sábado, 10 de setembro de 2011

Histórias da Casa Branca: Obama levanta a voz ao Congresso


Afinal, Obama não desistiu da sua faceta de lutador e desafiou o Congresso a aprovar o seu plano de criação de emprego e de relançamento da Economia. A apresentação do American Jobs Act marcou uma intervenção muito incisiva de Obama, que não se cansou de repetir: «You should pass this bill. Right away»


Obama levanta a voz ao Congresso

Por Germano Almeida



«O propósito do American Jobs Act é simples: pôr mais pessoas a trabalhar e mais dinheiro no bolso de quem já tem trabalho. Criará mais empregos para os operários de construção civil, mais empregos para os professores, mais empregos para os veteranos e mais empregos para os desempregados de longa duração. Permitirá uma redução fiscal para as companhias que dêem empregos a quem estava desempregado e cortará impostos da classe média e dos pequenos empresários. Dará confiança a quem investe na economia. Devem aprovar este plano de empregos imediatamente»

BARACK OBAMA, excerto do discurso de apresentação do American Jobs Act, na sessão conjunta do Congresso


Quem, depois das cedências feitas pelo Presidente ao Tea Party no acordo para o aumento do tecto da dívida, considerou que Barack Obama tinha desistido de ser um lutador político nas questões essenciais, tem mesmo que que assistir ao brilhante discurso feito na noite de 8 de Setembro, na sessão conjunta do Congresso, na apresentação do American Jobs Act.

É verdade que Obama demorou semanas (demasiadas?) a reagir à frustração justificada de vários sectores que o apoiam, depois do desastroso acordo que, à última hora, salvou a América do ‘default’.

Mas também é verdade que o Presidente já tinha prometido encontrar vias de compensar a impossibilidade de incluir aumentos de receita por via do agravamento impostos para os mais ricos.

O artigo de Warren Buffet, que acabou por gerar uma discussão internacional sobre a necessidade de os mais ricos participarem na solução da crise das dívidas dos países ocidentais, foi o primeiro sinal de reacção de quem se recusava a aceitar a chantagem do Tea Party.

O American Jobs Act -- plano de criação de empregos e relançamento da Economia que Barack Obama apresentou em sessão conjunta do Congresso (membros da Administração Obama, senadores e deputados da House) – é uma resposta clara e eloquente a quem achava que este Presidente já tinha «capitulado» na sua agenda política para o primeiro mandato.

Barack volta a calçar as luvas
Dirigindo-se ao Congresso de forma directa e incisiva, com uma retórica ao nível dos seus melhores discursos, mas num estilo mais agressivo do que é habitual no Presidente dos EUA, Barack Obama repetiu, por várias vezes, uma frase que retira qualquer interpretação que aponte para «indecisão» ou «fraqueza»: «You should pass this bill. Right away…» (‘devem aprovar este plano. Imediatamente’)

Obama pôde defender o seu plano com esta agressividade, porque sustentou este American Jobs Act em pressupostos que muito dificilmente podem ser contestados por democratas ou republicanos, num 'mix' de cortes fiscais às pequenas empresas (redução em 50% dos 'pay roll taxes', equivalente à Taxa Social Única) com forte investimento público.

Num gigantesco plano de incentivo ao emprego, no valor de 447 mil milhões de dólares (mais de 300 mil milhões de euros), Obama lança soluções para criar, num prazo curto, empregos através da reparação de pontes, estradas e grandes obras públicas, num recurso a uma via ‘keynesiana’ que reforça a ideia de comparação com o tempo de Roosevelt.

Num enfoque no seu principal campo social de apoio (a classe média), Barack prevê, neste American Jobs Act, a criação de milhares de empregos para professores e cortes de impostos para pequenos empresários, como incentivo à reanimação da Economia.

A chave para se perceber a razão de que será difícil para os republicanos vetarem tem a ver a sustentação deste megaplano. «Tudo o que está aqui previsto se paga sem implicar qualquer aumento do défice. Não deve haver controvérsia em torno deste plano», reforçou o Presidente, recordando que as reduções fiscais nele contidas são as mesmas que haviam sido defendidas por 50 congressistas republicanos.

Afinal, ainda há Obama

«O Presidente Kennedy disse uma vez que ‘os nossos problemas são feitos pelo Homem – e por isso podem ser resolvidos pelo Homem'. E o Homem pode ser tão grande como ele quiser. Estes são anos difíceis para o nosso país. Mas nós somos Americanos. Somos mais duros do que os tempos em que vivemos e somos maiores do que os nossos políticos têm sido. Então, abracemos este momento. Vamos ao trabalho e mostremos ao Mundo, mais uma vez, porque é que os Estados Unidos da América continuam a ser a maior Nação à face da Terra»

BARACK OBAMA, excerto do discurso de apresentação do American Jobs Act, na sessão conjunta do Congresso


Se há um plano que possa representar o paradigma do que é a acção política de Obama é este American Jobs Act: nele, Barack aponta o caminho para a recuperação económica, focando-se naquilo que sempre considerou ser o «motor da América» (a classe média, quem trabalha e quem gera emprego), mas sempre com uma preocupação bipartidária, na forma como recupera ideias de democratas e republicanos.

«Este plano está feito para poder ser apoiado por um republicano do Texas e por um democrata do Massachussets», sublinhou Obama, no seu estilo agregador, ao citar os opostos (o Texas é dos estados mais conservadores, o Massuchussets talvez o mais liberal).

A juntar a tudo isto, Obama também olha, neste plano, para os veteranos de guerra, mostrando o seu lado de Presidente que percebe as questões profundas da América, com uma frase poderosa: «Quem combateu pelos EUA não merece ter que combater por um emprego quando regressa a casa. Isso não é a América».

Insistindo num discurso muito crítico sobre «as tácticas políticas de Washington», Obama reforçou que «quem está a sofrer com a crise económica não quer saber dessas tácticas. O que espera de nós são soluções».

E recuperou um certo discurso proteccionista, que chegou a adoptar em fases cruciais da campanha presidencial, ao referir que «não há razões para a América não fazer melhor que a China». «Do mesmo modo que importamos Kias e Hyundais, quero ver tipos na Coreia do Sul a comprar Fords e Chevys e Chryslers»., apontou o Presidente.

O lado que Obama mostra, e que tantas vezes gera desconforto na sua base natural de apoio, de perceber o outro campo voltou a ser utilizado quando Barack falou da necessidade de «reformar o Medicare e o Medicaid para tornar estes programas viáveis, mesmo que isso não agrade a muitos congressistas democratas».

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