TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 21 DE JUNHO DE 2013:
Quatro anos e 11 meses depois do discurso de julho de 2008, quando foi recebido na capital alemã, perante 200 mil pessoas em êxtase, como um Deus que acabara de descer à Terra, Barack Obama voltou a Berlim.
Nestes quase cinco anos, uma imensidão de coisas aconteceram. Obama passou de promissor candidato democrata a Presidente reeleito, com especiais dificuldades em arrancar, no segundo mandato, com as bandeiras com que se comprometeu com eleitorado americano.
Na Europa, a Alemanha passou de referência de estabilidade para um país que desperta impaciência e mesmo alguma intolerância, de quem a acusa de estar a promover um «castigo» à indisciplina orçamental dos países periféricos.
Em julho de 2008, Barack Obama confirmou o seu estatuto de «candidato mundial», que extravasa as fronteiras americanas e até tinha bem mais popularidade fora de portas.
Agora, em junho de 2013, a visita do 44.º Presidente dos EUA a Berlim significou coisas bem diferentes.
Por um lado, sublinhou a intenção de Obama de mostrar à Europa que uma boa parte das suas preocupações continuam a residir deste lado do Atlântico.
Apesar de Barack Obama ser, oficialmente, o primeiro Presidente americano a assinar textos e documentos em que aponta a Ásia-Pacífico como a principal prioridade estratégica dos EUA, a verdade é que, em boa medida, Obama continua a ser, também, um «presidente europeu». Não tanto como era Bill Clinton, claro, mas os tempos são completamente diferentes.
O «shift» americano para a Ásia-Pacífico tem mais a ver com receios do que com convicções. O crescimento da China obriga os americanos a tomarem especiais precauções no «rimland» asiático, zona onde os chineses se mostram cada vez mais fortes e ameaçadores.
«O cenário europeu é completamente diferente. Sem uma ameaça bélica real deste lado do Atlântico, as preocupações são outras.
A Europa sempre precisou do guarda-chuva americano para garantia a sua segurança. Começa, agora, a precisar também da ajuda financeira.
Esta nunca surgirá de forma direta, pelo menos nos moldes em que os EUA fazem a países em desenvolvimento ou a sair de processos ditatoriais. Mas pode conhecer outras formulações.
A plataforma de comércio livre que está a começar a ser desenhada entre EUA e Europa (lançada politicamente por Barack Obama no seu discurso de Estado de União, a 12 de fevereiro) é o primeiro grande passo neste «regresso europeu» dos EUA, promovido pelo seu Presidente.
O «comeback» de Obama a Berlim não teve o êxtase de 2008. Mas voltou a merecer atenção especial aos alemães. O Presidente dos EUA aproveitou o momento para recordar que americanos e europeus são herdeiros de uma cultura de valores comum. E incluiu a redução das armas nucleares nesse âmbito, prometendo diminuir em um terço do arsenal americano. O contraponto com a Rússia foi claro.
Ter Angela Merkel ao seu lado pode não dar grande popularidade a Obama nas opiniões públicas dos países da UE. Mas os europeus sabem que o poderoso parceiro do outro lado do atlântico continua a ser o nosso amigo mais fiável.
Nem tudo muda, mesmo quando tudo parece estar a mudar.»
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