quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Histórias da Casa Branca: O sexto Presidente a festejar os 50


Barack Obama faz, esta quinta-feira, 50 anos. Um acontecimento raro para um Presidente americano em funções. Quando tomou posse, aos 47, ainda mantinha a aparência de «jovem senador». Dois anos e sete meses depois, já tem muitos cabelos brancos...


O sexto Presidente a festejar os 50

Por Germano Almeida


A 4 de Agosto de 1961, nascia no Hospital Ginecológico Kapiolani de Honolulu, no Havai, Barack Obama Hussein Obama II, filho de Ann Dunham, antropóloga branca do Kansas, e de Barack Hussein Obama I, economista queniano natural de Kogelo, da tribo Luo, que ganhou uma bolsa para estudar na América.

O Presidente dos EUA completa, por isso, 50 anos de idade, nesta quinta-feira. O momento político e económico não o fará ter grandes motivos para festejos, mas, trata-se, mesmo assim, de uma data digna de realce, até pela raridade do acontecimento.

Em mais de 220 anos de História -- desde a tomada de posse de George Washington, em 1789 -- apenas cinco Presidentes americanos completaram 50 anos em pleno exercício de funções na Casa Branca: James Polk, Ulysses Grant, Grover Cleveland, Theodore Roosevelt e Bill Clinton.

Barack Obama será, a partir desta quinta-feira, o sexto a entrar num restrito lote que se desvia, em termos estatísticos, de uma média de idades dos Presidentes americanos que aponta mais para os ‘mid fifties’ (25 dos 44 Presidentes americanos tinham entre 50 e 59 anos de idade quando exerceram o cargo).

Para quem gosta destas curiosidades de almanaque, diga-se que a média de idade de um Presidente americano, na sua tomada de posse, é, neste momento, de 54 anos e 11 meses.

Quatro bons exemplos de Presidentes nessa média são Herbert Hoover, Lyndon Johnson, Rutherford Hayes e George W. Bush (os últimos dois tomaram posse, precisamente, com 54 anos).

James Garfield (tomou posse aos 49, em Março de 1881) e John F. Kennedy (Presidente aos 43 anos, investidura em 1961) teriam também entrado para o grupo dos que festejaram os 50 ‘in office’, se não tivessem sido, respectivamente, o segundo e o quarto Presidentes da história americana a serem assassinados -- Abraham Lincoln foi o primeiro, William McKinley o terceiro (Garfield estava a poucos meses de completar 50 quando foi morto; no caso de JFK, teria, ainda, que obter a reeleição em 1964, se não tivesse ocorrido o atentado em Dallas).

O quarto mais novo a ser eleito
Dois nomes podem ser apontados como o «Presidente mais jovem da História da América»: Theodore Roosevelt e John Kennedy. Depende do critério que quisermos usar. Kennedy foi o Presidente eleito mais novo: tinha apenas 43 anos e 246 dias quando tomou posse.

Mas Theodore Roosevelt mantém o título de Presidente mais jovem de sempre em funções: tomou posse a 14 de Setembro de 1901, com 42 anos e 322 dias, não por ter sido eleito, mas na sequência do assassinato de William McKinley.

Quando deixou a Casa Branca, a 4 de Março de 1909, tinha completado 50 anos apenas cinco meses antes, a 27 de Outubro de 1908.


Theodore Roosevelt foi, aos 42 anos, o mais jovem Presidente da história americana, mas só foi eleito quatro anos mais tarde

Investido como 44.º Presidente dos EUA aos 47 anos, Barack Obama foi o quarto Presidente eleito mais jovem da história da América. Só JFK (43 anos), Bill Clinton (46) e Ulysses Grant (46) eram mais novos no momento da primeira eleição.

No pólo oposto do bilhete de identidade, Ronald Reagan mantém o título de Presidente mais velho em funções: foi eleito pela primeira vez a duas semanas de completar 70 anos e reeleito quase com 74 anos. John McCain tentou bater esse recorde na eleição de 2008: ainda obteve a nomeação presidencial republicana, mas perdeu a eleição geral para Barack Obama.

Presente envenenado?
Há poucos dias, no auge da batalha em Washington pelo aumento do tecto da dívida norte-americana, Barack desabafou que apenas queria como prenda de aniversário para os seus 50 anos «que até lá fosse afastado o fantasma do ‘default’».

O perigo do incumprimento não voltará, de facto, a existir no primeiro mandato de Obama – mas a solução encontrada pode bem ter sido um presente envenenado para o Presidente.

Para poder aumentar o tecto da dívida (algo que aconteceu 39 vezes desde 1980 e que vários dos seus antecessores praticaram por diversas vezes), Barack foi forçado a abdicar da sua agenda económica, que passava pelo aumento de impostos para as classes com maiores rendimentos e para as grandes empresas.

A maioria republicana da Câmara dos Representantes impôs a palavra de ordem («cortes nas despesas») e o Presidente não foi capaz de travar o radicalismo da ala Tea Party.

Com um quadro muito hostil no Congresso, nem a maioria democrata no Senado parece esbater o ambiente malsão que se vive em Washington.

Os próximos meses são decisivos para se perceber a rota de reeleição de Barack Obama. Com as primárias republicanas a entrarem numa fase de maior definição, é fundamental perceber como pretende o Presidente montar a sua estratégia para Novembro de 2012.

Trunfos e problemas
Há trunfos importantes que Barack sabe que pode lançar: o cumprimento dos prazos de retirada no Iraque e no Afeganistão; a operação que eliminou Osama Bin Laden e a redução clara da ameaça terrorista da Al Qaeda; a capacidade de estabelecer pontes políticas em temas como a Reforma da Saúde, no prolongamento do subsídio de desemprego que garantiu junto da maioria republicana no Congresso (a troco da renovação das ‘Bush Tax Cuts’); a resposta dada em 2009, nos primeiros meses da Presidência Obama, à crise financeira com a aprovação de um forte Plano de Recuperação e Reinvestimento; uma certa condição de pêndulo de um quadro político muito polarizado entre o radicalismo da ala Direita e as exigências das bases do Partido Democrata; o novo Tratado START e outros temas da frente externa.

Mas no capítulo económico, certamente aquele que vai decidir a eleição de 2012, a contaminação do Tea Party para o acordo encontrado para o tecto da dívida coloca Obama entre a espada e a parede: o Presidente será forçado a assumir cortes dolorosos em programas sociais e não poderá recorrer aos instrumentos que sempre defendeu para concretizar a recuperação económica.

O caminho dos cortes na despesa já tinha sido iniciado por Obama desde o discurso do State of The Union de Janeiro de 2010, com o ‘spending freeze’. Só que a extensão dos cortes a sectores como a Saúde e a Segurança Social vai criar ainda mais dificuldades ao plano de recuperação.

Mas nem as nuvens negras que insistem em pairar sobre Washington são motivo suficiente para deixarmos de desejar… ‘Happy Birthday, Mr. President’!

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