TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 19 DE JANEIRO DE 2015:
Tornar real para o americano comum a recuperação económica que os
Estados Unidos exibiram nos últimos anos e, muito em particular, nos
últimos meses.
No penúltimo
State of The Union
(Estado da União) da sua presidência, Barack Obama vai exortar o
Congresso a aprovar medidas que beneficiem 99% dos americanos, propondo
aumentos fiscais para os 1% mais ricos, ou seja, casais que ganhem acima
de 500 mil dólares/ano.
A tese, que dominou boa parte do primeiro mandato de Obama e foi
sendo adiada pelo «gridlock» com os republicanos, teria tudo para voltar
a emperrar, logo agora que o 114.º Congresso, iniciado há três semanas,
tem ainda maior maioria republicana e, pela primeira vez na era Obama,
também no Senado, já não apenas na House of Representatives.
Mas o crescimento económico acima do esperado (maior da última
década nos EUA) dá ao Presidente trunfo suplementar para insistir na
questão.
Em 2013, a ideia nova do SOTU (State of The Union) foi o acordo
comercial e estratégico com a Europa (que ainda está a ser negociado);
no ano passado, Obama lançou a
questão do aumento do salário mínimo
(já pegando nos bons índices económicos que se sentiam na altura nos
EUA, entretanto reforçados em valores acima do esperado, nos 12 meses
que passaram).
Para
2015,
prevê-se, assim, que o Presidente defenda uma União mais justa,
acelerando a Reforma Fiscal, que Obama acredita ter agora o seu momento
certo: taxação dos 1% mais ricos de modo a obter 320 mil milhões de
dólares na próxima década, a distribuir pelos restantes 99% dos
americanos; taxação sobre o passivo das 100 empresas mais ricas do setor
financeiro, para limitar a especulação.
Nas semanas a seguir à derrota nas intercalares, Obama reagiu ao
risco de insignificância política com ações presidenciais: Imigração,
acordo com Cuba, acordo ambiental com a China, proposta ao Congresso de
plano climático.
Essa atitude foi encarada pelos opositores como um abuso das
funções presidenciais, que naquele sistema são enquadrados pelo
contrapeso do Congresso.
Depois da reação agressiva, é de esperar que, terça à noite, Barack
Obama seja mais conciliador na primeira vez que se dirigir a um
Congresso totalmente dominado pelos republicanos.
Mas não uma conciliação defensiva: tudo indica, em função do que a
Casa Branca já foi libertando nas últimas horas, que o Presidente
desafie o Congresso a aprovar medidas que decorram dos bons dados
económicos apresentados pelos EUA em 2014: trimestre com maior
crescimento nos últimos 11 anos (julho/setembro, 5%), três milhões de
empregos criados ao longo do ano (o melhor registo da última década),
previsão de crescimento para 2015 de 3% (o maior da última década).
Ao mesmo tempo, a descida drástica do petróleo (estava há um ano
acima dos 90 dólares, está a caminho dos 40…) está a permitir também uma
baixa nos preços dos combustíveis, o que tem dado alívio adicional às
famílias americanas.
No plano externo, o Presidente deverá pedir apoio republicano à sua
luta contra o Estado Islâmico e, agora com mais foco, também contra o
perigo terrorista em solo americano e europeu.
E manterá agenda ideológica em temas como independência energética,
apoio a estudantes com dificuldades económicas e soluções para as
alterações climáticas.
A exatamente dois anos de sair da Casa Branca (o seu sucessor toma
possa a 20 de janeiro de 2017), e a um ano do último SOTU que endereçar,
este talvez seja o Estado da União mais relevante para o legado que
Barack Obama pretenda deixar.
Mais do que o Presidente «da mudança» ou da «reconciliação»
(retórica de 2008), Obama pretende agora ficar como o líder que relançou
a economia americana (os números estão aí a prová-lo) e que deu uma
nova oportunidade à classe média.
Sobre essa batalha, talvez os resultados finais só sejam conhecidos
no próximo mandato. Será tarefa para Hillary Clinton completar?
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