domingo, 20 de janeiro de 2013

Histórias da Casa Branca: do entusiasmo ao legado

TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 19 DE JANEIRO DE 2013: 

«Criámos o enquadramento para uma contínua liderança americana, ao longo do século XXI. Penso nestes oito anos como um projeto em que, internamente, acomodámos todas as alterações demográficas, culturais e tecnológicas que ocorrem actualmente, e fomos capazes de as conjugar com algumas das velhas virtudes do trabalho duro, da disciplina e da responsabilidade - tudo de uma maneira que nos permite ter êxito e prosperar. Não apenas para alguns no topo, mas para muitos». 
Barack Obama, entrevista à TIME a propósito de ter sido escolhido Personalidade do Ano 2012


Na antevéspera de Barack Obama prestar juramento como 17.º Presidente americano que conseguiu obter a reeleição, as perspectivas em torno do segundo mandato presidencial são melhores do que as que existiam há quatro anos.

A memória coletiva por vezes é traiçoeira. Da fantástica corrida de 2008, ficou o mobilizador «yes we can» e o dado histórico de que acabara de ser eleito o primeiro Presidente negro da história americana.

Mas a verdade é que a tomada de posse de há precisamente quatro anos teve, mais do que o lado da emoção de ver um político como Barack Obama prestar juramento, uma carga de medo pelo momento que se estava a viver.

Embora ainda não houvesse a total noção disso a 20 de janeiro de 2009, a América estava a dias de poder ver o seu sistema financeiro colapsar. 

Quatro anos volvidos, o ambiente económico continua a ser preocupante ¿ mas não há comparação. Os EUA estão há três anos seguidos a criar emprego e o fantasma do desmoronamento dos mercados financeiros parece, pelo menos para já, afastados. 

Obama identificou esta comparação na entrevista que concedeu à TIME no final de dezembro: «A vitória de 2012 pode ter sido mais compensadora que a de 2008 - porque 2008 foi tudo divertimento e excitação, pelo menos é assim que as pessoas recordam. Vivemos um tempo muito difícil. O povo americano sentiu-se frustrado com o ritmo da mudança, a economia continua periclitante, e este Presidente que elegemos é imperfeito, mas, apesar de tudo isso, é assim que queremos ser. E isso é bom.»

O primeiro mandato de Barack Obama talvez venha a ser recordado nos livros de História como o momento em que se evitou o descalabro e se deu início a uma longa, e por vezes frustrante, recuperação. 

Já sem a obrigação de tentar a reeleição nas próximas presidenciais, Barack Obama pode focar-se, no segundo mandato, em avançar em áreas que foram sendo adiadas pela turbulência dos primeiros quatro anos.

«Eu sei que a vitória de 2008 teve sensações muito especiais, mas acho (acho sinceramente) que Obama tem melhores condições para concretizar a 'mudança' depois da reeleição», apontou Bill Clinton, durante a campanha eleitoral de novembro passado.

Os tempos políticos e mediáticos que correm não são muito dados a reflexões profundas ou memórias prolongadas. 

Mas se fizermos um pequeno esforço de consulta, percebemos que Barack Obama, mesmo na campanha exultante de 2008 (na qual muitos lhe apontaram alguns exageros nas promessas de mudança) sempre falou numa «mudança lenta, que pode demorar anos, possivelmente mais de quatro, se calhar até mais do que oito».

Se a proposta transformadora de Obama precisa de oito anos para se concretizar, após a inauguração desta segunda-feira começará a segunda fase da agenda que o 44.º Presidente dos EUA tem vindo a defender desde 2004, quando se tornou figura de topo na alta política americana. 

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