Barack Obama e Mitt Romney: o duelo presidencial termina daqui a precisamente seis meses
Meio ano para o duelo Obama/Romney
Por Germano Almeida
Em domingo de segunda volta de eleições presidenciais em França, e ainda de eleições parlamentares na Grécia e na Sérvia, há uma outra data que está a ser pouco notada nos media internacionais: é que falta exactamente meio ano para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.
De hoje a seis meses, a 6 de Novembro de 2012, ficaremos a saber se Barack Obama consegue obter um segundo mandato, até Janeiro de 2017, ou se Mitt Romney, o mais do que provável nomeado do Partido Republicano, alcança o objectivo para o qual está a trabalhar há vários anos, desde que deixou o cargo de governador do Massachussets.
Será um duelo um pouco inesperado, se nos lembrarmos da força com que o Tea Party arrebatou a agenda mediática nos primeiros anos de Administração Obama – e que deixaria antever um candidato bem mais colado à ala radical do Partido Republicano.
Mas as últimas semanas confirmaram o que já parecia muito provável desde Fevereiro: que a nomeação de Mitt Romney será uma questão de tempo.
A ala mais conservadora do GOP (Grand Old Party) bem desejou uma opção que lhe desse mais garantias de radicalização do discurso e das prioridades, mas não houve condições para se encontrar uma candidatura viável.
Sarah Palin – que durante dois anos parecia ser essa candidata, tal a mobilização, os fundos angariados e o buzz mediático que conseguiu gerar – acabou por não avançar. Talvez por ter percebido que não iria resistir ao escrutínio de uma candidatura presidencial; talvez por sentir que a «onda» do Tea Party recuou claramente no último ano (na mesma medida em que a Economia americana foi recuperando e que a popularidade do Presidente Obama foi subindo para níveis já muito aceitáveis).
Bachmann, Perry, Cain, Gingrich…
Perante a falta de comparência de Sarah Palin (e também do ex-governador do Arkansas, Mike Huckabee, e do multimilionário Donald Trump), a partir do Verão passado foi uma autêntica roda-viva no campo mais conservador do Partido Republicano: primeiro Michele Bachmann, uma espécie de Sarah Palin do Midwest e o sabor do final do Verão de 2011. A congressista do Minnesotta, que recusa o aborto mesmo em casos de violação, ganhou a Ames Straw Poll e entusiasmou a base radical nos primeiros meses da corrida.
Mas não tinha consistência política nem apoios nacionais para prosseguir e o péssimo resultado no seu estado natal, o Iowa, foi suficiente para que se decidisse pela desistência.
Uma hipótese a levar mais a sério parecia ser o governador do Texas, Rick Perry. Avançou no final do Verão, saltou para a frente da corrida, com uma argumentação dura contra Obama, mas o modo desastrado como surgiu nos debates foi comprometedor.
Herman Cain e Newt Gingrich foram outros dois ‘frontrunners’ saídos do campo mais à direita. Cain não resistiu aos escândalos sexuais, Gingrich entrou pela fase das primárias, mas o seu estilo errático e antipático não se coadunou com as exigências de uma corrida presidencial americana.
Caminho aberto para Mitt
Esgotadas as possibilidades no campo mais à direita, Mitt Romney viu o caminho aberto para a nomeação. Apesar dos constantes problemas em agarrar a base conservadora. Apesar de sucessivos falhanços em estados mais ligados a sectores evangélicos, ou mais marcados por segmentos ‘blue collar’.
Sem adversários de peso na zona mais moderada do Partido Republicano – Rudy Giuliani, Haley Barbour, Chris Christie, Mitch Daniels e Jeb Bush não avançaram; Tim Pawlenty e Jon Huntsman falharam as respectivas candidaturas às primárias --, o caminho parecia estar definitivamente aberto para Mitt Romney.
Tinha o dinheiro averbado desde a campanha de 2008 (quando foi terceiro), tinha a experiência de há quatro anos, tinha os apoios da maior parte dos notáveis do Partido Republicano (a família Bush, John McCain e os principais governadores de estado).
O caminho acabou mesmo por estar aberto para Romney, mas antes ainda teve que anular um inesperado fenómeno: Rick Santorum.
O ex-senador da Pensilvânia, católico e ultraconservador, começou quase despercebido nesta longa corrida: tinha dois ou três por cento nas sondagens. Nos primeiros debates, há mais de um ano, quando ainda havia sete candidatos republicanos, quase nem lhe davam a palavra.
Só que os principais candidatos republicanos foram caindo e Santorum foi mostrando uma especial capacidade para mobilizar os sectores mais à Direita no Partido Republicano. Segmentos que não se entusiasmam particularmente com Romney e que fizeram tudo para adiar a «inevitabilidade» de Mitt.
Chegou para vencer nove estados (sobretudo no Sul, mas também no Midwest), mas não era suficiente para equacionar um cenário de Santorum nomeado em Agosto, na Convenção Republicana de Tampa, na Florida.
Trunfos e cisnes negros
Uma consulta pela sondagens das últimas semanas faz-nos considerar que Barack Obama parte para este meio ano decisivo como favorito: tem vantagens confortáveis na maioria dos duelos com Mitt Romney – não só no voto popular a nível nacional, mas sobretudo no Colégio Eleitoral (apresenta númeos já próximos dos 270 Grandes Eleitores necessários para vencer, tendo vantagens em estados ainda em aberto).
A juntar a tudo isto, Obama continua a mostrar-se muito forte nos chamados ‘swing states’, sobretudo aqueles que costumam decidir a eleição geral: está claramente à frente de Romney no Ohio, na Pensilvânia, na Virgínia e na Florida (ainda que no ‘sunshine state’ com uma vantagem um pouco menor que nos primeios três).
Não por acaso, Obama iniciou oficialmente a sua campanha para Novembro em dois desses estados decisivos: o Ohio e a Virginia.
Apesar de todos estes trunfos, Barack terá que ter cuidado com três cisnes negros que não controla e que podem dificultar a sua estratégia: a subida do preço do petróleo, que está a arrefecer a recuperação da Economia americana (o desemprego continua a descer, mas nos últimos meses de forma mais ténue); no plano internacional, a pressão de Israel quanto a um ataque ao Irão ainda antes de Novembro pode ser um factor de perturbação para a Administração Obama, que tem tido na frente externa uma performance muito positiva; e ainda decisão do Supremo Tribunal americano quanto à Reforma da Saúde. Se essa decisão for negativa para o ObamaCare, isso pode transmitir um retrocesso em relação àquela que foi a principal conquista legislativa da Administração Obama, neste primeiro mandato.
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