quarta-feira, 8 de junho de 2016

Histórias da Casa Branca: sim, vai mesmo ser Hillary


Está confirmado: Hillary Rodham Clinton será a primeira mulher a chegar à eleição geral, na corrida à Casa Branca, ao ter mais do que garantida a nomeação presidencial do Partido Democrata.



A exatamente cinco meses do duelo com Donald Trump (será a 8 de novembro), a questão do lado democrata ficou complemente decidida, apesar da recusa de Bernie Sanders de encarar a derrota: «A luta continua!», insiste o senador do Vermont.

Mas como, Bernie, se Hillary já vai nos 2800 delegados garantidos (e só precisa de 2.383 para a nomeação na convenção)?

Em Brooklyn, Nova Iorque, acompanhada da filha, do genro e do marido, Bill Clinton, 42.º Presidente dos EUA, a possível 45.ª Presidente dos EUA proclamou vitória na corrida à nomeação democrata, falando numa altura em que ainda não se conheciam os resultados na Califórnia.



Horas depois, as melhores expetativas de Hillary confirmavam-se: venceu claramente na Califórnia (57/43 com 85% dos votos contados), esmagou na Nova Jérsia (63/37) e ainda venceu no Novo México (51.5/48.5) e Dakota do Sul (51/49).

Sanders ganhou no Montana (56/44, o que apenas lhe valeu mais um delegado do que Hillary na distribuição proporcional, 10-9), no Dakota do Norte (64/26, 13-5 em delegados) e recusa-se a desistir.

Faz mal: ao não aceitar as evidências, sobretudo depois de perder tão claramente a Califórnia, corre o risco, como notou um congressista democrata apoiante de Hillary, citado pelo Politico, que pediu o anonimato, «se Bernie Sanders perder a Califórnia e, mesmo assim, continuar na corrida democrata, será lembrado não como um campeão das ideias progressistas, mas como apenas mais um político narcisista».

É essa a posição, neste momento, da esmagadora maioria dos elementos do Partido Democrata: Sanders perdeu as últimas oportunidades de contestar realmente a nomeação de Hillary («ganhe a Califórnia ou saia do caminho…», foi o aviso de vários democratas notáveis a Sanders nos últimos dias) e por isso chegou o tempo de deitar a toalha.




Até Obama tenta demover Sanders

Até o Presidente Obama está a dar esse sinal ao senador do Vermont: Barack chamou Bernie para uma conversa esta quinta-feira na Casa Branca, possivelmente para lhe dizer que este é o momento de conceder a derrota e juntar esforços em torno da futura nomeada do Partido Democrata, de modo a preparar a eleição geral e reforçar as possibilidades de Hillary frente à ameaça Donald Trump.

Obama deverá lembrar a Sanders que, há precisamente oito anos, em junho de 2008, Hillary teve um gesto de concessão que agora deveria ser replicado por Bernie.

Numa disputa ainda mais cerrada do que foi esta, a então senadora Clinton admitiu que perdeu a nomeação para Obama e, num comício realizado simbolicamente em Unity, proclamou o armistício com o futuro nomeado, ajudando-o a chegar à Presidência.



Mas, então, porque é que Sanders não faz agora o mesmo?

«Vamos continuar esta corrida, vamos partir para as primárias em Washington DC na próxima terça-feira e vamos até à convenção de Filadélfia!», lançou Bernie.

Sanders lembra que o apoio maciço dos superdelegados a Hillary (571 para apenas 48 com Sanders) só pode ser concretizado a 25 de julho, já em Filadélfia e que, até agora, se trata apenas de uma indicação que o senador pretende reverter.

Mas a tese não tem qualquer fundamento: há oito anos, a confirmação de Obama, precisamente nesta altura, surgiu pela soma dos delegados eleitos com o apoio dos superdelegados e nem sequer Hillary se atreveu a colocar essa tendência em causa até à convenção.

E é importante esclarecer que, ao contrário do que o senador Sanders está a tentar fazer crer nos últimos dias, a vantagem clara de Hillary não se baseia apenas nos superdelegados.


Bernie foi extraordinário mas factos são factos: Hillary bate Sanders em todos os capítulos

É verdade que Bernie chegou muito mais longe do que qualquer analista previu no início desta corrida (partiu com 5% ou até menos e chega ao fim destas primárias com mais de 40% dos votos expressos dos democratas, o que é simplesmente notável para um candidato das suas características, septuagenário, socialista até há dois anos e com tantos anticorpos no ‘establishment’ do partido).

Mas factos são factos e convém não sermos iludidos pela gestão das perceções e das expetativas.

Sim, Hillary teve mais dificuldades do que se esperava para chegar à nomeação. Sim, ela perdeu em alguns estados onde era suposto ter ganho claramente (o Michigan e New Hampshire, só para indicar dois).

