domingo, 28 de agosto de 2011

Histórias da Casa Branca: Perry sobe, Romney treme


Rick Perry: a entrada em cena do governador do Texas causou um autêntico furacão na corrida à nomeação republicana. Mas subsistem muitas dúvidas quanto à capacidade deste 'cowboy' com créditos de conservadorismo fiscal poder derrotar Obama


Perry sobe, Romney treme

Por Germano Almeida


E, subitamente, o campo republicano encheu-se de pretendentes à nomeação presidencial.

A queda na Taxa de Aprovação do Presidente Obama (em Agosto, baixou, pela primeira vez, dos 40 por cento) faz aumentar a perspectiva de eleição para quem vier a vencer a corrida no partido do elefante.

Já por aqui tínhamos avisado, bem antes da entrada em cena de Rick Perry, que a narrativa segunda a qual Mitt Romney era o nomeado natural do Partido Republicano estava a parecer simples demais.

Apesar dos trunfos com que partiu o ex-governador do Massachussets (a experiência em 2008, o dinheiro já arrecadado), a verdade é que Romney não entusiasma por aí além a base conservadora.

Essa base, que sempre teve um grande peso no ‘Grand Old Party’, está agora energizada com o contágio do Tea Party.

Até há poucas semanas, quem se aproveitou dessa estranha tendência foi Michele Bachmann. O discurso incrivelmente crítico sobre a Presidência Obama, que tem sustentado a estratégia da congressista do Minnesota, já lhe valeu o título de «rainha da raiva».

Os frutos políticos estavam a ser enormes: em período de forte contestação a Obama (por força da crise económica), a congressista surgiu como a estrela da fase de arranque das primárias, perante a falta de capacidade de mobilização de Romney, Tim Pawlenty (que até já desistiu) e Jon Huntsman, os candidatos mais moderados.

Rick já é o ‘frontrunner’
Rick Perry, quase tão extremista como Bachmann, mas com um currículo e uma consistência política infinitamente maiores, apareceu como um furacão: em poucos dias, varreu a vantagem de Romney, diminuiu o efeito Bachmann, captou preferências de quem esperava por candidatos alternativos como Chris Christie.

Tudo somado, o governador do Texas aparece agora como frontrunner da corrida republicana. Perry surge à frente de Romney por diferenças de cinco a dez pontos e ameaça reduzir Michele Bachmann a um epifenómeno (se olharmos para os números nacionais), apenas com hipóteses de disputar o Iowa (o seu estado natal) e alguns estados do Sul.

Evangélico, populista, conservador fiscal com estilo 'cowboy' a fazer lembrar George W. Bush, Rick está a conseguir juntar os apoios que tem no ‘establisment’ republicano (sobretudo junto de outros governadores) com a ala mais conservadora.

Ainda não retirou a Bachmann o título de ‘tea party darling’, mas está claramente a tirar o ‘momentum’ político à radical congressista do Minnesota.

E algumas sondagens continuam a dar bons resultados a outros dois nomes que ainda nem sequer garantiram que vão avançar: Sarah Palin e Rudy Giuliani. A ex-governadora do Alasca está no terreno e dá sinais de querer entrar em jogo (talvez em Setembro ou Outubro).

Rudy está mais afastado, mas os números dos duelos com Obama podem fazê-lo entrar em cena mais tarde – as sondagens dizem que o antigo mayor de Nova Iorque será, a par de Mitt Romney, o candidato que mais benefícios poderá tirar do descontentamento do eleitorado independente, que apoiou Obama em massa em 2008.

Paul Ryan à espreita
Com ou sem Sarah Palin e Rudy Giuliani na corrida, a questão mantém-se: será que este leque de candidatos satisfaz todas as correntes do GOP? Por estranho que possa parecer (afinal de contas, já são muitas opções), uma boa parte dos eleitores republicanos continua à espera de soluções mais estimulantes.


Paul Ryan, 41 anos, é o líder do Comité do Orçamento do Congresso e tem sido pressionado a avançar pelos sectores que consideram fraco o actual leque de candidatos

A tese de que Mitt Romney é pouco mobilizador já abriu caminho à entrada fulgurante de Rick Perry – e pode permitir que Paul Ryan, líder do Comité do Orçamento do Congresso, entre na corrida.

Aos 41 anos, o congressista republicano do Wisconsin é apontado como uma das futuras estrelas do GOP: tem um discurso claro, ideias poderosas em tempos de corte na despesa e não cai na demagogia fácil do argumentário até agora apresentado por Perry, Michele Bachmann, Ron Paul, Herman Cain ou, nalguns temas, até mesmo de Mitt Romney.

Não é muito provável que o faça, mas se Paul Ryan entrar na corrida, pode provocar uma reviravolta ainda maior do que a que provocou Perry nos últimos dias.

Nikki Haley a vice-presidente?
A cerca de um ano de sabermos quem será o nomeado presidencial do Partido Republicano, já há movimentações em relação a possíveis vice-presidentes.

Os rumores apontam para cinco nomes:

- Marco Rubio, jovem senador da Florida que muitos apontam como o candidato presidencial do GOP para 2016 em caso de reeleição de Obama;

- Chris Christie, governador da Nova Jérsia (que não vai entrar na corrida à nomeação, apesar de vários apelos que tem recebido para tal);

- o governador da Virgínia, Bob McDonell;

- Susana Martinez, governadora do Novo México;

- ou então (num cenário de ainda maior influência do Tea Party) Nikki Halley, a jovem governadora da Carolina do Sul, de ascendência indiana.

Esta quinta opção, ainda que seja a menos falada, pode ganhar força com a dinâmica da própria corrida.


Nikki Haley: a jovem governadora da Carolina do Sul pode entrar mais tarde como solução para vice-presidente, apoiada pelo Tea Party

Sendo natural que o nomeado presidencial seja um nome não directamente ligado ao Tea Party, a regra da compensação (típica na escolha dos vice-presidentes) poderá garantir à ala radical a influência no nome do número dois do ticket republicano.

Em período de polarização do discurso na política americana, não era de admirar.

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