Barack Obama: depois de "change" ter sido a palavra mágica da eleição em 2008, o Presidente escolheu "forward" para a reeleição em 2012. Para a "mudança" prometida há quatro anos ter tempo para ser concretizada, é preciso que os americanos o deixem seguir em frente...
Obama2012: trunfos e cisnes negros
Por Germano Almeida
A menos de
meio de ano de tentar a reeleição, Barack Obama aparece como favorito para a
batalha de Novembro.
As “intrade
odds” que definem os critérios das apostas sobre quem será o próximo Presidente
dos EUA dão-lhe 60 por cento de probabilidades de vencer a eleição, contra
apenas 37 por cento de hipóteses para Mitt Romney – e em ano de disputa
presidencial, por alturas da Primavera, esses indicadores não costumam falhar.
Há quatro
anos, por exemplo, Obama tinha clara vantagem sobre McCain nos mercados de
apostas – e essa tendência confirmou-se nas urnas.
É certo que
2012 tem sido, em vários domínios da política internacional, o ano de todas as
dúvidas. Mas o quadro geral parece favorecer as hipóteses de Obama: na maioria
das sondagens nacionais, surge à frente de Mitt Romney (embora a diferença
pareça ter-se encurtado nos últimos dias, num certo efeito de reunião do campo
republicano, depois de ter ficado claro que Romney será mesmo o nomeado); na
contagem do Colégio Eleitoral (aquilo que verdadeiramente conta para a vitória
em Novembro), aparece com uma vantagem de cerca 80 Grandes Eleitores (e já
próximo dos 270 necessários para vencer); na disputa dos estados mais
relevantes, está à frente de Romney nos principais (Ohio, Pensilvânia, Virgínia
e Florida).
A
acrescentar a tudo isto, há uma certa percepção empírica de que um Presidente
só não é reeleito quando há um forte sentimento de rejeição do eleitorado em
relação não só à sua política, mas também à sua personalidade.
E o que se
verifica em Obama é que, apesar de ter governado nestes últimos três anos e
meio tão difíceis, e com tantas adversidades no plano económico, a verdade é
que Barack se mantém com níveis de popularidade muito aceitáveis: como
Presidente e, sobretudo, como político que mostra ter fortes credenciais como
candidato.
Obama tem, neste momento, uma Taxa de Aprovação de 47 por cento, no instituto Gallup: menos dois pontos do que George W. Bush quando tentou a reeleição (e conseguiu), mais sete do que Bush pai (que a falhou).
Obama tem, neste momento, uma Taxa de Aprovação de 47 por cento, no instituto Gallup: menos dois pontos do que George W. Bush quando tentou a reeleição (e conseguiu), mais sete do que Bush pai (que a falhou).
Os
diferentes estudos de opinião sobre os dois candidatos para Novembro vão
mostrando uma curiosa dualidade: Obama bate Romney nas principais
características pessoais e políticas (os americanos acham Barack “mais
inteligente”, “mais confiável”, “mais preparado”, com “melhor domínio dos
dossiês”, quando comparado com Romney) e o Presidente até vence em aspectos em que,
geralmente, os democratas são considerados menos fortes que os republicanos
(nas questões de Defesa, na Segurança Interna e no relacionamento com os
militares).
A firmeza
mostrada por Obama na Operação Gerónimo (que redundou na morte de Osama Bin
Laden) e no cumprimento das promessas de retirada do Iraque e do Afeganistão
são trunfos de Barack em áreas que, antes da sua eleição para Presidente, eram
vistas como possíveis calcanhar d’Aquiles de Obama como político.
Mas Mitt Romney
aparece à frente de Obama num ponto que pode vir a ter uma importância
transcendente em Novembro: a questão económica.
A narrativa do
nomeado republicano passará, certamente, por mostrar que está mais preparado do
que Obama para colocar a América no caminho da recuperação económica – e que a
Administração Obama falhou nesse domínio, nos últimos três anos e meio.
As
credenciais de Mitt como empresário de sucesso são reconhecidas pelo eleitorado
americano. E se Obama tem vindo a conseguir marcar pontos em questões como ser
um “commander-in-chief” à altura dos acontecimentos, a crise económica tem-no
impedido de se assumir como um Presidente de sucesso nesse plano.
Os cisnes negros. E é aqui que entram os “cisnes negros”
da reeleição de Obama. Depois de dois anos e meio de tempestade no plano
económico, a Economia americana tem dado sinais de recuperação (ainda que
lenta) nos últimos meses. Sobretudo no último meio ano, os dados sobre a
criação de emprego têm vindo a apontar, mês após mês, uma recuperação
consistente, a ponto de, nos últimos três anos, terem sido já criados, durante
a Administração Obama, quase quatro milhões de postos de trabalho na América.
O problema é
que, depois de uma tendência de criação de 200 a 300 mil empregos em média por
mês, os últimos dois meses mostraram uma preocupante desaceleração: apenas 115
mil em Abril, bem menos do que os 170 mil previstos.
A taxa de
desemprego, ainda que seja a mais baixa dos últimos três anos, ainda está nos
8.1% -- sendo sabido que, desde Roosevelt, nenhum Presidente americano
conseguiu a reeleição com uma taxa acima dos 7.5%.
O desemprego
é, por isso, o principal cisne negro com que Barack Obama tem que contar até
Novembro.
Mas há
outros: a pressão crescente de Israel em relação a um eventual ataque ao Irão,
ainda antes das eleições; uma possível decisão desfavorável do Supremo Tribunal
Americano sobre a Reforma da Saúde (a decisão sairá antes das eleições e se for
negativa pode dar uma noção de retrocesso em torno da principal conquista
legislativa do primeiro mandato de Obama); a subida dos preços do petróleo está
a contribuir para a desaceleração da recuperação da Economia americana.
“Forward”. Ciente de que o quadro económico dificilmente
lhe será muito favorável até Novembro, Obama já está a preparar uma narrativa de
reeleição que transcende os meros indicadores económico e reforça a ideia de
que «a mudança é difícil e necessita de tempo para ser concretizada».
Esta tese,
que foi particularmente difícil de passar nos primeiros dois anos de mandato,
começa agora a ser mais compreendida pelo eleitorado. Perante a oposição cega
dos republicanos no Congresso, o Presidente está a marcar pontos na batalha da
opinião pública.
Momentos
como a aparição no programa de Jimmy Fallon, em que Obama explicou, numa ousada
«slow jam session», ao eleitorado mais jovem que só não consegue resolver a
questão dos empréstimos para a faculdade porque os republicanos no Congresso não
deixam, podem ser a chave para que o Presidente contorne a noção de «paralisia
política» em Washington e consiga convencer os americanos a darem-lhe mais
quatro anos para protagonizar a «mudança».
Mais do que
«change», a palavra mágica há quatro anos, o que está agora em causa é poder
seguir em frente até Janeiro de 2017. Talvez por isso, a campanha de Obama escolheu
para slogan a reeleição a palavra «Forward».
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