Mas aqui chegados, na reta da meta deste longo processo de primárias, eis que os números fundamentais nos mostram que Hillary bateu Sanders em todos os capítulos: mais 380 delegados eleitos (2230 contra 1850 de Bernie), mais 520 superdelegados do seu lado (570 para 50 do adversário), mais votos expressos (15,5 milhões para Hillary, 11,8 milhões para Bernie), mais estados ganhos (35 para Hillary, 25 Sanders, num total superior ao número de estados dos EUA devido às disputas em territórios como Porto Rico, Ilhas Virgens, Guam ou Samoa Americana).

Tudo isto somado, Hillary já vai com perto de 500 delegados acima do número mágico de 2.383 necessário para chegar a Filadélfia com a nomeação assegurada.

Como pode Bernie continuar a negar as evidências por muito mais tempo?


Hillary já pisca o olho aos eleitores Sanders… mas não será fácil conquistá-los a todos

No discurso de vitória desta madrugada, Hillary fez questão de acenar a Sanders, elogiando a «jornada extraordinária» do senador do Vermont e dos seus apoiantes, «especialmente os jovens». «Sem dúvida que Bernie e eu tivemos nesta campanha discussões muito importantes em questões como o apoio à classe média e sobre como dar mais poder aos cidadãos deste país», destacou Hillary.



A futura nomeada presidencial democrata sabe que, para vencer claramente Trump em novembro, será fundamental segurar o eleitorado Sanders, evitando uma tentação que parte desse eleitorado sentirá de cair para o lado mais «anti-políticos» e «anti-sistema» da retórica de Trump.

E convém não esquecer que o senador Sanders andou meses e meses a dizer cobras e lagartos sobre Hillary, sobretudo em relação às ligações dos Clinton «a Wall Street, à Goldman Sachs e às grandes corporações».

Como ainda não deitou a toalha ao chão, Bernie manteve esse registo crítico em relação à adversária democrata, mas a única evolução de Sanders, após a noite eleitoral que confirmou em definitivo a nomeação de Hillary, foi o sinal que deu aos seus eleitores, e de algum modo a todo o universo democrata também, de que «o grande objetivo em novembro será o de impedir que Trump seja presidente».

Terá sido este um primeiro passo para uma negociação mais vasta com o campo de Clinton, rumo a um possível apoio pós convenção de Filadélfia, talvez até com um acordo Hillary/Bernie para uma futura administração?

Há quem arrisque um ticket Clinton/Sanders para novembro, uma forma de evitar uma possível fuga de votos Bernie para Trump. Mas no atual momento da corrida, esse cenário parece muito pouco provável.

O grande objetivo de Bernie será o de condicionar até ao limite a agenda política de Hillary, forçando-a a levar para a eleição geral uma plataforma mais progressista e o mais crítica possível de Wall Street e do «business as usual».


Trump dispara contra Hillary mas ainda tem muitas arestas a limar com os notáveis republicanos

A confirmação de Hillary foi a grande notícia da noite (selada, na verdade, ainda antes do fecho das urnas na Nova Jérsia, pelo apoio de superdelegados suficientes para Clinton atingir o «número mágico» de 2.383, entretanto já escalado para lá dos 2.800), mas há outro vencedor a destacar: Donald Trump, esse mesmo.

Já com a nomeação republicana garantida há algum tempo, Trump aproveitou para reforçar votação nos estados em jogo (sem opositores no terreno, passeou vitórias com 76% na Califórnia, 81% na Nova Jérsia, 74% no Montana, 71% no Novo México, 67% no Dakota do Sul).



Donald tem agora 13,2 milhões de votos expressos (ainda assim, menos dois milhões que Hillary).

E a chave, para ele, será saber que percentagem conseguirá segurar, na eleição geral, entre os 7,6 milhões de votantes em Ted Cruz, os 4,1 de John Kasich e os 3,5 milhões de Marco Rubio (que teriam sido pelo menos o dobro se Marco não tivesse desistido após a derrota na Florida).

Nos últimos tempos, Trump tem tentado o que parecia quase impossível no início desta corrida, tendo em conta a agressividade desbragada com que falou sobre os seus rivais republicanos: está agora a tentar assegurar o apoio dos dirigentes do seu próprio partido, para poder ter uma aclamação pacífica na Convenção de Cleveland.

Esse objetivo já terá estado mais longe de ser atingido, mas continua a parece muito improvável.

Mesmo Paul Ryan, o «speaker» republicano do Congresso, voltou a criticar os «comentários racistas» de Donald a um juiz do Indiana, por ser de origem mexicana, isto apenas dias depois do próprio Ryan ter dado apoio a Trump, ainda que… muito a custo e com pouca convicção.




Sem valorizar muito estas nuances, Donald vira agora toda a sua artilharia contra Hillary e promete «um discurso nos próximos dias a denunciar todos os problemas e defeitos dos Clinton. São muitos, posso garantir-vos!»

Para tentar abafar a proclamação de Hillary, Trump voltou a prometer que vai «fazer a América grande outra vez» e que «vai criar empregos, empregos reais, como nenhum presidente conseguiu criar».

A exatamente cinco meses da grande eleição, o duelo Hillary vs Trump está ainda só a começar. As conveções partidárias do próximo mês de julho serão momentos importantes, mas serão ainda a meio de um verão que será, certamente, muito quente na política americana.


The race is on! 

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