TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 23 DE JANEIRO DE 2015:
Estamos a um ano do arranque oficial da corrida presidencial nos EUA: os
«caucuses» do Iowa são a 18 de janeiro de 2016 e as votações em New
Hampshire, primeiro estado com modelo de «primárias» estão agendadas
para oito dias depois, 26 de janeiro do próximo ano.
É certo que
Barack Obama ainda tem quase dois anos de mandato
pela frente (termina funções a 20 de janeiro de 2017), mas a partir de
agora as atenções sobre questões presidenciais norte-americanas ficam
divididas por dois campos.
Por um lado, os trunfos finais que o 44.º Presidente
parece disposto a querer jogar no tempo que lhe resta na
Casa Branca; por outro, os candidatos que, nos próximos meses, se forem
perfilando e avançando para a obtenção da nomeação presidencial de
democratas e republicanos.
Se as eleições presidenciais de novembro de 2016 fossem hoje, era bem provável que a disputa viesse a ser protagonizada por
Hillary Clinton e
Jeb Bush.
Em função do que dizem as sondagens, são esses os «frontrunners» de democratas e republicanos.
Mas quem acompanha minimamente a política americana sabe que isto ainda pode dar uma grande volta.
Mais do lado republicano, é certo. A luta nos democratas está de
tal moco centrada no avanço esmagador de Hillary Clinton (entre 50 a 60
pontos, algo que não parece reversível num ano, mesmo na política
americana),
Mesmo assim, é de esperar que apareça uma «sensibilidade» à
esquerda do «core» democrata, que represente quem considere que o
Presidente Obama cedeu demais junto dos republicanos, nestes dois
mandatos de presidência democrata.
Essa «sensibilidade» poderá ser representada pela senadora
Elizabeth Warren, do Massachussets, uma espécie de
«campeã» da esquerda americana no Capitólio, ao falar claro e em tom
direto e agressivo junto dos interesses de Wall Street e até do
Presidente Obama (de quem já foi forte apoiante, sendo agora algo
crítica).
O senador independente, mas na prática democrata,
Bernie Sanders, do Vermont, pode ser outro protagonista
dessa corrente à esquerda do «mainstream» democrata (boas ideias em
matéria fiscal e social), embora tenha muito menos condições de avançar
como alternativa do que terá Elizabeth Warren (mais conhecida a nível
nacional e com mais apoios).
Candidatos democratas duma área mais centrista só terão alguma
hipótese se, por razões que neste momento não se descortinam, Hillary
Clinton falhar: o «vice»
Joe Biden (possível herdeiro político da presidência Obama, mas com problemas de idade e estilo); o ex-governador
Martin O’Malley, do Maryland; o jovem hispânico
Julian Castro, filho de mexicanos, antigo «mayor» de San António, Texas e atual secretário da Habitação da Administração Obama; o governador
Andrew Cuomo, de Nova Iorque, talvez o mais provável beneficiário, num cenário improvável de não avanço de Hillary.
E ainda poderá haver alguém a aparecer, no campo democrata, à direita do «eixo Obama-Hillary»:
Jim Webb, antigo membro da administração Reagan, senador pela Virgínia, um dos estados-chave das corridas presidenciais.
Ao contrário do que acontece no campo democrata, em que há a
superfavorita Hillary Clinton, a corrida à nomeação republicana promete
ser longa e imprevisível.
Outro Bush?
Jeb Bush, filho e irmão dos últimos dois presidentes
republicanos, antigo governador da Florida, surge como o candidato mais
viável nesta altura. Tem algum avanço nas sondagens, mas nada que possa
ser considerado definitivo.
Diferente do irmão, mostrou na Florida ser um republicano moderado,
com ideias mais próximas dos democratas na área da Imigração (é casado
com uma hispânica), o que lhe poderá provocar problemas na época de
primárias (mas que lhe será muito útil na eleição geral, se lá chegar).
Já abandonou os cargos que tinham no setor privado (como consultor
do Barclays ganhava mais de um milhão de dólares/ano) e tudo indica que
vai mesmo avançar nos próximos meses.
Quem lhe poderá tirar a nomeação? Talvez
Mitt Romney, nomeado em 2012, que perdeu a eleição
geral para Obama, mas dá mostras de querer tentar terceira corrida. Em
2008 foi segundo, atrás de McCain. As sondagens não são más para ele,
apontam a tal necessidade dos republicanos escolherem um nome da ala
mais centrista e não muito à direita. Mas têm-se multiplicado as vozes
que avisam o ex-governador do Massachussets para o erro que poderá ser
uma nova tentativa, colando-lhe o rótulo de «loser». «Romney não deve
candidatar-se, isso seria voltar para trás. O Partido Republicano tem
outras soluções nesta fase», avisa George Will, na FOX.
A América não costuma ser um país de retrocessos, mas também é
verdade que, em eleições presidenciais, já assistimos a «comebacks»
notáveis...
Ainda numa área com boa possibilidade de captação de votos ao centro e até a algum setor democrata, pode aparecer
Chris Christie, o popular e carismático governador da
Nova Jérsia. Com fama de excessivo e credenciais de liderança, provou na
catástrofe de supertempestade de dias antes da eleição de 2012 que é
capaz de dialogar com o outro lado do campo político (e isso pode ser
importante para os próximos anos da política americana).
Com menos hipóteses de nomeação, porque muito à direita no espetro
político para uma eleição presidencial, estão outros nomes que se
preparam para avançar: o ex-governador do Arkansas,
Mike Huckabee; o senador pelo Kentucky
Rand Paul; o senador do Texas,
Ted Cruz; o senador da Florida, cubanodescendente,
Marco Rubio; o ex-governador do Texas,
Rick Perry.
Outros possíveis candidatos do lado republicano, mas não sendo muito provável que avancem, são
Paul Ryan, congressista do Wisconsin e vice do ticket de Romney em 2012;
Ben Carson, neurocirurgião negro; Scott Walker, governador do Wisconsin, que obteve boa vitória em novembro passado.
Nos próximos meses assistiremos, por certo, aos primeiros avanços oficiais e a grandes alterações na dinâmica da corrida.
O recente discurso de Obama no Estado da União, ao lançar desafio
ao Congresso republicano de taxar os mais ricos e beneficiar a classe
média para «uma economia que funcione para todos», pode, aliás, ser
trunfo para Hillary na nomeação e, sobretudo, na eleição geral: é que a
ex-secretária de Estado tem defendido, nos últimos anos, precisamente
essa via e reforçou isso mesmo na reação ao discurso do Presidente: «Ele
apontou o caminho para uma economia que funcione para todos», comentou
Hillary, a seguir ao State of The Union 2015.
Para já, pelo menos, Hillary e Jeb partem na frente: novo duelo
Clinton/Bush, 24 anos depois de um jovem governador do Arkankas
derrotar, em 1992, o Presidente republicanos em funções?
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