O blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Histórias da Casa Branca: A viagem vai só a meio
"Barack Obama é uma máquina de esperança andante e falante. As pessoas vêem-no como o reflexo do que a América tem de maior e melhor. É como um espelho daquilo que as pessoas pensam que devíamos ser"
MARK McKINNON, democrata do Texas, antigo conselheiro de George W. Bush, quando explicava a John McCain porque preferiu estar do lado de Obama na eleição de 2008
"O que me difere de George W. Bush? Essa é uma lista comprida. Mas penso que a grande diferença é uma filosofia que diz que os Estados Unidos são a maior economia do Mundo, são a maior potência militar do Mundo, mas não podem resolver os problemas sozinhos. Penso que isso é fundamentalmente diferente da abordagem tomada por George W. Bush"
BARACK OBAMA, em entrevista ao Readers' Digest, Novembro de 2008, dias antes de ser eleito Presidente dos Estados Unidos da América
"Quando tivemos a primeira reunião de equipa de transição, dias depois da eleição de Barack Obama, e fomos postos perante a realidade cruel de estarmos a viver a pior crise desde a Grande Depressão dos anos 30, a primeira ideia que me veio à cabeça foi: 'será possível pedir uma recontagem'?"
DAVID AXELROD, principal conselheiro político de Barack Obama, no documentário "The Road We've Traveled"
A viagem vai só a meio
Por Germano Almeida
Em política, a memória é curta. Quatro anos passam num instante e o bombardeamento noticioso dos tempos que correm não ajuda a que se possa fazer uma filtragem correcta dos acontecimentos.
Convém, por isso, recordar alguns dados fundamentais, se quisermos fazer um historial do primeiro mandato de Barack Obama na Casa Branca.
No último trimestre de 2008, houve dois acontecimentos históricos com epicentro na América: a eleição de Barack Obama para a Presidência dos EUA e o eclodir de uma grave crise no sistema financeiro, com profundos efeitos de contágio a nível mundial.
Embora não directamente relacionados nas suas causas, estes dois acontecimentos interligaram-se de forma evidente.
A carga inspiradora da eleição de Obama parecia irremediavelmente comprometida pouco tempo depois. Nem foi preciso esperar pelo momento da tomada de posse: dias depois da eleição, e bem antes do "inaugural speech" de 20 de Janeiro de 2009 (perante 1,5 milhões de pessoas, em Washington), o quadro traçado pela equipa de transição ao Presidente eleito era assustador: a indústria automóvel de Detroit estaria «a dias de falir» se não houve forte intervenção federal; o sistema financeiro estava «a um passo do colapso», nas palavras de Tim Geithner, o secretário do Tesouro escolhido por Obama para herdar a «bomba-relógio» que havia que resolver em Wall Street e nos bancos.
Nem houve tempo para festejar a fantástica vitória eleitoral que Obama havia conquistado dias antes: o ambiente era de medo, a roçar o pânico. Havia que agir -- e, de preferência, rapidamente.
Lembrar o que já foi feito. Rahm Emanuel, braço direito de Obama na Casa Branca na primeira fase desta administração, recorda a delicadeza do momento e reforça os méritos do Presidente, no documentário "The Road We'Ve Traveled" (O Caminho que Já Percorremos), produzido pela campanha de reeleição de Obama, com realização de Davis Guggenheim e narração do actor Tom Hanks: «Barack quis saber qual era a primeira, a segunda, a terceira, a quarta e a quinta prioridade que era preciso atacar. E ordenou-nos: vamos a isso e vamos fazê-lo bem. Porque não temos alternativa».
«E é isso que adoro nele», observa Rahm, que entretanto abandonou o cargo de 'chief of staff' para assumir o posto de 'mayor' de Chicago (cidade onde conheceu Obama). "Barack tem uma incrível capacidade de identificar as coisas certas, sobretudo nos momentos em que isso é mais preciso. Quando o mais fácil era achar que o melhor era deixar Detroit ir à falência, como Mitt Romney escreveu, Barack Obama percebeu que era essencial salvar a indústria automóvel e preservar aqueles postos de trabalho".
Na mesma linha, Bill Clinton sentencia: "As pessoas não fazem ideia do que tinha acontecido à nossa economica e à nossa auto-estima se Detroit fosse à falência".
Obama, o Presidente conciliador e inspirador, foi forçado a ser, por isso, cruelmente pragmático nos primeiros meses da sua administração. No início, isso custou-lhe muitos pontos na Taxa de Popularidade -- e implicou uma guerra aberta com o campo republicano que ainda hoje perdura.
Mas, mesmo quando quem estava perto dele duvidava da possibilidade de se resolverem as coisas, Obama manteve o discernimento de chegar ao essencial, assumindo-se como um líder racional, que não se move pela emoção nem se deixa intimidar pelo medo ou pelas ameaças de uma oposição que lhe foi sendo cada vez mais feroz.
Ter tempo para completar o que falta fazer. O documentário de Guggenheim destaca os pontos mais críticos desta caminhada de três anos e meio -- e tem como eixo central a ideia de que Obama conseguiu evitar o pior e nunca perdeu o rumo das principais bandeiras: a Reforma do Sistema de Saúde, a retirada do Iraque e do Afeganistão, pôr-se do lado de quem, geralmente, não tem força política para fazer valer os seus direitos (revogação do 'don't ask, don't tell' que proibia homossexuais no exército americano; nomeação de duas mulheres para o Supremo Tribunal; aprovação de leis que obrigam à igualdade de salários para trabalho igual entre homens e mulheres; promoção legislativa de empréstimos comportáveis para universitários pagarem os seus cursos superiores).
Mesmo em tempo de crise económica e elevados gastos de guerra, Barack Obama foi capaz de avançar em matérias essenciais e cumpriu uma boa parte das suas promessas em temas que estiveram um pouco adormecidos da agenda mediática -- tão marcada pelos assuntos económicos, nestes úlitimos quatro anos.
É essa a ideia forte do documentário de 17 minutos, assinado por Davis Guggenheim: para compreendermos o primeiro mandato de Obama, temos que nos lembrar da dimensão histórica da sua eleição, mas também da dimensão assustadora da crise que então herdou.
Quase quatro anos depois, já muito foi feito -- mas resta imenso para cumprir. E isso só será possível se Barack for reeleito em Novembro. O mais provável é que a viagem vá apenas a meio.
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