TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 21 DE JANEIRO DE 2013:
Barack Hussein Obama, 51 anos, nascido em Honolulu, Havai, filho de um queniano que ganhou uma bolsa para estudar nos EUA e de uma antropóloga americana branca, do Kansas, será, a partir de hoje, o 17.º Presidente da história americana a tomar posse pela segunda vez, apenas o sétimo a iniciar segundo mandato no último século.
Perante 800 mil pessoas, o 44.º Presidente dos EUA começa, a partir de hoje, a segunda fase de um caminho que, ele próprio, traçou para oito anos.
Os primeiros quatro foram manchados pelo fantasma da Grande Depressão, da quase derrocada do sistema financeiro, do consequente impacto económico do pânico de 2007/2009, por um ambiente malsão em Washington, com um Partido Republicano demasiado contagiado pelo Tea Party, a ameaçar a tradição de consensos bipartidários na capital política americana.
Mas o período janeiro 2009/ janeiro 2013, que hoje termina, foi também valorizado por importantes vitórias do primeiro presidente negro da história da América: a travagem do pânico, o início da «longa estrada da recuperação», três anos seguidos de criação de emprego, aprovação da Reforma da Saúde tendencialmente universal, salvação da indústria automóvel do Michigan e do Ohio, eliminação de Bin Laden e de outros líderes da Al Qaeda, retirada do Iraque e do Afeganistão.
Alguns destes feitos políticos têm uma agenda associada que não é consensual e podem ser alvo de contestação subjetiva.
Na América, o Presidente é, em simultâneo, o representante do povo e um político com uma agenda ideológica, líder de um executivo que toma decisões discutíveis.
Essa junção mostra-se, muitas vezes, paradoxal. A forte contestação de que Barack Obama foi alvo junto da oposição republicana nestes últimos quatro anos não será saudável para a imagem pública do Presidente, que (à exceção dos dias seguintes à morte de Bin Laden, em que chegou a 60 por cento), nunca passou dos 53 por cento de aprovação.
É precisamente com esses níveis que Barack Obama arranca para a segunda fase da sua era. Terá chegado o momento de olhar para o legado.
Robert Samuelson, colunista do Washington Post, identifica a dificuldade da empreitada: «A questão do legado pode ser ainda mais difícil do que Barack Obama imagina. Neste início de segundo mandato, o Presidente tem uma agenda focada mas ainda não completamente clara: atingir a grande presidencial perante os americanos e perante os historiadores. E nisso é muito provável que ele possa falhar. Ele já é um presidente histórico, por ser o primeiro presidente afro-americano da história da América. Mas há uma grande diferença entre ser histórico e ser grande».
Os detalhes do plano Obama para os próximos quatro anos serão enunciados no discurso sobre o Estado da União, no próximo dia 12 de fevereiro.
O discurso de hoje, mais geral e menos politizado, deverá apontar para os valores fundadores da América, recuperando-os para a visão moderna que o Presidente projeta para esta segunda década do século XXI.
Barack Obama, o primeiro político americano que compreendeu que os EUA mudaram por completo a sua estrutura demográfica e, por arrasto, a sua mentalidade, falará, daqui a poucas horas, da sua forma de aprofundar esperança numa América diferente, diversa.
O registo do discurso de hoje favorece os pontos fortes de Obama: emoção, eloquência, dimensão histórica do momento.
Mas restam dúvidas sobre se o agora Presidente reeleito será capaz de atingir a tal «grandeza» que Samuelson enunciava. Se não aproveitar os últimos quatro anos para reduzir o fantasma da dívida e reforçar a liderança americana num Mundo cada vez mais influenciado pela China, os sucessos já conquistados podem ser esquecidos pelos livros de História. »
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