TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 2 DE JANEIRO DE 2013:
A 6 de novembro, os americanos foram chamados às urnas para tomar uma decisão.
Preferiam, na Casa Branca, um presidente que se batesse por uma sociedade que preservasse os fundamentos que levaram à criação da mais larga classe média do Mundo (Barack Obama) ou um presidente com uma visão que apontava para aliviar a carga fiscal dos mais ricos, supostamente para lhes dar a hipótese de reinvestirem na Economia a fortuna que acumularam (Mitt Romney)?
Os resultados foram claros: apesar dos enormes problemas económicos e sociais que se viveram nos últimos quatro anos, os americanos quiseram manter a rota iniciada por Obama em janeiro de 2009.
E, como muitas vezes repete o Presidente quando o impasse com os republicanos fica especialmente complicado de resolver, «as eleições têm consequências».
Desde esse dia, a festa da reeleição de Obama foi mitigada por um fantasma que ameaçava atirar a América para um «precipício orçamental» de efeitos terríveis.
Havia, mais uma vez, uma escolha clara a fazer. Para fazer face a três problemas gigantescos que surgiam, caprichosamente, no primeiro dia de 2013 (subida brutal de impostos; cortes dolorosos na despesa pública; atingir do teto da dívida), o Presidente propunha carregar fiscalmente os cinco por cento mais ricos, para manter os cortes fiscais para 95 por cento dos americanos «que situam na classe média ou entre os mais desfavorecidos».
Em contraste, a maioria republicana manteve-se no «mantra» de impedir qualquer aumento de impostos e, perante a necessidade de fazer face ao monstruoso défice americano, advogava cortes profundos nas despesas, incluindo em programas sociais.
Além da natural troca de argumentos políticos e comunicacionais, os últimos dias de 2012 foram marcados por um clima de «guerrilha psicológica» entre Casa Branca e Congresso.
Obama voltou a mostrar-se um magistral jogador de xadrez. Primeiro lançou o líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, que fez um apelo desesperado, a quatro dias do final do ano, para que se chegasse a um acordo que evitasse o desastre.
Depois, foi o próprio Presidente a entrar em cena, mostrando, por um lado, que era ele quem tinha os melhores argumentos e, por outro, a deixar claro que, mesmo no pior cenário, estava preparado para salvar os americanos do «abismo», com um plano B já estudado pelo Senado e um plano C que passaria por medidas executivas, de efeito imediato, da sua administração (que estavam ser estudadas pelo Departamento do Tesouro).
O acordo obtido, já depois da meia-noite de 1 de janeiro, no Senado deixa bem claro quem venceu este combate ideológico.
Muito por mérito da longa experiência política do vice-presidente Joe Biden, foi aprovado no Capitólio, por claros 89-8, um acordo que basicamente adia a questão dos cortes por dois meses (o que garante, aos dois milhões de desempregados que perderiam qualquer tipo de apoio, subsídios pelo menos até março), e prevê uma solução fiscal que, como Obama reforçou, «salva 98% dos contribuintes americanos e 97% dos pequenos empresários de qualquer aumento de impostos».
Menos esperada era a aprovação clara na Câmara dos Representantes (de maioria republicana), com 257 votos a favor e 167 contra.
Não se trata da solução final, a tal «Grand Bargain», porque mais uma vez adia o grande problema do corte nas despesas, mas ao aumentar de 35% para 39,6% dos impostos de quem ganha mais de 400 mil dólares/ano, dá um claríssimo sinal de que as eleições, afinal, têm mesmo consequências.
Barack Obama foi reeleito e tem, na crise da «Fiscal Cliff», a primeira grande vitória política sobre o Congresso republicano pós-eleições de novembro.
Será um augúrio de um novo clima de reconciliação para o segundo mandato? Na política americana, é sempre melhor duvidar.
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