quarta-feira, 9 de maio de 2012

Histórias da Casa Branca: Obama2012 - trunfos e cisnes negros



Barack Obama: depois de "change" ter sido a palavra mágica da eleição em 2008, o Presidente escolheu "forward" para a reeleição em 2012. Para a "mudança" prometida há quatro anos ter tempo para ser concretizada, é preciso que os americanos o deixem seguir em frente...




Obama2012: trunfos e cisnes negros


Por Germano Almeida

A menos de meio de ano de tentar a reeleição, Barack Obama aparece como favorito para a batalha de Novembro. 

As “intrade odds” que definem os critérios das apostas sobre quem será o próximo Presidente dos EUA dão-lhe 60 por cento de probabilidades de vencer a eleição, contra apenas 37 por cento de hipóteses para Mitt Romney – e em ano de disputa presidencial, por alturas da Primavera, esses indicadores não costumam falhar.

Há quatro anos, por exemplo, Obama tinha clara vantagem sobre McCain nos mercados de apostas – e essa tendência confirmou-se nas urnas.

É certo que 2012 tem sido, em vários domínios da política internacional, o ano de todas as dúvidas. Mas o quadro geral parece favorecer as hipóteses de Obama: na maioria das sondagens nacionais, surge à frente de Mitt Romney (embora a diferença pareça ter-se encurtado nos últimos dias, num certo efeito de reunião do campo republicano, depois de ter ficado claro que Romney será mesmo o nomeado); na contagem do Colégio Eleitoral (aquilo que verdadeiramente conta para a vitória em Novembro), aparece com uma vantagem de cerca 80 Grandes Eleitores (e já próximo dos 270 necessários para vencer); na disputa dos estados mais relevantes, está à frente de Romney nos principais (Ohio, Pensilvânia, Virgínia e Florida). 

A acrescentar a tudo isto, há uma certa percepção empírica de que um Presidente só não é reeleito quando há um forte sentimento de rejeição do eleitorado em relação não só à sua política, mas também à sua personalidade.
E o que se verifica em Obama é que, apesar de ter governado nestes últimos três anos e meio tão difíceis, e com tantas adversidades no plano económico, a verdade é que Barack se mantém com níveis de popularidade muito aceitáveis: como Presidente e, sobretudo, como político que mostra ter fortes credenciais como candidato. 

Obama tem, neste momento, uma Taxa de Aprovação de 47 por cento, no instituto Gallup: menos dois pontos do que George W. Bush quando tentou a reeleição (e conseguiu), mais sete do que Bush pai (que a falhou). 

Os diferentes estudos de opinião sobre os dois candidatos para Novembro vão mostrando uma curiosa dualidade: Obama bate Romney nas principais características pessoais e políticas (os americanos acham Barack “mais inteligente”, “mais confiável”, “mais preparado”, com “melhor domínio dos dossiês”, quando comparado com Romney) e o Presidente até vence em aspectos em que, geralmente, os democratas são considerados menos fortes que os republicanos (nas questões de Defesa, na Segurança Interna e no relacionamento com os militares). 

A firmeza mostrada por Obama na Operação Gerónimo (que redundou na morte de Osama Bin Laden) e no cumprimento das promessas de retirada do Iraque e do Afeganistão são trunfos de Barack em áreas que, antes da sua eleição para Presidente, eram vistas como possíveis calcanhar d’Aquiles de Obama como político.

Mas Mitt Romney aparece à frente de Obama num ponto que pode vir a ter uma importância transcendente em Novembro: a questão económica.
A narrativa do nomeado republicano passará, certamente, por mostrar que está mais preparado do que Obama para colocar a América no caminho da recuperação económica – e que a Administração Obama falhou nesse domínio, nos últimos três anos e meio.

As credenciais de Mitt como empresário de sucesso são reconhecidas pelo eleitorado americano. E se Obama tem vindo a conseguir marcar pontos em questões como ser um “commander-in-chief” à altura dos acontecimentos, a crise económica tem-no impedido de se assumir como um Presidente de sucesso nesse plano.

Os cisnes negros. E é aqui que entram os “cisnes negros” da reeleição de Obama. Depois de dois anos e meio de tempestade no plano económico, a Economia americana tem dado sinais de recuperação (ainda que lenta) nos últimos meses. Sobretudo no último meio ano, os dados sobre a criação de emprego têm vindo a apontar, mês após mês, uma recuperação consistente, a ponto de, nos últimos três anos, terem sido já criados, durante a Administração Obama, quase quatro milhões de postos de trabalho na América.

O problema é que, depois de uma tendência de criação de 200 a 300 mil empregos em média por mês, os últimos dois meses mostraram uma preocupante desaceleração: apenas 115 mil em Abril, bem menos do que os 170 mil previstos.

A taxa de desemprego, ainda que seja a mais baixa dos últimos três anos, ainda está nos 8.1% -- sendo sabido que, desde Roosevelt, nenhum Presidente americano conseguiu a reeleição com uma taxa acima dos 7.5%.
O desemprego é, por isso, o principal cisne negro com que Barack Obama tem que contar até Novembro.

Mas há outros: a pressão crescente de Israel em relação a um eventual ataque ao Irão, ainda antes das eleições; uma possível decisão desfavorável do Supremo Tribunal Americano sobre a Reforma da Saúde (a decisão sairá antes das eleições e se for negativa pode dar uma noção de retrocesso em torno da principal conquista legislativa do primeiro mandato de Obama); a subida dos preços do petróleo está a contribuir para a desaceleração da recuperação da Economia americana.

“Forward”. Ciente de que o quadro económico dificilmente lhe será muito favorável até Novembro, Obama já está a preparar uma narrativa de reeleição que transcende os meros indicadores económico e reforça a ideia de que «a mudança é difícil e necessita de tempo para ser concretizada».
Esta tese, que foi particularmente difícil de passar nos primeiros dois anos de mandato, começa agora a ser mais compreendida pelo eleitorado. Perante a oposição cega dos republicanos no Congresso, o Presidente está a marcar pontos na batalha da opinião pública.

Momentos como a aparição no programa de Jimmy Fallon, em que Obama explicou, numa ousada «slow jam session», ao eleitorado mais jovem que só não consegue resolver a questão dos empréstimos para a faculdade porque os republicanos no Congresso não deixam, podem ser a chave para que o Presidente contorne a noção de «paralisia política» em Washington e consiga convencer os americanos a darem-lhe mais quatro anos para protagonizar a «mudança».

Mais do que «change», a palavra mágica há quatro anos, o que está agora em causa é poder seguir em frente até Janeiro de 2017. Talvez por isso, a campanha de Obama escolheu para slogan a reeleição a palavra «Forward».

Sem comentários: