Diferentes nos tons e nos apoios: Mitt Romney e Barack Obama são candidatos com pontos fortes muito distintos. O duelo tem um desfecho imprevisível, mas já se notam linhas definidas em ambos os campos
Obama ‘vs’ Romney: a luta por
segmentos e por estados
Por Germano Almeida
A
confirmação de que o adversário republicano de Barack Obama será mesmo Mitt
Romney está a aumentar o caudal de sondagens para Novembro – e vale, por isso,
a pena fazer uma primeira análise por segmentos e por estados ao que poderá vir
a acontecer daqui a cinco meses e meio.
O bounce de Romney nos últimos dias poderá
explicar-se pelo efeito unificador que as desistências de Rick Santorum, Newt
Gingrich e, mais recentemente, também de Ron Paul terão tido no campo
republicano, em torno da escolha de Mitt.
O ‘endorsment’
do ex-Presidente George W. Bush, declarado a 14 de Maio e que se junta aos
apoios anteriormente já declarados por George Bush pai, Barbara Bush e Jeb
Bush, reforçou a noção de que o ‘core’ do Partido Republicano acabará por se
unir em torno de Romney.
Mas um olhar
mais cuidado sobre o padrão das sondagens, nos últimos meses, que antecipam o
duelo Obama-Romney mostra um equilíbrio que deverá manter-se até próximo da
eleição de Novembro.
Obama, que
chegou a ter uma vantagem de quase dez pontos nas sondagens nacionais, viu esse
avanço desaparecer nas últimas semanas, em parte pela confirmação do triunfo de
Romney nas primárias republicanas e, possivelmente, também pela desaceleração
da recuperação da economia americana, nos últimos dois meses.
Há quem
considere que a declaração de Obama sobre ter passado a ser favorável ao
casamento dos homossexuais pode ter-lhe custado a perda de parte do eleitorado independente
– mas talvez seja cedo para tirar já essa conclusão.
Independentemente
das oscilações que as sondagens nacionais vão ter até Novembro, será importante
observar os sinais nos principais estados e nos apoios de Obama e Romney nos
diferentes segmentos.
Para já é só uma caricatura, mas daqui a menos de meio ano será a sério: o duelo Obama-Romney será equilibrado, independentemente das oscilações que as sondagens mostrarem nos próximos meses
O peso dos independentes. Há quatro anos, Barack Obama arrasou
em vários segmentos, conquistando uma coligação improvável, que o levou a
formar uma sólida maioria presidencial.
Em 2008,
Obama teve os votos de 96% dos negros, 68% dos latinos, 66% dos jovens, 65% dos
independentes e 56% das mulheres. Se Barack conseguir manter vantagens
confortáveis em todos os segmentos, dificilmente perderá a reeleição.
Mas não é
certo que o consiga, sobretudo nos segmentos dos independentes (que em
estados-chave estão desiludidos com o desempenho económico da Administração
Obama) e dos jovens (que apesar de, na sua maioria, continuarem a preferir
Barack a Romney, podem passar, em quantidade significativa, para a coluna da
abstenção, em sinal de protesto pela timidez da ‘mudança’ prometida por Obama
há quatro anos).
No eleitorado
feminino, Obama mantém uma sólida vantagem sobre Romney (na ordem dos 60-40) e
em relação ao voto hispânico, as incógnitas são bem maiores que as certezas:
Obama venceu há quatro anos em estados com fortíssima implantação latina, como
a Florida e o Colorado, mas desta vez a vitória do nomeado democrata não é
certa nesses terrenos.
Olhem para a Virgínia e o Indiana. Na análise por estados, há três
combates óbvios, cuja incógnita só será desvendada no próprio dia 6 de
Novembro, independentemente do que as sondagens vierem a dizer até lá: Ohio,
Pensilvânia e Florida.
Entre os ‘battleground
states’ tradicionais em duelos presidenciais da história moderna americana,
esses serão os três mais relevantes – pelo peso que têm no Colégio Eleitoral e
por ajudarem a apontar, com uma impressionante clareza, o vencedor da batalha
nacional.
O pós-título
atrás destacado não pretende, por isso, desfazer esse axioma que tem funcionado
com tanta precisão nas últimas décadas.
A questão é
que, em função das conquistas de Obama há quatro anos, os tais estados-chave
são, em 2012, ainda mais dos que os do costume.
A Virgínia e
o Indiana, dois estados tradicionalmente republicanos, foram ganhos por Obama
há quatro anos – e as sondagens mostram que podem voltar a cair na coluna
democrata, em 2012. A estratégia da campanha de reeleição de Barack está a
apontar para voltar a apostar forte neste tipo de estados, aproveitando,
também, alguns problemas que Romney acusa em fixar uma parte do eleitorado mais
conservador.
Já a
Carolina do Norte, também arrebatada de forma surpreendente por Obama há quatro
anos, deverá voltar a recair para o lado republicano.
Mas parece
claro, a menos de meio ano da eleição geral, que a ‘fifty state strategy’, tão
bem delineada e executada por David Plouffe e David Axelrod, os principais
estrategas da equipa de Obama, será para repetir.
Barack até
pode perder alguns dos estados que venceu em 2008 – desde que segure as vantagens que
mantém no Ohio, na Pensilvânia, na Florida, no Michigan e na Virgínia. Romney
tem uma aritmética eleitoral mais complexa: está obrigado a segurar todos os
estados ganhos por John McCain há quatro anos, é forçado a recuperar pelo menos
a Carolina do Norte (mas também o Indiana) e tem que vencer em vários dos
estados do Midwest que Obama monopolizou (Iowa, Colorado, Nevada, New Hampshire,
Wisconsin…) e onde volta a apostar muito forte.
Num artigo
publicado no New Republic, Ruy Teixeira, senior fellow no Center for American Progress,
defendeu que Obama tem boas hipóteses de arrebatar também o Arizona – estado considerado
como certo para os republicanos em campanhas presidenciais. Há quatro anos,
McCain venceu Obama no Arizona por uma vantagem de 8,5 pontos – mas terá ocorrido
o chamado ‘efeito McCain’, pelo facto de o então nomeado presidencial republicano
ser senador pelo Arizona há mais de 20 anos.
Ruy Teixeira
recorda que Obama venceu confortavelmente nos estados vizinhos (Colorado, Novo
México, Nevada) e se mantém com forte apoio junto do eleitorado hispânico. Se
Romney deixa escapar o Arizona para Barack, as contas dos republicanos, na
tentativa de evitar a reeleição de Obama, ficam praticamente comprometidas.
De acordo
com o mapa do Real Clear Politics, actualizado a 15 de Maio, Obama tem, neste
momento, 243 Grandes Eleitores, contra 170 de Romney – existindo um total de 125
Grandes Eleitores nos estados tecnicamente empatados.
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