TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.IOL.PT, A 21 DE JANEIRO DE 2015:
«Esta noite, viramos a página. A sombra da crise passou e o Estado da União é forte»
«Neste momento de mudança económica da nossa história, este país tomou
medidas fortes no sentido se adaptar a novas circunstâncias e para
assegurar que todos tenham oportunidades»
«O nosso desemprego está abaixo do que era antes da crise financeira»
«O veredicto é claro: a economia assente na classe média funciona. Expandir as oportunidades funciona»
«Desde 2010, a América pôs mais gente de volta ao trabalho do que a Europa, Japão e todas as economias avançadas juntas»
«Os custos dos cuidados de saúde estão em mínimos de 50 anos. Gente, isto são boas notícias, não são??»
«Vimos o mais rápido crescimento económico da última década, os nossos défices cortados em dois terços, a bolsa a duplicar»
«Desenhámos novos empregos para as nossas costas. Nos últimos cinco anos criámos mais de 11 milhões de empregos»
«Estamos mais livres do petróleo estrangeiro como nunca estivemos nos últimos 30 anos»
«Lideramos melhor quando combinamos poder militar com diplomacia forte»
«Nenhuma nação estrangeira, nenhum hacker pode ser capaz de bloquear as
nossas redes, roubar os nossos segredos comerciais ou invadir a
privacidade das famílias americanas, especialmente das crianças»
«Demos aos nossos cidadãos e às nossas escolas, infraestruturas e a
Internet – ferramentas que precisaram para chegar tão longe como o seu
esforço lhes permitiu»
«Estas ideias não farão toda a gente rica. Essa não é tarefa de um governo. Mas, sabem, são coisas que vão ajudar muito»
«Há demasiadas pessoas que beneficiam do gridlock. Mas continuo a não ser cínico. Acredito mesmo que somos só um povo»
BARACK OBAMA, Presidente dos Estados Unidos, discurso sobre o Estado da União 2015
Barack Obama aproveita a recuperação económica para acelerar a sua agenda ideológica.
No seu penúltimo discurso sobre o Estado da União, o primeiro
perante um Congresso totalmente ao hostil (depois da arrecadação pelos
republicanos no Senado), o Presidente exortou as duas câmaras do
Capitólio a acompanhá-lo no plano de taxar os 1% mais ricos e as
principais empresas financeiras, de modo a financiar mais apoios à
classe média e ajuda aos mais necessitados.
Premiar o trabalho, taxar os capitais de maior risco, reforçar a
ideia de que o crescimento económico tem que ter mais consequências no
benefício do americano comum.
Foi neste tom que Barack Obama falou no dia que marcou o início do
seu sétimo ano de presidência (fez esta terça seis anos que tomou posse
pela primeira vez e faltam exatamente dois anos para abandonar a Casa
Branca).
Os americanos parecem acompanhar a ideia do Presidente.
Sondagem da CBS News, à pergunta sobre se o governo deve «fazer
mais para reduzir o fosso entre os mais ricos e os mais pobres», 55%
disseram que sim e apenas 39% consideraram que não.
Mais uma vez, o tema divide as opiniões partidárias: entre os
democratas, 80% acham que sim e apenas 15% apontam para o não; entre os
republicanos, 29% disseram sim e uma maioria de 65% não. Entre os
independentes, mais equilíbrio: 53% para o sim e 41% não.
A Educação e o apoio às crianças
Além do tema forte do combate à desigualdade, pela via de uma
Reforma Fiscal (para já, pelo menos, com alterações significativas nos
escalões fiscais), o Presidente aproveitou este State of The Union para
reforçar aposta em questões como o apoio às crianças e programas com
benefícios para estudantes e créditos, pela via orçamental, a famílias
menos endinheiradas que tenham filhos.
A Economia está a ser o principal trunfo para esta estratégia do
Presidente de pôr mais dinheiro no bolso do americano comum pela via
fiscal. No último ano, foram criados três milhões de empregos (o melhor
desempenho desde os anos 90, lembrou Obama) e no terceiro trimestre de
2014 registou-se crescimento de 5% (o melhor valor dos últimos 11 anos).
O ciberterrorismo e a ameaça do Estado Islâmico
Dias depois de um ataque informático do Estado Islâmico ao US
Central Command, principal estrutura do exército americano (durante meia
hora, foi «proclamado» um suposto cibercalifado nas páginas das redes
sociais do Centcom), o Presidente Obama endereçou também a questão da
cibersegurança, dando importante enfoque ao tema.
Agora que os republicanos dominam o Senado (câmara essencial para
aprovar questões de política externa), o Presidente fez questão de
envolver o lado oposto na batalha comum contra o terrorismo islâmico e a
defesa da segurança nacional.
Obama lançou frases fortes para tentar mostrar que a América está
preparada para resistir ao ciberterrorismo, depois dos casos da Coreia
do Norte/Sony e do tal ataque do «Daesh» ao Centcom: «Nenhuma nação
estrangeira, nenhum hacker pode ser capaz de bloquear as nossas redes.
Ninguém pode roubar os nossos segredos comerciais ou invadir a
privacidade dos americanos»
O Presidente pretende a autorização do Congresso para usar a força
contra o Estado Islâmico, o que indica a possibilidade de se estar a
preparar uma operação com o envolvimento de tropas no terreno (não
necessariamente só americanas e por isso o Presidente falou em
«coligação de forças»), ao contrário do que até agora aconteceu (desde
setembro, a campanha de contra-terrorismo liderada pelos EUA prevê
apenas ataques aéreos, o que não obrigou a autorização do Congresso).
Ainda sobre o combate ao «Daesh», Obama esclareceu que «os Estados
Unidos apoiam a oposição moderada na Síria que nos possa ajudar nessa
tarefa», deixando, assim, claro, que não admite uma aproximação a Assad
para enfrentar o inimigo comum.
A visão de Obama sobre política externa implica uma «forma mais inteligente de assumir a liderança internacional».
«Liderámos melhor sempre que combinámos poder militar com
diplomacia forte; quando equilibramos o nosso poder com construção de
coligações; quando não deixámos que os nossos medos nos ceguem perante
as oportunidades que este novo século nos oferece. E isso é exatamente o
que temos feito agora, ao longo do globo -- e é isso que está a fazer a
diferença».
O convidado vindo de Cuba
Um dos convidados especiais do Presidente foi Alan Gross, antigo
prisioneiro americano em Cuba. Obama puxou dos galões, lembrou a
dimensão histórica do acordo com Castro e exortou o Congresso de maioria
republicana a tornar real o levantamento do embargo.
«O acordo com Cuba respeita valores democráticos e acaba com um
erro de 50 anos. A diplomacia é um trabalho de pequenos passos. E este
pequeno passo pode ajudar a dar uma nova esperança ao povo cubano»,
insistiu o Presidente.
Obama reafirmou vontade de fechar Guantánamo, insistiu na tecla das
alterações climáticas («2014 foi o ano mais quente de sempre. Sei que
um ano não faz uma tendência, mas 14 dos 15 mais quentes aconteram
nestes 15 deste século e isso já é uma tendência»), mostrou que se deve
ter «cuidado no uso de drones» e lembrou, a terminar: «Não tenho mais
campanhas para fazer, Sei isso porque ganhei as duas em que participei.
(...) A minha única agenda é apenas a de fazer o que acredito ser o
melhor para a América».
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