TEXTO PUBLICADO NO SITE DA TVI24.PT, A 15 DE JANEIRO DE 2013:
Será possível que o charme de Barack Obama convença, finalmente, os republicanos a quatro anos de cooperação?
Possível, é, mas continua a parecer muito difícil. O grande problema, acha Obama, é que os republicanos andam «demasiado preocupados com o que vão dizer a Fox News e o Tea Party para poderem ser persuadidos por mim».
A ideia, pelo registo, podia ter sido feita numa daquelas entrevistas que os Presidentes dos EUA dão a revistas de sociedade, fora do circuito político. Mas não: foi exposta por Barack Obama na última conferência de Imprensa do seu primeiro mandato.
Entre muitos assuntos relacionados com a preparação da sua nova Administração, aquele que terá sido o que dominou as preocupações do Presidente teve a ver com a questão que manchou parte dos seus primeiros quatro anos na Casa Branca: como resolver a atitude paralisante da oposição republicana?
Contra boa parte das previsões que foram sendo feitas nos últimos dois anos, Obama acabou por obter um triunfo convincente sobre Romney. E o Presidente deu mostras de se sentir duplamente legitimado para poder executar a sua agenda.
A grande questão, continua a achar Barack, tem a ver com a total falta de vontade do outro lado. Nalguns casos, nem será falta de vontade.
O Presidente não torneou a suspeita e verbalizou: «A razão pela qual, em muitos casos, o Congresso vota como vota, ou fala como fala sobre as posições que tomam nas diferentes negociações não tem a ver comigo, tem a ver com constrangimentos que os congressistas republicanos sentem em função das políticas que lhes impõem».
Obama foi mais longe: «Eles estão preocupados como o seu distrito, com o que se passa na zona onde foram eleitos. Acho que muitos republicanos, nesta fase, pelo que veem da energia que foi posta nalguns media em mostrar os republicanos que me demonizam e às minhas políticas, se sentem inibidos a cooperar comigo, ou até a socializar comigo. Vejam o que se passou na Florida com Charlie Crist».
A referência a Crist teve a ver com o abraço que, em público, o antigo governador republicano da Florida deu ao Presidente - e que lhe terá custado a nomeação do seu próprio partido para uma corrida ao senado em 2010. «Acho que casos como este fazem vários republicanos pensar: 'bem, é melhor ter cuidado com aparições em público com o Presidente, posso vir a ter problemas com os tipos do partido'...»
Mesmo nestes tempos de maniqueísmo político em Washington, é bom não esquecer que Obama foi o candidato das boas intenções bipartidárias em 2008. Ele não terá perdido por completo essas esperanças, mas o que passou a dominar foi o seu lado pragmático.
As negociações sobre o teto da dívida, no verão de 2011, foram outro marco na forma como o Presidente vê a possibilidade de compromisso com a oposição.
Obama ainda foi jogar golfe com o líder dos republicanos no Congresso, John Boehner. Mas uma coisa é conviver em ambiente informal com o adversário, outra é convencê-lo a deixar cair os seus dogmas: «Há um certo tipo de republicanos que vai beber limonada comigo e me aperta a mão amigavelmente. Mas depois junta-se a um ataque público selvagem contra mim», confessa o Presidente.
Esta ideia reforça a tese de que, em momentos como as negociações do verão de 2011 ou nesta crise da «fiscal cliff», Obama sentiu vontade sincera de Boehner («um bom tipo, gosto dele») em cooperar. Mas sentiu, sobretudo, que um congressista do Ohio, da «real America» se deixou chantagear pelo ódio que uma parte radical do Partido Republicano, desde o início, exalou contra Obama.
E isto resolve-se a jogar golfe e beber uns «whiskies»? Nos anos 80, entre o republicano Ronald Reagan, na Casa Branca, e o democrata Tip O'Neill, no Capitólio, ainda foi possível.
Três décadas depois, com uma aberração política chamada Tea Party a baralhar o jogo em DC, é bem mais complicado.
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