferentes estudos, nos últimos dias), Barack Obama continua a liderar as preferências em todos os duelos possíveis para 2012: o Gallup publicou sondagem que dá 49 por cento ao actual Presidente e 45 por cento ao candidato republicano que vier a ser nomeado.
E, de acordo com um estudo feito esta semana pelo Opinion Research Corporation para a CNN, Obama faz o pleno nos diferentes cenários para a eleição geral: bateria Mitt Romney por 49/48, Rick Perry por 51/46, Sarah Palin por 55/41 e Michelle Bachmann por 51/45.
Estes números, em pleno «Verão do descontentamento» para a Presidência Obama, são a prova de que, a 15 meses das eleições de Novembro de 2012, a narrativa segundo a qual a reeleição de Barack Obama já está comprometida é, como se vê, uma história muito mal contada.
A forma como o eleitorado americano reagiu às negociações feitas em Washington sobre a crise do tecto da dívida, que abordaremos no próximo texto, talvez ajude a perceber como é possível que Obama consiga sobreviver a tantas adversidades – e se mantenha como o mais provável vencedor das próximas eleições presidenciais.
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