sexta-feira, 25 de maio de 2012

Histórias da Casa Branca: A encruzilhada de Mitt Romney


Mitt Romney obteve, com relativa facilidade, a nomeação do Partido Republicano, mas terá dificuldades em satisfazer, ao mesmo tempo, o eleitorado do centro (de que necessita para bater Obama) e a ala direita do seu partido, que continua a olhá-lo com pouco entusiasmo





"Costumava achar que me colocava na zona tradicional do Partido Republicano, mas algumas coisas que tenho visto nos últimos anos fazem-me duvidar disso"

RUDY GIULIANI, antigo mayor de Nova Iorque, candidato à nomeação presidencial de 2008, criticando o excessivo peso das ideias do Tea Party no discurso dominante dos republicanos


"O Partido Republicano tem que encontrar o caminho do século XXI e não permitir um regresso ao século XIX"
 

JEB BUSH, ex-governador da Florida, irmão e filho de antigos Presidentes republicanos



A encruzilhada de Mitt Romney

Por Germano Almeida





Mitt Romney ganhou as primárias do Partido Republicano com relativa facilidade, mas está longe de ser uma escolha óbvia para o campo conservador.

O eleitorado "blue collar" de estados como o Ohio, a Pensilvânia, o Minnesota ou o Colorado, que tanta importância vão ter para a eleição geral em Novembro, deu mostras, nas primárias, de preferir o discurso mais terra a terra de Rick Santorum -- ou, nalguns casos, mesmo a proposta anti-Obama mais agressiva de Newt Gingrich.

Acusado pelos segmentos mais populares de "elitista", "demasiado rico" ou até mesmo de estar desligado dos problemas do americano comum, Mitt Romney só obteve uma vitória clara nas primárias do Partido Republicano por, manifestamente, não ter concorrência à altura: os nomes que lhe poderiam ter feito frente optaram por não avançar (Rudy Giuliani, Chris Chistie, Paul Ryan, Sarah Palin, Mitch Daniels) e os que tentaram não tinham condições para sonhar com a nomeação: Santorum era demasiado à direita, mesmo para o eleitorado republicano; Gingrich era demasiado errático e imprevisível; Ron Paul sempre se posicionou de fora do "mainstream" e nunca poderia aspirar à Presidência dos Estados Unidos enquanto dissesse que a América deve retirar as suas tropas de tropas de todos os locais em que se encontra e que instituições como a Reserva Federal, as Nações Unidas ou a NATO deviam deixar de existir...

Sem apoios fortes nas bases republicanas, Romney compensou esse problema assumindo-se -- mês após mês numa corrida que, na prática, começou há dois ou três anos -- como o único candidato «elegível» contra Obama. O único que tinha uma máquina no terreno suficientemente forte para combater a bem oleada campanha de reeleição do Presidente. O único que poderia angariar fundos de campanha equiparáveis aos mil milhões esperados por Obama. O único que poderia ser visto pelo eleitorado do centro, pelos independentes (e até pelos democratas moderados) como capaz de roubar a plataforma maioritária de apoio que Barack Obama conseguiu formar em 2008.

Como encontrar o centro e satisfazer a Direita? Mesmo estando longe de ser um candidato amado pelas bases, Romney foi sustentando a narrativa de ser o «candidato inevitável».

Esta tendência foi sendo percebida, progressivamente, pelos 'tubarões' do Partido Republicano -- que, ainda que sem grande entusiasmo, foram declarando o seu apoio à nomeação de Mitt Romney: foi assim com George H. Bush; depois com John McCain (nomeado há quatro anos); mais tarde também com Bob Dole (nomeado republicano em 1996), Jeb Bush (ex-governador do Florida e nome desejado por alguns sectores republicanos para esta corrida de 2012), Mitch Daniels (governador do Indiana), Tim Pawlenty (governador do Minnesota e um dos principais candidatos no início das primárias), Nikki Haley (governadora da Carolina do Sul e uma das 'rising stars' do conservadorismo americano, que chegou a aproveitar a onda eleitoral do Tea Party em 2010) e, mais recentemente, até pelo ex-Presidente americano, George W. Bush.

Com a bênção da elite do partido, e os apoios declarados dos principais líderes republicanos no Congresso e dos governadores de estado, seria de supor que Mitt Romney teria caminho aberto para federar o campo conservador -- apostando apenas na vontade comum de «evitar um segundo mandato de Obama».

Mas não se prevê vida assim tão fácil para o ex-governador do Massachussets. As nove vitórias de Rick Santorum em estados do Sul e do Midwest nas primárias (e as duas de Gingrich, na Carolina do Sul e na Geórgia), são a melhor prova da dificuldade de Mitt em passar a sua mensagem centrista nos eleitorados do conservadorismo mais profundo.

Romney tem resistido em guinar à direita -- porque sabe que a chave da disputa com Obama está no eleitorado moderado, que definirá a sua escolha em torno de uma questão muito concreta: 'qual dos dois me poderá ajudar a ter melhores condições económicas?'

Mais mobilizado para as questões ideológicas, o eleitorado de Direita ameaça desmobilizar em alguns estados chave -- um facto que pode ser fatal para a aritmética eleitoral de Romney. Mitt sabe que só poderá bater Obama se ganhar no Ohio, na Pensilvânia, na Virgínia e no Michigan. Sem o apoio maciço dos segmentos mais à direita, nunca o conseguirá.

Nesta medida, não será de excluir que Romney escolha para vice-presidente uma figura com peso na ala conservadora, de preferência provindo de um estado importante para as contas eleitorais: o jovem senador Marco Rubio, da Florida, surge como um nome muito forte dentro destas premissas. Mas há outros: Nikki Haley, governadora da Carolina do Sul, ou o senador Rob Portman, do Ohio, reúnem também boas características para ajudar Romney a preencher um 'ticket' mais equilibrado.

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