TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 16 DE JANEIRO DE 2015:
Faltam pouco mais de dois anos para que Barack Obama deixe a Casa Branca.
A 20 de janeiro de 2017, tomará posse o 45.º Presidente dos Estados
Unidos da América (que até pode ser a primeira mulher, caso vença
Hillary Clinton).
Se a isto acrescentarmos que 2016 será o ano da eleição
presidencial que definirá o sucessor de Obama (a partir de janeiro,
época de primárias, depois do verão campanha para a eleição geral, que
acontecerá em novembro), então concluímos que 2015 é mesmo o último ano
em que Barack Obama pode considerar-se como dono e senhor das atenções
na política presidencial.
Obama inicia o seu sétimo ano de presidência com riscos e oportunidades.
O principal risco é, por definição, os problemas que o campo
republicano, agora reforçado com o poder nas duas câmaras do Congresso,
lhe deverá infligir.
O «roteiro» que os republicanos já anunciaram para destruir o
acordo histórico Obama/Castro, de desanuviamento e aproximação a Cuba,
não deixa grande margem para dúvidas quanto a isso.
O controlo do Senado dá aos republicanos uma muito maior capacidade
de influenciar a política externa, com poderes decisivos na área do
financiamento e da aprovação de nomeações políticas.
Mas o Presidente, nos últimos meses, já sinalizou como pretende
contornar esse problema: as ações executivas unilaterais sobre Imigração
e aplicação do acordo com Cuba (hoje mesmo, dia 16 de janeiro, entraram
em vigor medidas que permitem viagens de americanos a Cuba e apontam
para o alívio do embargo).
E há outros riscos, claro: a coligação internacional que Obama se
dispôs a liderar, desde setembro, para travar e destruir o Estado
Islâmico não tem ainda os efeitos desejados e, em áreas da Síria, há
mesmo indicações que apontam para que o «Daesh» está a ganhar terreno.
Noutro plano de conflito, o recente ataque informático do ISIS ao
«twitter» e «youtube» do Centcom (US Central Command, principal
estrutura do exército americano), anunciando a instauração de um
«cibercalifado», durou meia-hora e foi mais simbólico que outra coisa
(os americanos apressaram-se a fazer um comunicado garantindo o sistema
central de informação não foi atingido e que os terroristas islâmicos
não tiveram acesso a qualquer documento que pusesse em causa a segurança
nacional), mas ficou o aviso.
Guerra longa, perigosa, mas necessária. E o facto dos EUA a
liderarem claramente deu mostras de que a tal visão de «retraimento» que
Obama parecia ter para a posição americana no Mundo tem balizas e deve
ser tomada em perspetiva.
O mesmo sucede com a ameaça russa. Obama prometeu travar o avanço
de Putin sobre a Ucrânia e nas zonas de jurisdição da NATO através de
sanções – e elas já se sentem de forma clara no estado débil da economia
de Moscovo.
Ao mesmo tempo, os EUA aceleram o crescimento económico: entre
julho e setembro de 2014, 5%, o maior dos últimos 11 anos; para 2015
está previsto crescimento anual de 3%, o maior da última década.
Dezembro de 2014 permitiu a criação de mais 252 mil postos de
trabalho, confirmando um ano com um total de três milhões de novos
empregos na América.
Depois de anos de narrativa de «declínio» económico, aí estão,
outra vez, os EUA a liderarem a recuperação económica internacional, no
preciso momento em que China, Brasil e Rússia (esses mesmo, os BRIC, tão
saudados até há poucos anos) dão preocupantes sinais de recuo no
crescimento (no caso brasileiro, podemos até falar de estagnação).
Independência energética e alterações climáticas
Noutras frentes, dois pontos importantes na agenda política da
reeleição de Obama terão em 2015 um ano decisivo para a sua consumação.
No caso da independência energética, multiplicam-se os sinais de que os
EUA são, cada vez, menos dependentes do petróleo estrangeiro, explorando
o gás de xisto e apostando nas renováveis.
Mais complexa é a questão das alterações climáticas, só enderaçável
num quadro de acordo ambiental alargado com outros países. Os últimos
meses de 2014 mostraram avanços, com o acordo com a China, mas o
Presidente Obama está agora a ter nova frente de batalha neste tema, com
um ambioso plano da Casa Branca no sentido de cortar entre 40 a 45 por
cento da emissão de gás metano na próxima década.
O acordo com a Europa
Certamente ainda não para assinar em 2015, mas com a negociação a
poder avançar nos próximos 12 meses, está o TTip, a parceria
transtlântica de comércio e investimento.
Anunciada como ideia forte de Barack Obama no discurso do Estado da
União em fevereiro de 2013, tem tido um longo e complexo processo de
negociação entre EUA e Europa, no sentido de se chegar, até ao final do
segundo mandato do 44.º Presidente da América, a um grande acordo que
estabeleça o maior espaço de comércio livre do mundo.
Não é um caminho fácil, tendo em conta diferenças grandes de
visões, hábitos e procedimentos de segurança, trabalho e garantias,
entre EUA e estados europeus.
Mas não deixaria de ser curioso que, depois de anos a ouvirmos que
Obama estava a ser o Presidente a fazer «shift» para a Ásia-Pacífico,
perante o objetivo de conter a ascensão da China, Barack terminasse o
seu segundo mandato assinando um grande acordo com a Europa.
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